sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Praça do Porquinho

Disse que te amava, te dei presentes, te acalmei quando você precisou, cuidei de você quando você ficou doente, te dei meu ombro quando você chorou, fiz mil esforços para te ver e falei milhares de bobagens para te ver sorrir. Mas a maior prova de amor que eu te dei foi outra.

A maior prova de amor que eu te dei foi te levar à Praça do Porquinho.

Eu me lembro de quando eu era pequeno e todos meus dentes eram de leite. Todos os sábados – e naquela época todos os sábados tinham sol –, meu pai me levava de metrô e ônibus ao Ibirapuera e passávamos as tardes lá.

Eu gostava de dar pipoca doce para os patos na beira da lagoa, tinha medo dos gansos, cruzava a ponte verde de metal batendo o pé para fazer barulho, visitava o Pavilhão Japonês e jogava comida para as carpas, via o pavão que ficava lá e torcia para ele abrir a cauda quando eu estivesse olhando... E no final de tudo sempre passávamos pela Praça do Porquinho, e eu fazia meu pai parar um pouco e ia olhar a estátua de perto.

Naquela época, esse passeio era o sentido da vida, o que me fazia esperar a semana passar. Naquela época, a felicidade era o sábado no Ibirapuera.

Um dia, uns 20 anos depois, eu quis te levar para fazer tudo isso também.

Tomamos mate na beira da lagoa olhando os patos, tivemos medo dos gansos, cruzamos a ponte verde de metal batendo os pés, fomos ao Pavilhão Japonês, eu te dei o meu pacote de ração de peixe depois que você (sem noção!) acabou com o teu, andamos pelo jardim procurando o pavão que já não existia mais.

E aí uma hora eu passei pela Praça do Porquinho e quis parar para ver a estátua de perto. Você achou engraçadinho, pediu para tirar uma foto e eu tirei duas. Uma na tua máquina, uma com a minha retina.

Um dia, uns anos depois e uns dias atrás, eu quis ir passear no Ibirapuera.

Andei sem rumo e passei na Praça do Porquinho.

Você ainda estava lá. De shorts, aquela sandália que eu gostava, blusa rosa, óculos de sol e brincando que o porquinho tinha comido o teu dedo.

A tua foto ainda estava lá. Na retina.

A Praça do Porquinho não era mais o lugar onde eu parava para olhar a estátua de perto quando eu era pequeno. A Praça do Porquinho é o lugar onde eu tirei aquela tua foto.