quarta-feira, 15 de julho de 2009

Branco

Essa página em branco me assusta.

Ainda bem que eu sei separar muito bem o pessoal do profissional. No trabalho, preciso de uma dezena de minutos para fazer um tá-tá-tá com os 10 dedos das mãos e preenchê-la. Escrevo tudo antes mesmo de digitar, fica tudo mais fácil. Piloto automático. A notícia vai para o ar, eu apago tudo e recomeço o tá-tá-tá. Em um dia cheio de expediente, venço o vácuo da folha do Word umas 20 vezes, até mais.

O problema é quando eu chego em casa, deito na cama e abro novamente essa página em branco. O conteúdo da página é o mesmo que dos meus pensamentos. Às vezes até tento quebrar o gelo e batucar um parágrafo. Não consigo ter continuidade. Paro, tento outro assunto. Nada.

Não gosto de inspiração, nunca acreditei muito nisso. É apenas falta de disposição, com o perdão da rima. Acho que isso se chama marasmo de idéias. Frescura, um ou outro diria. Preguiça, eu tenho enganar. Apenas não consigo.

Aqui em casa, quase 5 da manhã, meus pés sem meias estão gelados. Minhas pernas tremem entre a calça de moletom, assim como o resto do corpo, sob uma camiseta de manga curta. Deve fazer uns 7ºC lá fora, talvez seja o frio. Mas eu não estava tremendo assim antes de começar a escrever. Ou o vento derrubou a temperatura em uns 20 graus ou... sei lá.

Bom ou não, algumas idéias ameaçam surgir. Nada lá muito relevante, também. Imagino o que quero contar, mas não desenvolvo. Se um dia na vida eu achei que poderia fazer bico de escritor, acho que sou um péssimo produtor de idéias – que apenas viveu uma boa fase recentemente.

Houston, we have a problem.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A casa 32

Faz pouco mais de um ano, relatei aqui e aqui também um dos episódios mais tristes dos meus últimos anos. Para quem teve preguiça de clicar nos dois links, vou ser bem legal e fazer um resumão nas linhas a seguir.

Eu tinha uma antiga paixão argentina de infância que morou no meu condomínio há sete anos, até que um dia ela resolveu voltar para Buenos Aires. Ela voltou para o Brasil mais uma vez depois desse meio tempo, mas justamente no dia que tirou para me fazer uma surpresa e me visitar em casa, o gênio aqui estava em uma gandaia miada.  

Aí ano passado eu fui para Buenos Aires tirar as minhas primeiras férias do trabalho. Sabia de cor o endereço dela e, no meu segundo dia na capital argentina, peguei um ônibus e fui explorar Olivos, a cidade onde ela morava – na região metropolitana portenha. Detalhe que nos bolsos eu tinha nada além de uma grana curta e um Boletim de Ocorrência relatando meu assalto bisonho em frente à Casa Rosada naquela manhã (!!!). 

Então eu desci do ônibus, andei como um condenado até o número 32 da tal calle para constatar que nunca houve por lá um número 32. Voltei para o albergue, no centro de Buenos Aires, frustrado. Contei meu relato loser aos paraibanos que conheci por lá, ninguém acreditou. Talvez toda aquela gente arretada tenha ficado com dó de mim. Fato é que eu passei a imaginar que a antiga paixão argentina de infância nunca existiu. 

Mas um ano se passou até algumas semanas atrás, quando eu resolvi fazer uma limpeza geral no meu quarto – algo que eu não fazia há uns quatro anos. Joguei fora sacolas e sacolas de papéis, dentre outras coisas. Aí então puxei a última gaveta e encontrei lá um papel candidatíssimo à reciclagem. 

Olhei melhor aquela folha meio amassada e vi uns números de telefones anotados. Dos quase 50 números que tinha lá, acho que não falo com 40 daquelas pessoas. Estava prestes a fazer uma bolinha de papel quando olhei o verso: Antiga paixão argentina de infância – Roma, 662, Olivos. 

662. Maldito 662. Isso significava que eu tinha passado duas vezes na frente da casa da menina. E por que diabos eu tinha achado que o número da casa era 32? Simples: o CEP terminava em 32. Se minha memória fosse algo concreto, eu juro que a teria atirado da minha janela – não que o estrago de uma queda do primeiro andar fosse lá muito grande.

Não joguei fora aquele papel. E, novamente de férias do trabalho, não me arrisquei a ir para Buenos Aires. Faz de conta que a minha antiga paixão argentina de infância nunca existiu, mesmo. Assim eu me sinto menos idiota, também.