quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Momento celebridade

Redescobrindo Maria Esther Bueno
Thiago Tanji, aluno do 1º ano de Jornalismo

4/12/2009 - Projeto 14

A vida de Maria Esther Bueno, considerada a maior tenista brasileira de todos os tempos, foi o tema do livro-reportagem Maria Bueno – A mulher que colocou o tênis brasileiro no mapa, do aluno Felipe Held.

O livro foi avaliado pelos professores da Cásper Líbero, Cláudio Arantes e Gilberto Maringoni, e Odir Cunha, jornalista que já editou cinco revistas especializadas em tênis.

A ex-tenista, que hoje tem 70 anos, recusou-se a dar entrevistas para o aluno, o que dificultou a elaboração do projeto experimental. Além disso, havia poucas fontes vivas para consultar sobre as conquistas de Maria Esther, ocorridas nas décadas de 50 e 60.

Held consultou pessoas ligadas à vida da atleta, além de fazer uma extensa pesquisa em jornais e outros arquivos da época. Ele conseguiu, inclusive, um vídeo raro que continha dois jogos de Maria Esther Bueno, sendo um deles a final do Torneio de Wimbledon, em 1959.

“É um tema relevante, mas pouco explorado pela mídia”, disse Odir. “A pesquisa foi muito bem feita, com dados novos e extensa checagem das informações”, completou.

Cláudio Arantes impressionou-se que o aluno “tenha feito um trabalho de tamanha qualidade sozinho” e acrescentou: “Estamos diante de um jornalista completo”. Sua única ressalva foi a quantidade de detalhes da obra, que poderia ser enxugada em caso de publicação.

O professor Gilberto Maringoni também parabenizou o esforço de Held: “Eu não tinha ideia da dificuldade de conversar com a Maria Esther, mas você conseguiu superar isso. O livro está magistralmente bem escrito e é uma lição de jornalismo”.

Após todo o reconhecimento pela qualidade do texto, a banca deu nota máxima ao trabalho. Contando com a nota de qualificação do meio do ano, a média final foi 9,5.

* cópia descarada de http://www.facasper.com.br/jo/notas.php?id_nota=1145

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Daqueles que jornalizam

A exigência do diploma de jornalista caiu, qualquer um pode ser jornalista. Até o Chaves já foi jornalista. Não daqueles que jornalizam, mas vendedor jornaleteiro.

Eu também poderia ser considerado um jornalista. Trabalho há três anos em veículos de comunicação, no ramo de esportes. Mas o fato de estar matriculado (freqüentar é um termo muito relativo) em uma faculdade de jornalismo tornava questão de honra pegar o diploma que não vale mais.

Com as notas do quarto ano praticamente fechadas, restava apenas um desafio: apresentar o Único Trabalho Sério da Faculdade (vulgo TCC). Tudo já estava pronto desde o comecinho de outubro, revisado, re-revisado e re-re-revisado. E encostado na minha prateleira, sem ser aberto desde então – um erro de digitação qualquer me causaria um transtorno relativamente grande.

Depois de desencontros e outros problemas, a banca foi agendada para 4 de dezembro, exatamente dez anos após a morte da minha avó. Dia de sorteio dos grupos da Copa do Mundo. Sexta-feira. Um dia caótico, temperado por uma fina garoa que dominou o dia desde a hora em que eu havia acordado.

Mas fui lá apresentar. Peguei um ônibus na Eusébio Matoso, não peguei trânsito algum na subida da Rebouças e cheguei à Paulista. Obviamente, desci do coletivo na Consolação e fui a pé até meu destino – cheguei ao destino final, a Unigazeta, antes do próprio ônibus, com quase uma hora de antecedência.

A apresentação... bom, não cabe contar aqui o que se passou em 1h30 de falatório. Mas a nota de 8,5, com a qual eu já me contentaria e daria enormes saltos de alegria, foi acrescida de 1,5 na avaliação final da banca. Há dias em que a gente dá uma sorte do cão!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Insistindo no erro

É sempre bem interessante estar no seu canto e perceber que ao seu lado está uma pessoa que pode dar declarações e contar histórias bastante ricas para o seu ‘grandioso’ trabalho de conclusão de curso (cujo prazo de entrega está tão próximo quanto a relação África do Sul – Vanucci). Você está apenas tomando um chope escuro quando percebe que está a dois palmos de um grande empresário, com quem você descartou tentar contato, justamente por ser... um grande empresário sempre atarefado.

Pois bem. Era segunda-feira eu estava nesta situação, enquanto esperava ansiosamente por um papo com o Thomaz Koch e vi ao meu lado um homem do meu tamanho (vulgo baixinho), bem calvo e com o mesmo rosto que sorria para mim em um livro: Luís Felipe Tavares, ex-tenista e presidente da Koch Tavares (empresa que não tem nada a ver com o Koch, apesar do nome).

O evento estava superando – e muito – as expectativas, com a presença do Guga – perdi a entrevista que tinha feito com ele no começo do ano porque a besta aqui esqueceu de transferir o e-mail da conta do antigo trabalho, hoje já apagada. E poder falar com o Tavares... seria um lucro e tanto para aquela noite de segunda-feira.

Como bom empresário, o Tavares não saía do lado de várias pessoas. Conversava, ora sério, ora brincalhão, com muitas pessoas. Todos que passavam por ele faziam questão de cumprimentá-lo e puxar algum assunto. E eu esperava. Fiquei quase uma hora nessa delonga quando ele se aprontou para ir embora. Era a minha chance.

Abordei o homem, chamei-o pelo nome. Ele olhou para mim e lhe contei resumidamente sobre o que eu queria (resumir é algo em que tenho grandes problemas) e esperei a reposta dele. Achei que ele não tinha me entendido bem, ficou um tempo olhando. Então, surpreendentemente, disse: “Maravilha, garoto! Me liga amanhã, eu posso te receber em meu escritório um dia desses e a gente conversa”.

Aí foi a minha vez de ficar perplexo. Ora, eu sempre ouvi todo mundo dizer que o Ipe Tavares era um cara extremamente ocupado e dificílimo de se entrevistar. Mas se a chance caía no meu colo... por que não aproveitar, certo? Hum... quase.

Então ele tirou do bolso a carteira para me dar um cartão de visitas. Revirou toda a carteira e não encontrou. Pegou várias vezes os cartões de vários bancos. Fiz até uma piadinha falando que aquela ajuda poderia enriquecer muito o meu trabalho (ele não riu). Aí encontrou um – o último – cartãozinho e me deu. Agradeci, me despedi dele e voltei ao salão para esperar o Thomaz Koch.

Aí eu resolvi olhar o cartão do Luís Felipe Tavares. Estava escrito o nome de um outro homem, presidente de uma das maiores construtoras do Brasil. Mais uma vez, assim como fiz meses atrás com Pepe – Egídio Marques de Mesquita –, confundi as pessoas. Mula!

E olha que isso não foi o pior. Na tentativa de falar com o empresário errado, perdi a chance de entrevistar o Flavio Saretta e tocar uma pauta bem interessante que eu estava pensando, com chances de conseguir um furo até que interessante. Na hora não me importei. Só no dia seguinte, quando ele foi anunciado como técnico das categorias de base do tênis do Palmeiras, eu percebi a cagada dupla.

Ao menos acertei o Koch, que me desejou sorte nessa reta final de TCC. Ele não sabe, mas... como eu vou precisar!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Voz do tênis

Eu estava extremamente nervoso. Era uma manhã de quinta-feira, bem ensolarada. Mãos suavam, eu parecia mais principiante do que já sou. Estava prestes a fazer a minha primeira entrevista para o estafante TCC ao qual me propus solitariamente: recontar a vida da Maria Esther Bueno.

O meu entrevistado seria um jornalista especialista em tênis, que cobriu bastante o esporte durante a época áurea da Maria Esther. Bem gentil, me convidou para uma conversa pela manhã em seu apartamento, no Itaim. Tomei um café na padaria da esquina enquanto rabiscava, nas costas das minhas pesquisas, umas perguntas que faria a ele.

Às 10h55, paguei a conta, atravessei a rua e segui para o prédio. Tirei os óculos escuros antes de me identificar ao porteiro e subi. O jornalista – um senhor de muito boa aparência, olhos claros, cabelos brancos e uma cicatriz no lábio superior – me recepcionou muito bem, uma casa extremamente bem cuidada e gostosa de morar. Não sei se ele notou minha insegurança, mas me deixou bem à vontade.

Começamos a papear sobre Maria Esther Bueno. Ao fim de duas horas, acabei não o entrevistando. Conversamos bastante, e tive uma sutil impressão de que conhecia aquela voz. Ele ficou impressionado com a minha “vasta” pesquisa para o TCC, as 15 páginas com histórias que eu havia apurado em duas semanas de buscas. E, também, ficou maravilhado com uma edição de colecionador de uma revista que eu havia descolado nessas apurações.

“Infelizmente eu não vou poder ajudar em nada, Felipe. Você, definitivamente, sabe muito mais sobre a Maria Esther do que eu. Estou aprendendo demais contigo”, ele dizia. Depois de algumas dezenas de minutos de conversa, notei o quanto aqueles elogios. O Rui Viotti, dentre outras coisas, foi o narrador das finais do Guga em Roland Garros.

“Quero muito que você me convide para a sua banca de TCC, faço questão de ir para aprender mais com você”, disse o Seu Rui quando nos despedimos. Foi um incentivo e tanto para não desistir, muito embora a personagem principal do meu trabalho não tenha colaborado em nada.

Hoje, desligando o computador, vi no twitter do Sílvio Luiz que o Rui Viotti faleceu nesta segunda-feira, aos 79 anos, após passar dias internado. Teve uma infecção generalizada, não resistiu. Obviamente, fiquei chocado e estarrecido com a notícia inesperada.

Entretanto, vou dormir sem peso na consciência ou arrependimento por um motivo: vendo como ele ficou interessadíssimo com aquela revista de colecionador, tirei uma cópia de todas as páginas e enviei para ele, como um mero presente pela hospitalidade.

Nem sei se recebeu, na verdade. Prefiro pensar que sim, e que gostou. E que tenha, de fato, podido aprender um pouquinho com um moleque nervoso certo tempo atrás.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A cabeleira do Zezé

Coisas estranhas acontecem todo o tempo, e não ia demorar que algo de... ahn, bizarro se passasse comigo depois que resolvi dar liberdade à minha cabeça e deixar o cabelo ganhar alguns centímetros. Seguindo a tradição da família, os fios cresceram de forma nada sutil, porém lisa. Daqueles que esvoaçam com o vento – se o jornalismo não der certo, posso até tirar a barba e fazer comerciais de xampus, já que não uso condicionador.

Chega de besteira.

Estava dando um pulo no carro para pegar um papel que precisava ser enviado ao UOL para que eu ganhasse meu salário quando encontrei nas escadas uma vizinha velhinha do andar de cima. Gentil, segurei a porta para ela sair, embora quisesse me livrar de um possível papo o mais rápido possível.

Meu sorriso forçado, porém cativante (aham!), não deu certo. A velhinha quis saber com quantos anos eu estava (quase falei 19) e piriri. Aí disse que eu estava muito, muito bonito (algo me diz que a visão dela está afetada) e parecia muito mais jovem (definitivamente, estava afetada). Entre esses elogios, passou a mão no meu cabelo.

Fui para o carro com uma sensação estranha. Até porque, horas antes, eu estava andando pela Paulista após uma agradabilíssima manhã estafante na faculdade (esse negócio de mudar de período dá um trabalho!) quando uma mulher, já de boa idade, veio em minha direção. Ao chegar perto de mim, esticou as mãos e escorreu pelos meus cabelos e falou alguma coisa que eu, juro, não entendi. As pessoas em volta olharam espantadas, e eu mais ainda.

Estava prestes a afirmar que odeio que as pessoas passem a mão no meu cabelo e decretar que tal ato estava temporariamente proibido quando passou um flashback de cinco anos atrás. Eu estava completamente perdido em uma balada, tentando xavecar uma amiga minha extremamente gracinha, quando resolvi passar a mão no cabelo dela como uma aproximação e ela fechou a cara. Saiu de perto, até!

Dias depois, ela explicou a atitude que teve dizendo que tinha pavor que passassem a mão no cabelo dela. É óbvio que a gente nunca teve nada de mais, eu acabei começando um namoro meses depois e perdemos o contato. Um ano depois ela tinha admitido que era apaixonada por mim à época, eu tentei uma nova aproximação (sem mãos no cabelo) e fui novamente dispensado – sorte minha que, recentemente, uma amiga minha disse que ela tinha embarangado geral.

Cabelo é uma coisa estranha. E o meu, seguindo a família, não deve cair. Vai continuar, por muitos e muitos anos, cozinhar minha cabeça. Isso não deve fazer bem.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Linha de chegada

Acordei com o despertador extremamente cedo para o domingo (ainda eram 9 da manhã, acredita?). Entretanto, como precisaria ir trabalhar dentro de poucas horas, resolvi pouco a pouco lutar contra a tentação e fui recobrando a consciência.

As primeiras coisas que passaram pela minha cabeça vieram do rádio, da transmissão ao vivo da Fórmula 1: Rubens Barrichello estava a 12s do Hamilton e a uns 5s do Kovalainen. “Mais um dia sem a musiquinha da Globo”, eu pensei. Aí resolvi apertar o snooze e dormir por mais 10 minutos.

Esse curto período, obviamente, foi prolongado e multiplicado por 3. Resultado: só fui abrir os olhos novamente às 9h30. Relutantemente acordei de verdade, vivi 2 minutos de ócio e então lembrei que poderia ligar a televisão. Para minha surpresa, o Rubinho estava no segundo lugar, tirando vários décimos por volta em relação ao Hamilton, líder.

Resolvi acompanhar a corrida direito, e vi o Rubinho vencer a prova. Quando ele estava para cruzar a linha de chegada, aumentei o volume da televisão. Incrível como o tema da vitória da Globo me agrada tanto. Pois bem. Comemorei o primeiro lugar do Barrichello, tomei banho, almocei e fui para o novo trabalho.

A rua estava extremamente livre, e eu aproveitava para correr e minimizar o atraso já consolidado. Assim, quando virei da República do Líbano para a Hélio Pellegrino e vi a pista livre, engatei a quarta, depois a quinta... e então vi várias bandeiras tremulando para mim.

O que eu fiz? Bom... por um momento, transformei meu Uno em um Fórmula 1 com motor Merdeces-Benz. No meu capacete, estava escrito “Mané - see you on bar soon”. Baixei o vidro, ergui o punho cerrado e festejei minha primeira vitória na Fórmula 1, no circuito urbano de São Paulo. Não houve tema da vitória, do meu carro saía som de uma banda de rock argentino. Deu para disfarçar.

Então parei no semáforo logo à frente. Uma das mulheres que tremulou a bandeira para mim na linha de chegada me entregou um panfleto publicitário de mais um prédio que estava sendo construído pelas redondezas.

Coloquei os óculos escuros para não ser reconhecido. Afinal, basta a gente ganhar uma corrida que já vão querendo empurrar apartamentos luxuosos e etc.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aprendendo novos termos

Faz um mês e meio, mudei de emprego pela primeira vez na minha vida. Deixei de ser estagiário da Gazeta Esportiva.Net, onde eu ganhava toda a bolsa da faculdade e mais um bom troco de Vale Refeição e Vale Transporte, para ser colaborador do UOL Esporte.

Novidades, muitas novidades nesse período. Profissionais, pessoais, e extremamente financeiras. Não vou entrar em detalhes, mas estou me adaptando a um novo padrão de jornalismo, mais moderno e visual. Além disso, um outro ritmo de trabalho – ora mais, ora menos alucinante... enfim, tudo bacana que dá para tirar de letra (ou pelo menos, é o que eu acho).

Entretanto, depois de receber há alguns dias meu primeiro salário (é quase uma emoção pensar nisso), me deparei com algo que eu não esperava vivenciar tão cedo. Ao checar o depósito na minha conta do banco, percebi uma sensível diferença em relação ao que eu deveria ganhar. Achei normal, afinal eu não tinha trabalhado todo o mês de julho.

De qualquer maneira, comentei com alguém que entende disso muito melhor do que eu: a minha mãe. Não demorou muito, ela já apareceu com a resposta. “Foram R$ X a menos?”. “Sim, exatamente isso”. “Então, eles já descontaram 15% de Imposto de Renda na fonte. Agora, você vai ter que declarar tudo no ano que vem”.

Quando eu tinha uns 10 anos, dava graças a Deus por não ter que me envolver com Imposto de Renda. Com 17, percebi que isso era a maior roubalheira. Com 20, trabalhando já há dois anos, esqueci que isso existia. E agora essa coisa aparece na minha frente, de uma hora para outra.

Minha mãe tentou me explicar o que aconteceria comigo mais ou menos no ano que vem. Eu pegaria um extrato do que eu ganhei do UOL, declararia o que recebi... colocaria também alguns abatimentos, como faculdade e convênio médico... e depois poderia até aguardar a restituição da Receita Federal a partir de junho.

Levou algum tempo (imagino que levará uns meses, ainda) para eu digerir todas essas informações em itálico. Pelo menos, fiquei muito mais tranqüilo ao saber que a Receita não vai tirar de mim nenhum centavo que eu ganhar no meu novo emprego. Então... pensando bem, não vou me preocupar com todos esses novos termos. Penso nisso quando eu realmente precisar pagar Imposto de Renda.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Branco

Essa página em branco me assusta.

Ainda bem que eu sei separar muito bem o pessoal do profissional. No trabalho, preciso de uma dezena de minutos para fazer um tá-tá-tá com os 10 dedos das mãos e preenchê-la. Escrevo tudo antes mesmo de digitar, fica tudo mais fácil. Piloto automático. A notícia vai para o ar, eu apago tudo e recomeço o tá-tá-tá. Em um dia cheio de expediente, venço o vácuo da folha do Word umas 20 vezes, até mais.

O problema é quando eu chego em casa, deito na cama e abro novamente essa página em branco. O conteúdo da página é o mesmo que dos meus pensamentos. Às vezes até tento quebrar o gelo e batucar um parágrafo. Não consigo ter continuidade. Paro, tento outro assunto. Nada.

Não gosto de inspiração, nunca acreditei muito nisso. É apenas falta de disposição, com o perdão da rima. Acho que isso se chama marasmo de idéias. Frescura, um ou outro diria. Preguiça, eu tenho enganar. Apenas não consigo.

Aqui em casa, quase 5 da manhã, meus pés sem meias estão gelados. Minhas pernas tremem entre a calça de moletom, assim como o resto do corpo, sob uma camiseta de manga curta. Deve fazer uns 7ºC lá fora, talvez seja o frio. Mas eu não estava tremendo assim antes de começar a escrever. Ou o vento derrubou a temperatura em uns 20 graus ou... sei lá.

Bom ou não, algumas idéias ameaçam surgir. Nada lá muito relevante, também. Imagino o que quero contar, mas não desenvolvo. Se um dia na vida eu achei que poderia fazer bico de escritor, acho que sou um péssimo produtor de idéias – que apenas viveu uma boa fase recentemente.

Houston, we have a problem.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A casa 32

Faz pouco mais de um ano, relatei aqui e aqui também um dos episódios mais tristes dos meus últimos anos. Para quem teve preguiça de clicar nos dois links, vou ser bem legal e fazer um resumão nas linhas a seguir.

Eu tinha uma antiga paixão argentina de infância que morou no meu condomínio há sete anos, até que um dia ela resolveu voltar para Buenos Aires. Ela voltou para o Brasil mais uma vez depois desse meio tempo, mas justamente no dia que tirou para me fazer uma surpresa e me visitar em casa, o gênio aqui estava em uma gandaia miada.  

Aí ano passado eu fui para Buenos Aires tirar as minhas primeiras férias do trabalho. Sabia de cor o endereço dela e, no meu segundo dia na capital argentina, peguei um ônibus e fui explorar Olivos, a cidade onde ela morava – na região metropolitana portenha. Detalhe que nos bolsos eu tinha nada além de uma grana curta e um Boletim de Ocorrência relatando meu assalto bisonho em frente à Casa Rosada naquela manhã (!!!). 

Então eu desci do ônibus, andei como um condenado até o número 32 da tal calle para constatar que nunca houve por lá um número 32. Voltei para o albergue, no centro de Buenos Aires, frustrado. Contei meu relato loser aos paraibanos que conheci por lá, ninguém acreditou. Talvez toda aquela gente arretada tenha ficado com dó de mim. Fato é que eu passei a imaginar que a antiga paixão argentina de infância nunca existiu. 

Mas um ano se passou até algumas semanas atrás, quando eu resolvi fazer uma limpeza geral no meu quarto – algo que eu não fazia há uns quatro anos. Joguei fora sacolas e sacolas de papéis, dentre outras coisas. Aí então puxei a última gaveta e encontrei lá um papel candidatíssimo à reciclagem. 

Olhei melhor aquela folha meio amassada e vi uns números de telefones anotados. Dos quase 50 números que tinha lá, acho que não falo com 40 daquelas pessoas. Estava prestes a fazer uma bolinha de papel quando olhei o verso: Antiga paixão argentina de infância – Roma, 662, Olivos. 

662. Maldito 662. Isso significava que eu tinha passado duas vezes na frente da casa da menina. E por que diabos eu tinha achado que o número da casa era 32? Simples: o CEP terminava em 32. Se minha memória fosse algo concreto, eu juro que a teria atirado da minha janela – não que o estrago de uma queda do primeiro andar fosse lá muito grande.

Não joguei fora aquele papel. E, novamente de férias do trabalho, não me arrisquei a ir para Buenos Aires. Faz de conta que a minha antiga paixão argentina de infância nunca existiu, mesmo. Assim eu me sinto menos idiota, também.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Back to the 90's

Não gostam quando eu escrevo sobre futebol. So sorry.

Minha mãe me ligou terça-feira e me acordou, não lembro muito bem sobre o que ela queria falar. Percebeu a minha voz de sono, perguntou se eu estava dormindo. Respondi que sim. “Mas... filho, são quase 7 da noite. Você não vai para a faculdade?”. Disse que não: “Tem jogo do Palmeiras, mãe, o mais importante do ano”. Acho que ela entendeu.

Era Palmeiras x Sport, lá no Recife, pelas oitavas-de-final (com hífen, velha língua portuguesa) da Libertadores. A Globo não ia passar o jogo, tinha Ronaldo na quarta-feira pelo Corinthians (prato cheio). Como não tenho mais televisão a cabo já tem uns dois anos, apelei para aqueles sites que transmitem jogo ao vivo. O sinal do Sportv já estava congestionado, fiquei com um em espanhol.

Depois que o Palmeiras levou o 1 a 0 no finalzinho do jogo, fiquei de mau-humor. Quase morri quando ouvi a bola na trave que o Sport meteu nos acréscimos. A partida, então, foi para os pênaltis. Assim como ia há dez anos, quando eu via o jogo no sofá da sala ao lado do meu pai – nas fases finais da Libertadores, palavrões eram liberados. Peguei a camisa que ganhei de aniversário da minha namorada e voltei a ter 11 anos, na torcida.

O Marcos, então, pegou três pênaltis e classificou meu time para a próxima fase. Acho que nem na final do Campeonato Paulista do ano passado eu fiquei tão animado com meu time. Literalmente, voltei a ter 11 anos. Gritei pela janela, li todos os relatos do jogo em todos os sites esportivos. Usei camisetas do Palmeiras até o final da semana útil. Eu, que torcia pouco, lembrei o quanto era bom vibrar com o futebol.

A vitória sufocante coincidiu com a minha leitura d' Os Dez Mais do Palmeiras, do Mauro Beting. Naquele dia, ainda estava no perfil do Julinho Botelho. A cada página, lamentava por ter apenas 20 anos e não ter visto Ademir, Dudu, Luís Pereira, Djalma Dias, Djalma Santos e as duas Academias de Futebol jogar. Hoje, porém, cheguei aos perfis de Evair e Marcos, meus dois maiores ídolos no futebol (o terceiro é o Ronaldo, mas eu não conto para ninguém).

Lendo detalhes de todos aqueles jogos que eu via, tinha uma memória agradável. Assim que terminei a brilhante parte do Marcos, resolvi digerir a leitura e fui ver uns jogos de tênis para o meu TCC – e, embora eu soubesse o resultado final do jogo, também torcia a cada ponto para a Maria Esther Bueno 50 anos atrás.

Depois, abri o YouTube para ver alguns lances da Libertadores de 1999. Nos pênaltis da final, urrava ‘uuuhh’ quando o Marcos quase alcançou as cobranças 2 e 3 do Deportivo Cali. Xinguei o Dudamel, o goleiro venezuelano que marcou o primeiro dos colombianos. Comemorei a bola na trave na quarta cobrança. Respirei aliviado quando o Euller virou na quinta cobrança do Palmeiras. Na última do Cali...

... Eu quase tive vontade de sair na janela da sala e gritar ‘É campeão!’, como fiz na madrugada de 16 para 17 de junho de 1999, antes de abraçar meu pai. Eu, fechado no meu quarto, gargalhei sozinho. Meu olho marejou, mas é por causa da irritação da rinite dessa semana.

Quando o Marcos parar de jogar, no final deste ano ou em 2011, não vou ter mais ídolos no Palmeiras. Em 4 de maio do ano passado, meio bêbado nas arquibancadas, gritei ‘Fica, Valdívia!’, para consagrar o chileno no meu imaginário. Ele foi para o Catar. Apesar de empolgado com o time do Palmeiras, não vejo um outro grande jogador além do Marcos.

Agora, pensando bem... há duas semanas entrevistei o Dudu. Hoje me arrependo por não ter pedido um autógrafo pro Velhinho...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Já tirei a vela!

A pressão coletiva que sofri para voltar a escrever neste espaço, a começar pela minha mãe, culminou nesta segunda-feira em uma explosão de comentários neste blog. Mais do que isso, coincidiu com uma das minhas maiores barrigadas nesta curta e alongada carreira de estagiário.

Pois bem. Fui escalado para cobrir a obra-de-arte inaugurada no Parque das Bicicletas, ali no Ibirapuera, com uma sobreposição artística das duas traves que ficaram no Pacaembu de 1984 e 2007. O evento teria a participação de inúmeros ex-jogadores, e é aí que começa a minha barrigada.

Havia por lá um velhinho calvo, barrigudo e elegante. Não hesitei e comentei com o Ferrelli, o fotógrafo escalado para a pauta comigo. “Cara, é o Pepe” – aquele que da eterna dupla de mortais Pepe, Coutinho e Pelé (este, único imortal, se Deus quiser e pelo bem das redações de esportes do mundo inteiro).

Era o Pepe. E ensaiei uma pergunta bem legal para fazer em referência à final de ontem do Paulistão, com a vitória do Ronaldo por 3 a 1 sobre o Santos na Vila, sob os olhos do Rei. “Pepe, já tirei a vela! o Pelé que é pé-frio ou o Ronaldo que é pé-quente?”, eu perguntaria.

Pois bem. Acabei me aproximando do velhinho, escrevi “Pepe –” no meu bloquinho pronto para anotar as aspas dele. Esperei dois repórteres de um dos mais renomados jornais paulistas terminarem a entrevista com o velhinho para fazer a minha pergunta. Eles, claro, perguntaram sobre o primeiro e o último jogo do cara no Pacaembu, essas coisas.

Então chegou a minha vez. Não lembro bem a pergunta, mas ele respondeu que “apitou um jogo do Pelé em 1974”. Fiquei surpreendido, não sabia que o Pepe tinha sido árbitro. Técnico, sim, mas não juiz de futebol. Pois bem. Parti então para a segunda pergunta. Meio nervoso, floreei a questão.

“Pepe, já tirei a vela! você que foi o maior jogador da história do Santos – o Pelé não conta, como você mesmo diz –... Pepe...”,...

“Meu querido, eu não sou o Pepe”.
“Hum... ergh... urgh... humlml... não?”
“Não, eu sou o Emídio Marques de Mesquita, ex-árbitro”.
“Erm... putz, mil perdões, senhor Emídio, eu juro que pensei que fosse o Pepe”.
“Imagina, Felipe. Você não foi o primeiro e nem será o último a me confundir com o Pepe, hehe”.
“Bom... mas perdão, mesmo assim. E... muito obrigado”.

Baixei a cabeça e fui falar com o Ferrelli.

“Cara, eu sou uma mula”.
“Sim, mas por quê?”
“Sabe o Pepe? Não é o Pepe. É o Emídio de Mesquita”.
“Eu suspeitei pelo broche da Fifa no paletó dele...”
“Eu também, mas na hora pensei que era homenagem da Fifa a um ícone do esporte mundial”.
“Hahahaha”
“Humpf”.

Nada contra o Parque das Bicicletas (muito embora eu não saiba andar de bicicleta). Mas é a segunda vez em que alguma tragédia se passa comigo por lá. Em dezembro, entrevistei a Maria Esther Bueno e aproveitei para contar a ela a minha vontade de escrever a biografia dela como meu TCC. “Não, muito obrigada, eu não estou interessada”, ela disse.

Eu não gosto mesmo do Parque das Bicicletas. Humpf.

segunda-feira, 9 de março de 2009

A vida, um Yakult

Tenho uma dificuldade enorme em me adaptar a mudanças revolucionárias ou qualquer tipo de inovação que praticamente despreza a base anterior. Maior prova disso eu tive ainda na minha infância, quando a Pantera Cor-de-rosa, o Tom e o Jerry começaram a falar. Sem falar no novo design no Pica-Pau, ou outras inovações nos desenhos animados.

O problema é que nos últimos quase 21 anos, muita coisa mudou – não necessariamente para melhor. Até no meu trabalho venho passando por alterações gigantescas, mas isso não vem ao caso neste momento. Por mais retrógrado que possa parecer, venho percebendo ultimamente que me dou muito, mas muito melhor com o padrão original das coisas.

Se dependesse de mim, o Pica-Pau não seria aquele bicho aloprado dos últimos desenhos. O Doug Funny não teria tanta cara de babaca depois que foi comprado pela Disney. E a Pantera Cor-de-rosa nunca, nunca falaria. O máximo de voz ficaria pelos inaudíveis balbucios do cara narigudo e de bigode. Aquilo sim é que era desenho animado bom.

Não suporto mudanças drásticas, para falar a verdade. Minha adaptação custa um esforço enorme, paciência e blábláblá. Dá um trabalho enorme e, por mais que eu tenha a intenção de aceitar essas novas diferenças, fica aquela sensação de que o antigo ainda era mais legal.

A mais firme, interessante e leal prova de que as mudanças não estão com nada é o Yakult. Se não me engano, nos últimos 21 anos, o potinho de Yakult continua minúsculo, com a mesma tampa de papel alumino, e segue vendido em 6 unidades. A única alteração foi no formato da embalagem: antes, com duas filas e três copinhos, agora é apenas uma fileira. Mas isso não muda quase nada.

Dia desses, mudando de supermercado aqui perto de casa, acabei vendo uma promoção de Yakult – ainda estava mais caro do que Chamito ou qualquer imitação menos cara – e decidi levar pra casa. E não é que nem o sabor gostoso pra caramba do leite fermentado com lactobacilos vivos Casei Shirota mudou? Isso sim é que é estratégia de marketing: conservar o que está dando certo.

Todo mundo, inclusive eu, sonha com uma garrata pet de 2L de Yakult. Mas se a fórmula das garrafinhas com pouquíssimos e contados mL está dando certo, por que mudar? Deixa assim (até eu mesmo me contento e me adapto, fazendo um minúsculo furinho no papel para aproveitar ao máximo), que o Yakult vai ter vida longa. E sem nem precisar de publicidade – faz anos que eu não vejo um comercial na televisão.

Tudo deveria ser como um Yakult.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Momento de glória

A música Chariots of fire nunca fez tanto sentido para mim como naquela tarde. Estava quente, bem quente, quando dobrei a esquina da Brigadeiro Luís Antônio com a Paulista. Estava cansado, já praticamente exausto, mas respirei fundo e acelerei com a música ao fundo.

Não sei de onde tirei o último aquele último pique, mas respirei fundo e não parei mais de correr. Foram os 400 metros mais gostosos da minha vida, correndo pelo asfalto com a cabeça erguida, até cruzar a linha de chegada, arquear as pernas e respirar fundo antes de receber um copo d’água.

Instantes depois, o segundo colocado da corrida veio me cumprimentar. Deu os parabéns pelo meu sprint final, me parabenizou pela corrida de recuperação e pelo fôlego que eu esbanjei após correr 14 km. Apertei a mão daquela figura conhecida, com as orelhas quase do tamanho de toda a cabeça, e falei que ele que era um verdadeiro campeão.

Logo em seguida, tirei a camisa e me olhei no espelho. Deveria ter perdido uns dois, três quilos só naquela corrida. Olhei meu rosto, acabado, margeado por mechas do cabelo encharcado. Não lembro se sorri pela vitória.

Meu celular, então, tocou. Atendi, era o Mané me ligando para confirmar o almoço que tínhamos marcado há alguns dias. Eu não tinha nenhuma marca de cansaço na voz quando ele me perguntou se estava tudo bem: “Tô sim, cara. Acabei de ganhar a São Silvestre”, contei.

Tentei voltar a dormir e não consegui. Estava em êxtase por ter ganhado a prova mais tradicional do atletismo brasileiro. Passei mais dois minutos tentando reconstruir a cena que eu tinha acabado de presenciar e só fui notar que tudo não tinha passado de um sonho quando lembrei quem tinha sido o segundo colocado: o Lima Duarte.

Eu fui o vencedor da São Silvestre e o vice-campeão foi o Lima Duarte? Aí então eu percebi que aquele tinha sido o sonho mais bizarro da minha vida. E olha que eu nem contei da ultrapassagem que fiz sobre o Fernando Gaia Solera na subida da Brigadeiro...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Latrocínio de carros

Depois de quase um ano dirigindo meu humilde carro com o maior cuidado do mundo, não sei de onde apareceram nele hoje os dois primeiros riscos na lataria. Percebi pela manhã, saindo do clube após dar uma corrida (mal-sucedida) pelo Ibirapuera.

Parei em frente aos arranhões com um grande penar quando o flanelinha desdentado apareceu perguntando o que tinha acontecido. “Putz, apareceram dois riscos aqui do lado esquerdo, não sei de onde”. O cara se sentiu o maior ofendido da história (e não eu, que tive meu patrimônio depredado) e começou a argumentar de todas as maneiras possíveis. E me lançou essa:

“Olha, eu fui chamado aqui pelo presidente do clube e pelo general do exército (meu clube fica próximo a um quartel militar) pra tomar conta dos carros, porque aqui tava rolando um alto número de latrocínio de carros”, argumentou o cara, que, segundo ele próprio, foi soldado-alvo (atiravam nele?), tenente, faixa marrom em caratê, professor de alguma coisa, amigo dos manos e mais outra patavina que não me lembro (a única coisa que ele não conseguiu ser, a meu visto, era cliente assíduo de dentista).

Não entendo como um local próximo a um quartel militar e à Assembléia Legislativa possa ter sido, alguma vez, região visada para ladrões de carros. Mas o mérito da questão não é essa, mas sim o fato de um novo crime assolar a região: latrocínio de carros. Na hora, entendi que o meliante roubava o automóvel e, no afã de fugir, deixava o veículo morrer. Ou fazia questão de fazer o motor morrer. Aí sim seria um latrocínio de carros.

Entendo que o flanelinha tenha querido mostrar erudição, fazendo uso de palavras bonitas para me convencer. Velho recurso, este, que em muitos casos funciona. Mas latrocínio de carros é algo que não me entra na cabeça. Enfim.

Esse papo me lembrou, também, da zona que rolou no final de semana por causa das confusões entre as torcidas no clássico de São Paulo e Corinthians de domingo. Depois que o pau comeu mesmo nos arredores do Morumbi, o promotor público Paulo Castilho apareceu para dar entrevistas com um discurso todo empolado.

Entre termo bonito pra cá e discurso pronto pra lá, um termo que não parava de aparecer era o celeuma quando tentava eufemizar a palavra ‘treta feia’. Celeuma, até onde eu sei, é usado para designar uma confusão que não tenha porrada, mas sim uns... desentendimentos, uma discussão mais acalorada.

Mas enfim, celeuma é uma palavra que me remete muito aos tempos de colégio (três anos atrás, não é tanto tempo assim). Sempre que ouço essa palavra, me recordo das aulas de biologia, quando tentava decorar o que era um celoma (termo de biologia embrionária que dá origem a uma boa parte do nosso corpo). Ou, então, os xilemas das aulas de botânica (vasos condutores de seiva, rivais dos floemas).

Celeuma me lembra celoma, e não confusão. Mas é mais bonito de usar em discursos e tal. Latrocínio de carros me remete a um ladrão que não sabe dirigir. E os riscos no meu carro devem ter sido obra de algum belo filho da puta que não tem mais o que fazer da vida. =/

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Páprica

Descobri que não como páprica. Quer dizer... não que eu tenha descoberto algo que vá mudar a minha vida ou tenha percebido que não posso mais comer a coisa mais gostosa do mundo.

Pra falar a verdade, acho que nunca comi páprica. Sabia que isso, popularmente conhecido como tempero, existia por meio da televisão. O Beakman, por exemplo, sempre usava o pozinho vermelho meio alaranjado em algumas experiências malucas, ou então o Jerry sempre fazia o Tom espirrar com a tal da páprica.

O máximo de contato cara-a-cara que tive com a páprica foi tê-la visto uma vez em um vidrinho de temperos da minha mãe. Até abri e cheirei um pouquinho achando que espirraria feito um condenado, mas não. A páprica ficou na dela e eu, na minha.

Nem lembrava mais que existia páprica até esta sexta-feira, quando fui a um restaurante alemão com a Bonie, em alguma quebrada maluca de São Paulo. O lugar era bem legalzinho e comemos lá algum schdruwaitkenstiennitzer com hufflepuff, ou alguma coisa semelhante. Tudo bem gostoso e tal, até que... até que...

Até que tínhamos terminado nossos pratos e eu decidi pegar aquela tirinha de tomate que enfeitava os bifes de schweinsteigernitzer para experimentar. Coloquei na boca e engoli por obrigação, já que não senti um gosto muito bom nas mastigadas. E então segue o diálogo que antecede a tragédia.

“Nossa, Bo, os tomates na Alemanha têm gosto de salsinha”, eu disse.
“Mas isso não é tomate, Fe, é cenoura”, ela respondeu, mostrando outra tirinha.

“Claro que não, isso aqui é vermelho. E olha, tem a parte mais vermelha, da casca, e a menos vermelha, do miolo do tomate”.
“Não, cabeção, isso é laranja e é uma cenoura. Olha só”, ela sugeriu.

Olhei bem e vi que a tirinha de vegetal era mais laranja do que vermelha e... bom, poderia até ser uma cenoura. Chegou então o garçom alemão, perguntou se havíamos gostado do jantar e eu disse que sim. Mas, claro, não consegui segurar a dúvida.

“Eu só não descobri se isso é tomate ou cenoura”, comentei.
“Non, isso ér paprikka”, explicou o oba (garçom em alemão)

“Ah, isso é uma páprica? Nunca parei pra pensar, mas se bobear eu achava que a páprica era produzida já em pozinho na natureza”.
“Non, non... paprikka ér... ér… como se diz aqui em Brasil? Pimentão, isso”, e saiu.

Ou seja, eu tinha acabado de comer pimentão – um dos três ingredientes que eu mais odeio, ao lado de melancia e peixe cozido. Cheguei em casa e vi que páprica nada mais é do que um pimentão seco e ralado...

...urgh, odeio páprica.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A nova voz do Chaves

Faz um tempo, cheguei em casa numa sexta-feira à noite e me decepcionei com a versão dublada de O show de Truman – um filme que eu cansei de ver com o áudio original e com legendas em português, espanhol e sem legendas. Dentre outras coisas, fiquei reclamando do fato de que era complicado ver as mesmas coisas de sempre com outro ‘tempero’ (no caso, voz).

Blábláblás à parte, esses dias fiquei sabendo que as Lojas Americanas estava fazendo uma baita promoção fenomenal de DVDs do Chaves e do Chapolin. Depois de muito ter vontade de ir ver o que eu poderia conseguir para alimentar meu vício de infância com a série mexicana, acabei comprando duas coletâneas – ambas do Chapolin, já que vira e mexe o SBT resolve tirar o Polegar Vermelho do ar sabe-se lá porquê.

Voltei para casa feliz da vida com as minhas novas aquisições e com a chance de ver episódios como os impagáveis como os da corneta paralisadora, dos aerólitos, do mini-disco-voador, do vazamento de gás e da o honorável cobrador da companhia elétrica. Foi o melhor negócio que eu poderia ter feito, com apenas 25 pratas desembolsadas. E já estava até pensando em voltar lá nas Americanas para comprar todos os outros DVDs à venda.

Ao colocar o primeiro disco para rodar, percebi que poderia conferir algo ainda mais incrível: a possibilidade de ver os episódios com o áudio original, em castelhano. Para mim, que acabei me interessando extremamente por portunhol depois de passar uns dias em Buenos Aires, teria uma chance e tanto de entender o sotaque mexicano.

Mas... mas... mas coloquei o disco e, assim que rodou a primeira cena, a maior decepção dos últimos tempos: todos os personagens tinham a mesma voz da dublagem original, mas... justamente o Chapolin... não. Nada daquela voz característica do Chaves e do Polegar, que guiou a minha infância, adolescência e início de fase adulta, mas... não. A voz era aquela do desenho animado do Chaves, uma voz... que... não tem nada a ver com o Chaves. Urgh.

É difícil entender, sou muito conservador nesse sentido. As piadas são as mesmas geniais de sempre, mas... sem a voz original do Chaves, fica tão difícil ter o mesmo prazer intenso em assistir aos episódios originalmente dublados pelo Marcelo Gastaldi – dono da Versão Maga e que morreu há 14 anos, tendo no currículo a voz, também, do Charlie Brown no Snoopy e da música final da dublagem de A vida de Brian.

A voz do Chaves feita pelo Gastaldi era única, sabe-se. Mas tem uma coisa: o cara morreu em 1995 e... até hoje, ninguém nunca conseguiu imitar a voz do Chaves? Em toda esquina se encontra um imitador do Sílvio Santos, em todo bairro tem três ou quatro arremedando a Dercy Gonçalves... e ninguém como Gastaldi? E pior, me colocam uma outra voz no melhor seriado de todos os tempos? Não me entra na cabeça.

E... ok, passou meu momento de indignação. Mas passei a ter essa sensação: alguém que saiba imitar perfeitamente o Chaves e fizer um curso de dublagem ganharia rios de dinheiro dublando no lugar do atual dublador original. Que, convenhamos, é um vexame.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O amigo do meu pai

O Moura é um cara gente fina, não tenho como negar. Conheci o tal Moura quando eu ainda era bem pequenino, tinha acho que uns cinco ou seis anos. Mas nunca tinha reparado nos últimos 15 anos o quanto ele pode ser... útil? Talvez seja isso.

Perguntei uma vez para o meu pai quem era o Moura, e ele logo respondeu que era um grande amigo. Curioso pra danar, perguntei também o que o Moura fazia da vida, e o meu pai logo disse que era um famoso oculista. Ou oftalmologista, sei lá. Alguém que cuidava dos olhos.

Eu, para falar a verdade, não gostava do Moura. Era bem desagradável meu contato com ele, embora fosse grande amigo do meu pai. Tamanho era meu desagrado com o tal Moura que nunca tive muito contato com ele, ainda bem, nos anos que se passaram.

Até que vários anos se passaram, eu ganhei barba na cara e uma rinite que derrubaria até um rinoceronte selvagem. Uma rinite que resolveu me atacar em pleno final de semana de folga, quando eu estava no meu canto jogado no sofá da sala vendo tevê e esperando o mundo acabar em barranco para eu morrer encostado (notei ultimamente que tenho usado muitas gírias da minha avó, por sinal).

Se não me engano, nunca tive um ataque tão forte de rinite. Meu nariz doía, minha garganta arranhava, meus ouvidos reclamavam e, por fim, meus olhos coçavam como nunca. E eu, que nunca fui lá de conter minhas vontades, não parava de coçar os olhos. Uma besta, eu sei.

Depois de um sábado espirrento, o domingo chegou ainda pior. Até que, à noite, eu mal conseguia abrir o olho direito. Foi horrível dirigir voltando para casa com um olho meio fechado e o outro coçando absurdos. Mas deu certo, cheguei aqui em casa e minha rinite deu uma trégua. Mas meus olhos, que já não coçavam mais, agora ardiam. Demais.

Nem mesmo uma noite de sono, com algumas horas além do esperado, salvaram meus olhos. Acordei segunda-feira com o olho direito roxo, coçando e ardendo. Pouco tempo depois, o esquerdo apresentou os mesmos sintomas. E eu já não sabia mais o que fazer.

Então saí do banho, abri o armário secreto no espelho em cima da pia e lembrei do Moura. Peguei o colírio que meu pai deve usar há uns 50 anos (não o mesmo frasco, imagino), chequei a data de validade... e pinguei uma gota do Moura Brasil em cada olho. Meia hora depois eu já não tinha mais nada – só uma coceirinha bem leve, pra falar a verdade.

Estou indo dormir e passei mais uma dose de colírio Moura Brasil em cada olho, que não me incomodam mais e não possuem um vaso saltado em vermelho. Meu pai estava certo: o Moura era um cara bem legal. E grande amigo meu, também.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Voltei a jogar xadrez

Não xadrez, aquele jogo tradicionalíssimo em que se senta em uma cadeira dura em frente a um tabuleiro quadriculado com peças de madeira e passa minutos movendo peça para cá e para lá, batendo dama ou cavalo com certa força sobre a mesa e dizendo xeque.

Voltei a jogar xadrez, mas web-xadrez. Lembrei que tinha comprado o Chessmaster em uma pechincha, por apenas 29 pratas, e que não havia instalado neste computador, e resolvi jogar. Não é aquela mística do estilo tradicional, com alguém do outro lado da mesa pensando tanto quanto você, mas... já é alguma coisa.

É legal ver como o jogo estimula sua forma de pensar e sua atuação no tabuleiro reflete seu momento pessoal. Já joguei xadrez caindo de sono ou antes de acordar e levei um pau do computador. Já pratiquei bem acordado, depois de alguns cafés, e consegui vitórias incríveis. Mas não é só isso, e eu explico a seguir.

É até assustador ver como certos detalhes da minha personalidade influenciam, sempre negativamente, meu jogo. Quase nunca consigo esconder um ataque, assim como raramente meus planos mirabolantes sempre são sacados por alguém antes mesmo de eu pô-los em prática. Sem falar nas atitudes pouco arquitetadas ou pensadas, que eu tomo no tabuleiro assim como na vida real e muitas vezes me estrepo.

Blábláblá à parte, estou voltando a adquirir a boa forma no xadrez. Ainda não estou nem perto do ritmo que eu tinha em 1999, quando aprendi a jogar, fazia aula, conhecia várias aberturas, táticas, macetes e até ganhei a medalha de ouro nas olimpíadas inter-escolares. Mas é bom perceber que, aos poucos, estou pegando o jeito novamente.

Sempre gostei desse Chessmaster, jogo que eu conheci justamente quando fazia aulas. É bom, prático, eu sempre tenho com quem jogar, posso encontrar adversários no computador de diferentes níveis e estilos. Alguns mais rápidos, outros mais pensativos, estratégicos, impulsivos... é bem diversificado.

Mas... não sei. Sinto falta de bater a peça com forma na mesa e falar xeque. Ou colocá-la suavemente na casa e não comentar nada, esperando a outra pessoa perceber o xeque e perdendo tempo enquanto não percebe. Falando em tempo, sinto falta de fazer um movimento e bater rapidamente no relógio de tempo. E de enganar o adversário, batendo suavemente sem que ele percebesse. Para reforçar, eu ainda fingia pensar mil vezes em um movimento fajuto. Confesso, cansei de fazer isso quando tinha 11 anos.

Sinto falta do barulho que eu fazia com as peças quando capturava as do rival. Em Buenos Aires, joguei xadrez com um alemão diretor de cinema e ele fez questão de aprender esse estilo de chocar uma peça com a outra.

Humm... para falar a verdade, sinto falta de um xadrez de verdade.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Inversão de valores

Uma coisa que realmente me incomoda é você ter a sorte grande de encontrar um espaço no meio-fio onde seu carro se encaixa e, basta você desligar o motor, aparece um cara com boné e bigode ralo fazendo um jóia com a mão e prometendo dar a vida pelo veículo. Tudo, é claro, em troca de algum trocado assim que você sair de perto. Do contrário, ele mesmo será o primeiro a destruir sua lataria e amaldiçoar você e suas próximas oito gerações.

Fico bem de cara em dar as moedas. Olhando por certo ponto, não deixa de ser um assalto. Amigável, mas um assalto. Mesmo assim, acabei cedendo e até deixei algumas moedas no meu carro já para ter algum troco à mão na hora de parar meu carro na rua. Mas pouco disso realmente interessa em relação ao que vem pela frente.

Acontece que parei meu carro na sexta-feira em um canto da Praça Roosevelt para tomar algumas limonadas em um dos bares mais legais da cidade – o tal do Papo, Pinga e Petisco. Antes mesmo de estacionar, um tal cara de boné e bigode ralo já fez sinal de que protegeria meu carro até da chuva que estava por vir e eu apenas concordei.

Então saí do carro e ouvi os termos do contrato: “Cinco conto e tá beleza”, ele disse. Respondi que acertaríamos na volta e ele não aceitou. “É que eu vou comer um dog enquanto olho seu carro, patrão”. Argumentei que não tinha trocado ali na hora (o que era verdade), mas deveria ter umas duas pratas no carro (eu deveria ter mais, talvez os cinco) e depois completava o resto. Ele concordou, eu peguei umas quatro moedas e entreguei a ele.

Então, assim que acionei o alarme do meu carro, o tal do guardião por uma noite tentou ser simpático comigo. “Você é gente fina. Burguês, mas é gente fina”. Não dei muita atenção, mas... parando para pensar, não entendi patavinas do que ele disse. Quer dizer... ao pé da letra, não.

Quando eu estava no colégio, na sétima série o professor de História explicou o que era um burguês: aquele que detinha os meios de produção do seu trabalho. E eu... bom, no meu trabalho, eu não tenho o domínio de um site, não faço os reparos técnicos, não uso o meu próprio computador e nem me sento à minha cadeira. Eu seria burguês se tivesse tudo isso, e não só as canetas que uso para fazer rabiscos e anotações durante o expediente.

Na verdade, o burguês da conversa era ele mesmo. Mas é claro, oras. Uma vez que o serviço dele é guardar carros, ele só precisa dele mesmo para realizar o serviço. Outro meio de produção que ele pode usar é o colete verde-água, que... ele mesmo comprou. E depois ele iria comer o hot-dog com o meu dinheiro, em alguma barraquinha de um burguês – dono do pão, da salsicha, dos condimentos e da própria van.

Pensando bem, ele era o burguês da história. Mas é tão mais simples dizer que alguém em uma condição financeira melhor é ‘burguês’ que o real sentido da expressão já é perdido por aí. Ele chamaria de burguês um fazendeiro – que, na tal designação histórica, seria o produtor rural.

Mas quem sou eu para explicar a ele tudo isso? Sou apenas o mero proletário. Que nem dorme de meias para ser burguês...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Obelisco de Buenos Aires (una mula, II)

Uma vez eu estava num táxi andando pela Avenida Corrientes, lá em Buenos Aires, andando por uma região que era tipo o centro financeiro da Argentina. Era de tarde, umas 16 horas, o céu estava azul bem clarinho e o sol, brilhando. Um dia bem bonito.

Do táxi na Corrientes eu vi, lá no final da rua, o Obelisco. Aquela torre branca, fininha, que é um dos pontos turísticos de Buenos Aires. A cor do monumento contrastou bem com aquela tarde, e eu fiquei olhando bem o aproximar do edifício histórico. Então, passando pelo Obelisco, vi que não era nada de mais. Só um monte de cimento.

Tudo bem, o Obelisco portenho é bonito. Mas notei alguma coisa bem estranha meses depois, dirigindo pela 23 de Maio em um dia ensolarado. Olhei uma hora lá para o fim da avenida e lá estava o Obelisco do Ibirapuera. E eu me senti em Buenos Aires.

É um tanto estranho. Eu passava várias vezes em frente ao Obelisco aqui de São Paulo todas as semanas, quando ia ao Ibirapuera com meu pai aos sábados no começo da década de 1990. Lembro que até entrei para ver o que tinha lá dentro: vários túmulos. O monumento era bonito por fora, trágico por dentro.

Estou enrolando, eu sei, sendo que no fundo eu queria entender só por que, toda vez que passo pelo Obelisco, eu me sinto em Buenos Aires. E não por que diabos eu não me senti em São Paulo passando por monumento parecido na Argentina.

Pensando bem, acho que é porque eu não consigo ver São Paulo como uma cidade turística. Tive até uma conversa sobre isso em Buenos Aires com o dono do meu albergue: ele dizia que os argentinos exploravam mal o turismo e que o Brasil era incrível. Eu, claro, tinha opinião totalmente contrária.

Não consigo ver a minha cidade como ponto atrativo para turistas. É apenas uma cidade gigantesca, sem nada de lá muito sedutor: uns parques, umas avenidas... e só. Sei que em São Paulo o que pega é o turismo financeiro, mas... sei lá. No fundo no fundo, acho que sei qual é a minha: apenas falta de criatividade. Porque moro em uma cidade gigantesca e com mil coisas para fazer... e chega sábado à noite e nunca sei para onde ir.

E sim, eu sou uma mula.