terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Provas reais

Lembro-me como se fosse hoje de uma tarde de domingo meio cinzenta em 2004, quando estava no carro voltando para casa e tive uma ponta de insegurança: “Como eu vou fazer jornalismo? Tá, eu gosto de escrever e tal, mas eu faço um texto bem do chinfrim a cada duas, três semanas – e quase sempre sobre um tema de que eu gosto! Impossível eu conseguir escrever uma notícia por dia pra um jornal, e ainda mais sobre um tema do qual provavelmente eu não vou gostar”.

Pois bem. Hoje, quase quatro anos depois, escrevo cerca de 12 notícias por dia e sinto que superei esse trauma. Mas mesmo assim ainda me bate uma incerteza quase que cotidiana quanto à continuidade deste blog. “A cada texto que escrevo é um assunto que eu perco. Um dia os assuntos podem acabar e, com eles, o Cavaleiro com Solitária”.

Grande bobagem. Cerca de duas semanas atrás havia saído com minha melhor amiga para tomar café e conversar sobre a vida e acabei contando para ela a história do meu primeiro melhor amigo, que morava em frente à casa da minha avó. Embora fosse um ano mais velho que eu (e naquela época um ano fazia uma diferença enorme na mentalidade de cada um!), nos demos super bem até ele se mudar. Crianças de cinco (ele) e quatro anos (eu), foi praticamente impossível mantermos contato, e cada um seguiu sua vida.

Uma história triste, não é mesmo? Bom, nem tanto. Logo em seguida fiz uma amizade bem forte com um outro moleque da escola e ele, bom, sabe-se lá pra onde ele tenha ido, certamente fez suas amizades . Antes de contar isso à minha amiga, confesso que fiquei uns dez anos sem pensar no tal antigo amigo e acabei me lembrando dele por um mero acaso umas três semanas atrás. Uma semana depois do café, contei história parecida ao meu irmão em uma noite de terça-feira. Até aí, normal.

A quarta-feira chegou e, com ela, o meu mau-humor: confesso, estava ligeiramente sem paciência por ver aquele antigo caso “amoroso” (ou algo bem longe disso) vasculhar o meu scrapbook diariamente provavelmente para ver as garotas que me enviavam recados e xeretar uma ou outra cantada furada que eu respondia para elas, estava prestes a apagar de vez a minha página no Orkut.

E quando tal pensamento passou pela minha cabeça, recebi um recado de um cara: “Meu Deus do céu! Duvido que você seja capaz de me reconhecer!”. Apesar de o rosto da tal pessoa não me parecer nada familiar, o nome e o fato de vivermos em um mundo bizarro não me deixaram pensar por muito tempo. E respondi menos de um minuto depois: “Claro que lembro, pô! Você foi meu primeiro melhor amigo!”.

Não demorou para começarmos a reviver antigas histórias e personagens de nossas infâncias. Incrível como nos lembrávamos de quase tudo – ele muito mais do que eu. Dois dias depois, marcamos de nos reencontrar para comer uma pizza e colocarmos alguns assuntos em dia. Claro que andar do lado de uma pessoa que eu não via há 15 anos não parecia nada familiar como andar ao lado de um grande amigo de hoje em dia, mas mesmo assim era uma sensação agradavelmente boa.

Rever um antigo amigo e ter horas, dias, semanas, meses, anos e décadas de conversa para pôr em dia é muito bom. É quase como fazer uma amizade nova sem ter que passar por vários testes de confiança para poder ouvir e contar histórias engraçadas ou reveladoras.

Melhor para mim, para ele e para a minha criatividade blogueira. E a minha página no Orkut continua lá: o tal site de relacionamentos ganhou moral comigo depois disso.

[De acordo com o servidor, este post antecede o ducentésimo do CCS. Quando o criei, não achava que passaria do décimo - prova de que a minha insegurança não tá com nada]

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Tampa da panela

No mundo do Harry Potter, as varinhas mágicas escolhiam seus bruxos. No Senhor dos Anéis, o anel precioso basicamente elegia seu novo portador. Já no tênis, são as raquetes que nomeiam seus tenistas. E em Hollywood o coração propõe a alma gêmea de seu dono.

Tudo muito bonito, não é? Mas na vida real não é bem assim. A única coisa que realmente nos escolhe na vida são as canetas. É, é verdade. Embora haja milhões, bilhões de esferográficas, tinteiros, rollerballs, pontas-finas e hidrográficas disponíveis a nós, pobres mortais, em qualquer prateleira de papelaria, cabe a elas escolherem suas mãos condutoras.

Digo isso por experiência própria. Desde pequeno fui meio que viciado em escrever, sobretudo com canetas. E na minha casa as mais comuns eram as corriqueiras Bics e uma outra, as rolleballs deluxe da Mitsubishi/Uni-ball. Naquela época, qualquer uma servia para eu fazer meus rabiscos.

Até que entrei na escola e, a partir da primeira série (quando as canetas foram liberadas para os fedelhos de 1995), percebi que não bastava destampar uma caneta qualquer e mexer a mão em cima do papel. Não que isso tenha influenciado minha personalidade.

Costumava usar as normais da Bic, mas com o passar de algumas semanas percebi que algo estava errado: antes de a carga ser 40% gasta, a caneta já parava de escrever. Então vieram as Bic Cristal, mas o panorama não mudou: a vida da caneta era de 50%.

Passei então para aquele canetão 4 cores em 1, mas não me adaptei: era graúda demais. Então fui para as rollerballs deluxe da Mitsubishi, mas não por muito tempo. Por ter a mão um pouco pesada na escrita, elas borravam as costas de todas as folhas. Uma nhaca, apesar de a caneta ser bem legal. E o estoque de casa acabou por volta de 1999 - pouco depois de a caneta desaparecer temporariamente das lojas.

Foi quando fui apresentado às Quilométricas Plus – aquelas azuis bem fininhas que, embora muito boas e de vida bem longa, saíram de linha logo em seguida. Tentei encontrar um outro modelo de caneta (sempre gostei de uma que fazia som semelhante a um clique quando a ponta se encontrava com o papel, mas jamais encontrei), mas fracassei. Não me adaptei a nenhuma caneta promocional ou de mapa. E as Bics continuavam me boicotando.

Minha busca só foi terminar no final de 2006, quando encontrei no chão da sala da faculdade uma caneta semelhante a uma Bic normal, mas mais bem acabada e com outro nome: Compactor top 2000. Só não durou para sempre porque minha mãe viu na minha mochila e pediu para ela, mas foi a caneta da minha vida.

Minha mãe contou que adorava aquela caneta, mas há tempos não via à venda. Assim que aquela acabou, achou na internet uma loja virtual porto-alegrense que vendia caixas fechadas de Compactors top 2000. E desde então não tivemos mais problemas com canetas.

Até que sábado passado, durante as tradicionais compras de volta às aulas na Kalunga (hoje em dia para o meu irmão – o ensino acadêmico, por mais paradoxal que seja, não demanda muito material), vimos penduradas várias rollerballs da Mitsubishi: na hora, identifiquei a caneta e lembrei do meu pai.

Compramos para ele e, antes de entregar, abri o pacote e arrisquei algumas assinaturas. Mas após alguns ‘Felipes Helds’ rabiscados, tampei-a e coloquei sobre a mesa da sala: aquelas uniballs escolheram a ele, e não a mim.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Prognósticos australianos: Mea-culpa

Foram milhares de aces, winners, forehands, backhands, aces, smashes e break points. Centenas de homens e mulheres em busca de prêmios milionários e pontos nos rankings. Incontáveis jornalistas esportivos de olho nas telinhas, nas raquetes, nas bolinhas e, claro, nos concorrentes. Foram duas semanas de Australian Open, tênis e, acreditem, bastante diversão e aprendizado.

E depois de ver os títulos da linda Maria Sharapova e do carismático Novak Djokovic em Melbourne, me senti na obrigação de fazer a minha mea-culpa depois de tantos palpites errados nos prognósticos do primeiro Grand Slam do ano, tanto na chave feminina quanto na masculina.

Vamos lá. Entre as damas, minhas grandes apostas eram Tamira Paszek, que seria a primeira adolescente após Sharapova a faturar um troféu de Grand Slam. Mas a austríaca que até o final do ano passado foi treinada pelo brasileiro Larri Passos foi eliminada logo na primeira rodada para a sérvia Jelena Jankovic.

Se eu achava que a jovem austríaca ganharia moral ao passar pela terceira cabeça-de-chave, aconteceu justamente o contrário: a combalida balcânica se motivou ainda mais, superou as lesões e chegou às semifinais. Um feito mais do que notável para uma tenista que aparenta ser bastante simpática. Já a minha musa tcheca Nicole Vaidisova agüentou firme até as oitavas-de-final, quando se encontrou com Serena Rincon Williams, sua maior algoz no circuito profissional.

Melhor para Sharapova. Se não era cotada para passar nem da segunda fase, a musa de 1,88m fez bonito e massacrou suas adversárias no caminho ao título. Nada mais justo pelo que ela apresentou em quadra – com direito a pneu em Justine Henin nas quartas-de-final, o segundo feito mais inacreditável das duas últimas semanas.

Quanto aos homens, bom... faço parte do grupo daqueles que torcem contra Roger Federer em nome de um circuito mais equilibrado, mas mesmo assim apostei no suíço boiolinha para ficar com mais um troféu. Mas não foi bem isso o que aconteceu.

Alguém já tinha ouvido falar em Jo-Wilfried Tsonga (leia Jô-vilfriid Songá)? Eu, que acompanhei bem o circuito do ano passado, tinha feito apenas uma notícia dele: quando venceu Richard Gasquet no Torneio de Lyon. Bom, acontece com qualquer cabeça-de-chave. Mas em Melbourne o Muhammad Ali de Le Mans fez bonito. Passou por Andy Murray, novamente Gasquet e Mikhail Youzhny até seu graaande teste: Rafael Nadal, nas semifinais. E não é que a zebra atropelou o touro? Além da eliminação por 3 sets a 0, a atuação de Tsonga foi a melhor entre todos os tenistas aos quais eu pude assistir pela televisão (e com a excelente transmissão da ESPN, diga-se) – com direito a melhores momentos neste link.

Do outro lado da chave, Federer alternava momentos de show com algumas inseguranças. Apesar do inquestionável talento do suíço, quase vibrei ao ver Janko Tipsarevic forçar um quinto set na terceira rodada e por pouco não eliminar o número um – a notícia feita para o caso de um revés foi para o meu ‘arquivo de honra’ no computador do trabalho. Mas, infelizmente, não pude ver o momento mais esperado do Australian Open. Por motivos alheios, dormi além da conta na sexta de manhã e acordei momentos depois de Djokovic sacramentar a queda de Federer. Acontece.

Errei feio no masculino ao acreditar em Federer, assim como toda a torcida do Mengão, apesar de ter uma pontinha de esperanças de Nole Djokovic na final. Quanto ao Tsonga, nem ele, nem o pai dele e nenhum cidadão de nenhum dos dois Congos acreditaria em uma classificação para a final. No embate entre Djokovic e Tsonga na final deu a lógica, e o sérvio sensação (e futuro número um do mundo) faturou seu primeiro Grand Slam na carreira.

Outra decepção deste que vos escreve veio nas duplas masculinas. Apostei forte nos brasileiros Marcelo Melo e André Sá. Não passaram nem da primeira rodada. No final, títulos para os israelenses Jonathan Erlich e Andy Ram.

Mas, apesar dos erros, esse Aberto da Austrália me proporcionou algumas observações bacanas. A jovem dinamarquesa Caroline Wozniacki, minha maior esperança até conhecer a Paszek, parece não ser só uma zebrinha de olhos bonitos; ao passo que a polonesa Agnieszka Radwanska será conhecida para a vida toda como a caçadora de russas. Outra jovem tenista em quem passei a apostar ainda mais foi a francesinha Alize Cornet, que dentro em breve será um Tsonga mais bem apresentável. Teve também a nova promessa dos Países Baixos: Arantxa Rus, campeã da chave juvenil e uma das futuras musas do circuito – e com enormes chances de ganhar de Michaella Krajicek, que era bonitinha assim e ficou estranha assim.

Para enfim terminar: as transmissões da ESPN pegaram no pé das semelhanças de alguns tenistas com outras personalidades da mídia. Algumas delas estão compiladas neste vídeo. Destaque também para a trilha sonora: a música se chama Yofo, da banda mexicana de Rapcore Molotov, que aliás já ganhou o Grammy latino com o sensacional clipe de Frijolero (uma das minhas favoritas).

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Protesto nostálgico

A primeira coisa que faço ao pegar o jornal na guarida do meu condomínio é abrir na seção de cultura/variedades para ler as tirinhas do Calvin e do Charlie Brown. Mas ontem mudei a ordem ao ter a atenção chamada para outra notícia, que sequer ganhou o destaque que merecia: “O novo Boomerang”, alertava a manchete sem negrito, sem nada. “Fãs querem clássicos de volta ao canal”.

Li a nota curta de pouco menos de mil caracteres e tive a sensação de ter nas mãos uma das notícias mais importantes dos últimos tempos. Resumindo, o site RetrôTV, revoltado com a ‘mudança editorial’ do canal segunda-linha do Cartoon Network, lançou um abaixo assinado pedindo o retorno dos clássicos à emissora paga.

Contextualizando: O Boomerang, dissidente do Cartoon Network (propriedade do magnata Ted Turner), surgiu em 2001 sob o slogan de ‘o que é bom volta’ e com a intenção de passar os clássicos desenhos da Warner, da Hanna-Barbera e demais preciosidades. Tudo isso porque o CN lançava desenho atrás de desenho (de qualidade bastante questionável, diga-se) e deixava as velhas animações (de qualidade inquestionável) para escanteio.

A programação do Boomerang em seus primeiros semestres de vida era invejável: Zé Colméia, Tartaruga Touché, Corrida Maluca, Olho Vivo & Farofino, Formiga Atômica, Os Impossíveis, Pantera Cor-de-rosa, Snoopy, Pernalonga & Cia., Garfield, Tutubarão, Pepe Legal & Babaloo, Droopy, Flinstones, Jetsons, Popeye, Scooby-Doo... ah, e muito mais. Não apenas as crianças eram o público-alvo do canal, mas também adultos que não se identificavam com a nova leva de animações patrocinadas pelo Turner.

Só que nem tudo correu conforme o esperado. Quebrando o protocolo, o Boomerang passou a abrir espaço para animações desbancadas no Cartoon, mas produzidas ainda na década de 1990, bem como algumas séries. Muitos clássicos saíram do ar, como os meus xodós Os Impossíveis e Olho Vivo & Farofino, e os remanescentes foram jogados para a madrugada.

Durante muito tempo, passei a dividir as atenções da madrugada entre o Programa do Jô e a Pantera Cor-de-rosa. Tinha dias até em que eu ficava acordado até as 5 da manhã para ver a (Lá vem a biônica!) Formiga Atômica. Até que o óbvio – e trágico – acabou acontecendo: o Boomerang se reformulou, mudou slogan, baniu os clássicos e passou a se focar em um público moderno. Dia desses passou a maratona RBD (aquela novelinha mexicana tosca, carro-chefe da nova emissora). Um vexame, uma heresia...

Então o RetrôTV teve uma sacada de gênio – e a única cabível para nostálgicos como eu. Um abaixo assinado, aberto até o comecinho de março, até ser encaminhado à Turner. Se vai funcionar eu não sei, mas pelo menos é o que nos resta. Este blog, portanto, adere à campanha.

Lobby: Dia desses relatei uma reminiscência ao ver um episódio da Disney na Globo em um sábado de manhã e fui apoiado pelo Mané, que comentou: “Reparou que nessas melhores lembranças de desenhos na TV na infância, o dia nunca está ensolarado? E os desenhos nunca são essas porcarias japonesas?”.

Mais tarde, o Mané encontrou uma jóia rara da Disney: o a visita do Pato Donald à Praia de Copacabana, marcando o encontro do Zé Carioca com o Pato Donald (auge do vídeo: 3min15 – 4min15). E aí foi a minha vez de opinar. “Cara, esse desenho é algo que passa do brilhante e se aproxima muito da perfeição. E são coisas assim que me fazem ter orgulho de, durante toda a minha infância, ter sido viciado nos desenhos da Disney. A nova geração, em compensação, vai se gabar por ter visto... aahn... os clássicos Jake Long, Kim Possible e Lilo & Stich? Ah, meu velho, eu sou muito mais o Pateta!”.

A sessão nostalgia não parou por aí. Dias depois, a Carol encontrou um especial de Natal da Turma da Mônica feito nos idos de 1970. A descrição dela resume tudo: “Coisa de gênio”.

Considerações: Não que só haja lixo atualmente. Confesso que gosto muito de Bob Esponja e passei a simpatizar muito ultimamente com os Padrinhos Mágicos. Acho o Laboratório de Dexter muito bom, tanto quanto Johnny Bravo. Só que... é claro que trocaria tudo isso por um Fantástico Mundo de Bob, Doug Funny, Tintim – falando por baixo, porque citar Snoopy, Pica-pau, Pernalonga ou qualquer outro clássico da Hanna-Barbera seria covardia.

E... não sei se foi porque passei os melhores anos da minha infância assistindo aos últimos anos de gala desses desenhos, mas era muito mais fácil encontrar algo de qualidade na programação. Agora vai ver hoje em dia alguma coisa inteligente no meio de Vaca & Frango, Du, Dudu e Edu...

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Mito popular

Desde pequeno ouço a mesma ladainha: é necessário fazer alongamento antes e depois de realizar um exercício físico. Isso prepara os músculos do corpo, evita distensões e outras lesões e mais um monte de blábláblá.

O problema é que eu, beirando a casa dos 20 anos, raramente faço alongamentos antes jogar futebol com os amigos do prédio. E, para me opor ao discurso popular, nunca tive um problema muscular sequer.

Ontem, no entanto, desci para bater uma bola com os mesmos amigos de sempre e decidi mudar meu hábito. Por ser surpreendido com um frio de 18º em pleno verão, optei por tomar conta do meu organismo e fiz uma caridade ao meu sistema muscular: fiz aquecimento. Alonguei panturrilha, braços, músculos anteriores (da frente) e posteriores (de trás) da coxa... até arrisquei alguns saltos e alguns piques não correr risco algum.

Confesso que me surpreendi que, após o aquecimento, entrei em quadra muito mais inteiro do que o normal. Enquanto a maioria dos amigos tentava encontrar seu melhor ritmo, eu até conseguia levar a melhor sobre um ou outro por estar mais disposto.

Acontece que, depois de uns 40 minutos de jogo, uma bola foi (mal) lançada pelo goleiro do meu time e, para evitar a lateral, estiquei a perna esquerda para dar um balão para trás e impedir que a bola saísse. Assim que chutei a bola, senti um estalo e uma forte dor na coxa esquerda. Não conseguia mais correr, mas ainda assim me mantive firme até o final da partida. Isso que é garra.

Hoje, bom... acordei com uma dor insuportável em quase toda a minha coxa esquerda e não conseguia dar um passo sem manquitolar e sentia uma sensação cortante ao esticar a perna esquerda. Momentos depois, minha médica particular (que também atende pelo nome de mãe) constatou uma distensão muscular. O tratamento para isso é apenas repouso e duas semanas sem correr, jogar futebol ou praticar qualquer atividade física.

E um pensamento que me aborreceu durante o dia inteiro ganhou ainda mais força: nunca contraí uma contusão muscular por deixar de fazer alongamento. Droga de mito popular.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Soma

Admirável Mundo Novo pode não fazer parte dos dez livros preferidos da minha estante, mas algumas coisas nele me chamaram a atenção quando o li, algum tempo atrás. A principal delas, com certeza, foi o soma, droga sintética legalizada e principal (e única) forma de escapismo para uma sociedade que não se acostumou aos traumas pessoais.

Qualquer desilusão, apreensão, tédio ou seja lá o que for, basta ingerir cápsulas de soma de acordo com a sua necessidade e voilá. Muito melhor que o álcool – que aparece na trama como droga de terceiro mundo. E o tal soma tem tanto impacto naquela sociedade que até ganhou algumas músicas. A mais conhecida delas é a do Strokes.

Foi justamente pensando na tal soma hoje de manhã que percebi o quão viciado eu sou na tal droga, hoje em forma de cafeína. Por gostar do período noturno, não consigo dormir cedo. Mas por conta do fuso horário australiano, tenho acordado nos últimos dias às 5 da manhã. Isso me resulta em, mais ou menos, três ou quatro horas diárias de sono. Como eu agüento? Ah, eu tomo um cafezinho antes de entrar no trabalho que tá tudo certo.

Quando trabalhava de manhã com mais freqüência, percebi que aquela sonolência das 11 horas seria exterminada com um pouco de café. Foi o início de um hábito delicioso, compulsório e... bom, que deve ser tratado com cuidado. Quando fui remanejado para a tarde, me sentia muito mais animado e motivado depois de tomar um copo de café. Até aí tudo bem.

O problema é que nem sempre há café disponível nos arredores da Cerqueira César. Sábado, por exemplo. Embora eu tenha conseguido dormir bem durante as 4h30 de sono que eu tive, foi praticamente impossível sobreviver durante um expediente sem café. Terrível. Tentei me manter acordado tomando água gelada, mas praticamente não ajudou. O tempo... ah, o tempo não andava.

Hoje, domingo, fui forçado a fazer uma pausa no expediente no intervalo das partidas noturnas do Aberto da Austrália e fui correndo ao Starbucks mais próximo comprar um copo de café. Voltei para a redação como o Popeye após comer espinafre. E o expediente passou voando. Apesar de mais trabalho, praticamente não senti o tempo passar. Não pensei em nada, simplesmente deixei o piloto automático fluir. Exatamente como o soma age nos habitantes da fictícia Londres de daqui 500 anos, cenário do romance de Aldous Huxley.

Efeito placebo ou não, acabei tornando o cafezinho algo inerente ao trabalho. Não rendo mais sem um copo de cafeína quente, seja qual for o horário do meu expediente. E se isso é ruim? Acho que não. Pelo menos ultimamente, o café tem me dado algumas das melhores idéias quando bebo sozinho ou proporciona as melhores conversas quando acompanhado.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Pegadinhas combinadas

Quando era mais novo e gostava de ver as pegadinhas do João Kleber na então ascendente RedeTV!, não era raro ouvir pessoas duvidando da veracidade do quatro. Quase todo mundo que eu conhecia dizia que aquilo tudo era combinado: os sustos eram combinados, os pitis eram fingidos... mas preferi não acreditar no que diziam.

Até que hoje não acreditei quando liguei a tevê na Record para ver as pegadinhas meio sem-graça enquanto esperava começar o Chaves no SBT e vi um conhecido alvo das brincadeiras à la João Kleber.

A idéia da pegadinha era até que original. Uma loira gostosa parava alguém na rua e pedia tomar conta de um cachorro golden retriever por um instante. Aí chegava uma outra mulher para pedir informação, umas 15 pessoas se aglomeravam entre sujeito e cachorro e, então, aparecia um cara da produção e trocava o cão de grande porte por um pequinês. É engraçado ver a reação das pessoas ao perceberem a mudança.

O primeiro alvo do quadro ‘Cachorro trocado’ não se interessou pela loira boazuda e foi logo impondo as condições. “Sí, tomo conta de perro e gaño trocado”. Coloquei o óculos e qual não foi a minha surpresa ao ver o mendigo com quem, há seis meses, conversei em holandês em plena Avenida Paulista. Incrível.

Expliquei na hora para o meu irmão o motivo da minha exaltação. Resumindo, o cara dizia ser professor de idiomas na Colômbia (onde dava aulas de inglês, francês, italiano, alemão, russo, sueco e holandês) e veio para o Brasil aprender a falar português. Mas, se não me engano, perdeu todo o dinheiro e agora tem que pedir esmola para conseguir pagar um hotel barato no Brás.

Pelo menos foi isso que me contou. Sendo verdade ou não, sempre que estou à noite em algum bar da Paulista e me deparo com ele (cujo nome eu já esqueci), procuro dar-lhe uma ou duas pratas. É um gringo simpático.

E a moral da história? Vou poder me gabar por aí por já ter falado em holandês com um mendigo na Avenida Paulista e, ainda por cima, vi o cara participar de uma pegadinha na televisão. Resumindo, o mundo vem se tornando cada vez mais bizarro.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Na frente da câmera

Um dos meus maiores medos ao começar a fazer jornalismo era o fato de eu ser incrivelmente tímido. Ora, onde já se viu um repórter se dar bem na vida tendo vergonha de fazer perguntas às pessoas?

Pouco a pouco fui lidando com isso e hoje, dois anos depois de começar a faculdade, acho que consegui chegar a um ponto muito além do que eu supus que chegaria de controle da minha timidez. A ponto de não ficar acanhado em momento algum na hora de fazer entrevistas a trabalho. E isso teve muita influência na minha vida pessoal, pois consegui obter uma certa desenvoltura em certas situações.

Por conta desse controle da timidez, passei a ficar extremamente desapontado na hora de fazer uma entrevista, seja com um gravador ou com um bloquinho na mão, e a pessoa entrevistada se mostrava acanhada. Mas é que eu tinha me esquecido de um ‘simples’ detalhe: o quanto é ruim conceder uma entrevista.

Era um dia de tarde quando atravessei a Brigadeiro perto do Ginásio do Ibirapuera e vi quatro pessoas paradas na esquina, sendo que uma delas tinha uma câmera e outra, uma garota dotada de um rosto bem simpático, estava munida de um microfone. Um microfone, aliás, sem nenhuma identificação de emissora de televisão.

Fingi que não tinha visto ninguém no meu caminho, apesar de o rosto bonitinho da menina ter me chamado a atenção. Mesmo assim, fui abordado por um dos caras da ‘equipe de reportagem’, digamos, da moça bonita. “Olha, a gente tá produzindo um documentário com depoimento de várias pessoas aqui na Brigadeiro e a gente que saber o que você gostaria de mudar. Fala o que você quiser falar, seja sobre política, economia... sei lá. Quando tudo estiver editado, vamos lançá-lo em Davos, maior cidade dos Alpes suíços, em uma corte com a presença de vários chanceleres e blábláblá”.

Não estava muito interessado no documentário em si, mas no fato de a garota me entrevistar. Até que ela me deu o microfone, o homem da câmera fez o joinha e eu deveria começar a falar. Em instantes, pensei em um discurso rápido e pré-fabricado. Depois de quase um ano tendo contato com o mundo dos outros esportes, falei que certas modalidades precisavam de mais apoio em países sul-americanos e tentei linkar tudo isso com o progresso da sociedade... besteiras que a gente ouve em anos de Olimpíadas e Jogos Pan-americanos.

Mas é claro que não foi fácil. Não sabia muito o que falar. As palavras fugiam. Fiquei até com medo de falar alguma besteira e me ver no YouTube uma semana depois. Não sabia o que fazer com o microfone. Não conseguia olhar para a câmera e não sabia para onde olhar (ficaria muito chato olhar o tempo todo para a menininha bonita)... enfim, tive vergonha novamente.

Depois que o operador de câmera fez o ok e encerrou a gravação, o cara que parecia ser o produtor da trupe elogiou e disse que eu consegui inovar bastante e dizer algo inédito pro documentário. A garotinha, por sua vez, começou a puxar assunto comigo sobre o vôlei brasileiro e eu explicava pra ela um pouco de canoagem e esgrima. Ela pediu para eu assinar um negócio cedendo minha imagem e... bom, de um jeito ou de outro ela conseguiu meu telefone.

Só que também percebi o quanto é fácil do lado de trás do gravador, do bloquinho ou, claro da câmera. O difícil mesmo é não dar entrevistas bizarras e ganhar 15 minutos de fama na internet...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Prognósticos australianos, chave masculina

Dando prosseguimento aos prognósticos, chegamos à chave masculina com uma novidade. Pela primeira vez em muito, mas muito tempo, o suíço Roger Federer tem a sua soberania no ranking de entradas posta em xeque. Mas não que isso signifique muita coisa, pelo menos a curto prazo.

Atual bicampeão do Aberto da Austrália, Federer aparece na lista dos melhores do mundo da ATP com 7.180 pontos (muito abaixo dos 8.120 que chegou a ostentar ao longo de 2007). Mais atrás vem Rafael ‘el toro’ Nadal, com 5.780, enquanto o sérvio Novak Djokovic, o menino prodígio, é o terceiro com 4.315.

Se não conseguir defender o título em Melbourne, o suíço de masculinidade questionável perderá ainda mais pontos no ranking. Se acontecer uma tragédia e cair diante do argentino Diogo Harfield na primeira rodada, por exemplo, ou então não conseguir pelo menos chegar à final, Fedex poderá dar adeus ao topo do mundo se El Toro se sagrar campeão pela primeira vez em um Grand Slam em quadras rápidas. Um feito notável, diga-se.

O problema é que as coisas não são tão favoráveis assim para mudança nos três primeiros lugares do ranking de entradas. Federer, apesar de ter passado por apuros no banheiro na última semana e ficado de fora de um torneio-amistoso em Melbourne, é franco-favorito a mais um título. Primeiro porque é soberano em pisos rápidos (muito embora não se saiba o que esperar do novo plexicushion, piso emborrachado implantado especialmente para o torneio aussie).

Enquanto isso, Nadal não vive seu melhor momento, especialmente porque seus melhores momentos são sobre o saibro. Recentemente, o titio e técnico Toni disse a um jornal maiorquino que o queridinho da Espanha sofre de um grave problema no pé. Sensacionalismo dos periódicos ibéricos à parte, o Mogly de Mallorca passou a ser questionado, especialmente depois de ser atropelado pelo russo Mikhail Youzhny uma semana atrás, no Torneio de Chennai. E, além disso, Nadal aparece em rota de colisão nas quartas-de-final com Andy Roddick, que costuma se dar bem apenas sobre pisos rápidos.

Mas há algum alento para todos aqueles que secam Federer ou pelo menos torcem por um circuito mais disputado: muito provavelmente, o suíço terá pela frente nas semifinais o argentino David Nalbandián. Se seu rival não for o seu algoz nos Masters Series de Paris e Madri no ano passado, talvez possamos ver um duelo entre o tenista ‘será-que-ele-é?’ com Novak Djokovic. E, se o sérvio não enrolar tanto para vencer seus adversários, deverá chegar inteiro para a partida. Tomara.

Outra coisa legal que certamente acontecerá nesta edição do Aberto da Austrália é o duelo entre criador e criatura com o confronto entre Nadal e o também maiorquino Carlos Moyá, nas oitavas-de-final.

Acho muito difícil o aparecimento de azarões na competição masculina. Em todo caso, se for para apostar em alguém menos renomado, escolheria (por falta de opções) o croata Ivo Karlovic, o canhão humano em saques. A chave dele não é tão complicada assim, mesmo tendo o russo Nikolay Davydenko. Mas o primo de segundo grau do Smeagol deve entrar na disputa meio estressado pela perseguição da ATP sobre o escândalo de apostas. Veremos...

Poderia muito bem ter escolhido o espanhol David Ferrer para o posto de azarão, mas o atual quinto do mundo consegue ser o tenista menos ambiciosos do circuito. Em agosto de 2007, quando chegou às semifinais do US Open, disse que já estava satisfeito por ter chegado tão longe e não se importaria se perdesse para o Djokovic. Perdeu. Já em novembro, foi à final da Masters Cup e disse que era impossível bater o Federer, seu adversário na final. Perdeu também.

Várzea: Pela primeira vez em muito, mas muito tempo (desde 1990, se não me engano), o Brasil não teve um tenista sequer inscrito para o quali do Australian Open. No entanto, os mineiros Marcelo Melo e André Sá entram como os possíveis azarões da chave de duplas, após chegarem às semifinais de Wimbledon e às quartas do US Open. Em contrapartida, os tenistas tupiniquins costumam se dar mal em Melbourne, e a única pessoa nascida em terras de Cabral a chegar a uma final na pátria dos cangurus foi Maria Esther Bueno, em 1965...

sábado, 12 de janeiro de 2008

Prognósticos australianos, chave feminina

Na madrugada de domingo pra segunda-feira começa o Aberto da Austrália, o primeiro dos quatro Grand Slams (que, para quem não sabe, são os mais importantes torneios de tênis da temporada). Embora a competição aussie não seja a mais tradicional, a mais charmosa ou sequer a mais procurada comercialmente, pelo menos se destaca por ser o primeiro grande evento com a participação dos melhores do mundo.

E, pelo simples motivo de a minha criatividade para escrever outras bobagens está de férias, vou arriscar aqui alguns pitacos sobre as chaves masculina e feminina de simples do torneio. A começar pelas mulheres, claro.

Uma chave da morte fará certamente com que a belga Justine Henin se sobressaia. Número um do mundo, em um momento fantástico após se divorciar do marido e deixar de ser a Justine Henin-Hardenne, a baixinha tem tudo para ver suas principais rivais se matarem nas primeiras rodadas do Australian Open.

Sem adversárias fortes pela frente, ela vai ver a russa Maria Sharapova e norte-americana Lindsay Davenport se enfrentarem possivelmente na segunda rodada. Além disso, seu primeiro jogo mais complicado deve acontecer apenas nas quartas-de-final, justamente contra a sobrevivente do jogo entre a musa russa de 1,88m e a experiente e ascendente Davenport.

É claro que há espaços para surpresas. Como a do ano passado, por exemplo, quando a norte-americana Serena Williams, ainda voltando ao circuito após algumas lesões, chegou à final e massacrou a lindinha da Sharapova. Hoje, a fortona da Serena é uma das mais cotadas para o troféu. Sétima cabeça-de-chave, ela deverá pegar nas oitavas-de-final a minha favorita da chave feminina, a tcheca e escultural Nicole Vaidisova.

A minha candidata a zebra deste ano é a austríaca Tamira Paszek, de apenas 17 anos, atual 39ª do mundo e ex-pupila do Larri Passos (isso, aquele carequinha técnico do Guga). Apesar de estrear contra a terceira melhor tenista em atividade, terá pela frente uma Jelena Jankovic combalida após se desgastar e contundir a coxa na Copa Hopman, na primeira semana do ano.

Se vencer a sérvia, deve chegar fácil às oitavas-de-final, quando provavelmente enfrentará Amélie Mauresmo, que não vem bem no circuito. Se superar a francesa com cara marinheiro tatuado, Paszek ganha ainda mais moral para o seu super teste nas quartas-de-final, contra Serena ou Vaidisova.

Quem também pode se destacar, apesar de pouco conhecida, é a húngara Agnes Szávay, de 19 anos. Após disparar no ranking em 2007, deixando o posto de número 189 e chegando ao 20 em menos de 12 meses – e conseguindo nesse meio-tempo chegar às quartas-de-final do US Open e às finais dos Tiers II (de terceira importância no circuito feminino) de New Haven e Pequim (neste, ganhando de Jankovic na final).

Para chegar longe, a loirinha de Kiskunhalas terá que passar pela russa Svetlana Kuznetsova, segunda do mundo e sua algoz no US Open e no Torneio de New Haven, em partida praticamente marcada para as oitavas-de-final.

Correm por fora também a sérvia Ana Ivanovic, que deverá ser a bonitona com mais tempo em quadra em Melbourne, e a meiguinha russa Anna Chakvetadze, uma das minhas prediletas. Quem também vem forte é Venus Williams, campeã de Wimbledon, mas que nunca levantou a taça na Austrália. Já a eslovaca Daniela Hantuchova terá que vencer a própria inconsistência para se sair bem..

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Insignificância cartográfica

Sempre fui fascinado por curiosidades de outros países. Quando pequeno, era viciado em fuçar no atlas vendo a tabela de países e tentava memorizar suas bandeiras e capitais. Depois, abria o livro de capa dura no mapa político e tentava localizar um por um.

Mas uma das coisas que mais me deixou encabulado quando pequeno na geografia mundial foi descobrir que aquelas manchas azuis na fronteira entre Estados Unidos e Canadá eram os lagos Superior, Michigan, Huron, Erie, e Ontario – mais conhecidos como os Grandes Lagos.

Essa descoberta me causou inicialmente uma grata surpresa: lagos também eram representados em mapas, e não só os oceanos. Então passei a procurar incansavelmente a lagoa do Parque do Ibirapuera no mapa.

Nada mais sensato para um molequinho de quatro, cinco ou seis anos: aquela era a maior reserva aquática que eu conhecia e, se os lagos entre Estados Unidos e Canadá estavam no mapa, por que o de São Paulo não estaria também?

Passei então a procurar no mapa mundi. Não encontrei e tentei em um do continente americano. Após falhar na procura, reduzi a escala para um da América do Sul e, depois, para um apenas do Brasil. Mas o conjunto aquático do Ibirapuera não estava nem no mapa da região sudeste e nem no do Estado de São Paulo. Foi uma decepção.

É claro que naquela época eu não sabia que os Grandes Lagos ocupavam, juntos, uma área de 244,3 mil km² e possuíam cerca de 27,7 bilhões de litros de água. Também não tinha a menor noção de que a lagoa do Parque do Ibirapuera ocupa, no total, 0,15 km².

Mas hoje, embora saiba da insignificância da lagoa do Ibirapuera em nível cartográfico, me sinto extremamente reles quando passo por ela, que por sua vez passa a ser o lugar mais importante do mundo e me traz algumas das melhores lembranças de uma infância alegre. Em certos momentos, dá até vontade de reivindicar uma representação no mapa.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Ficando velho

Poucas pessoas sabem, mas eu me sentia o máximo quando alguém mais velho perguntava em que série eu estava no colégio e eu respondia que tinha acabado de formar. Era sempre igual, e as pessoas que haviam me questionado, fossem quem fossem, sempre repetiam a mesma coisa: “Nossa, sério? Putz, tô ficando velho(a)!”.

Já faz dois anos que terminei o colegial, me estressei com a época de vestibulares e fui aprovado em uma faculdade. E a reação das pessoas ao saberem que você está na faculdade não é tão intensa como quando você acaba de se formar. Vai entender... Mas o fato é que parei de ouvir as pessoas falarem que já estão ficando velhas.

Dia desses lembrei de uma amiga mais nova, com quem eu costumava conversar bastante alguns anos atrás. Depois daquelas conversas de praxe, quando um diz que estava com saudades do outro e blábláblá, chegamos ao consenso de que tínhamos que nos reencontrar e colocar os assuntos em dia. Até que ela disse: “Vamos, vamos marcar sim. Mas espera passar a segunda fase da Fuvest porque aí sobra mais tempo. E aí o meu estresse já vai ter passado”.

Não preciso nem dizer que a minha reação não foi outro que não perguntar “Nossa, sério? Putz, tô ficando velho!”. Ela disse que não, que o tempo tinha passado normalmente. Ela era dois anos mais nova do que eu e, como não repetiu nenhuma série, havia conseguido se formar. Mesmo assim não conseguia entender. Até que ela sacramentou: “Mas é verdade, pensa bem! A gente se conheceu quando você tinha acabado de entrar no segundo colegial e eu, na oitava série. Faz as contas”. Fiz e era verdade: já fazia quatro anos.

Percebi, então, que o começo dos anos é um negócio estranho. É quando aquilo que você estava acostumado a chamar de ‘este ano’ já virou ano passado. E que o ‘ano passado’ há era dois anos atrás. E 2004, que não faz muito tempo era uma lembrança mais do que recente na minha memória, já é considerado quatro anos atrás. O tempo, na verdade, não faz muito sentido.

Outra coisa que me fez ficar meio atordoado recentemente. Quando pequeno, via jogos de futebol na televisão e sempre imaginei os jogadores de futebol muito, mas muito mais velhos do que eu. Até mesmo na Copa São Paulo de Juniores, que só tem atletas novos (hoje em dia, com menos de 18 anos).

Esses dias, no entanto, assisti a alguns jogos da Copinha e vi que todos os jogadores, salvo algumas exceções, tinha cara de moleques muito mais novos que eu. Bom... talvez eu esteja ficando velho, mesmo.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Pequeno mistério da humanidade

O Ronaldo Fenômeno tem contrato vitalício com a Nike e, assim, vai receber de graça e para sempre o material esportivo que quiser da empresa norte-americana do logotipo das asas da deusa Victoria. O Mika Hakkinen, por sua vez, tem vínculo com a Mercedes-Benz, e sempre que quiser vai poder dirigir um dos carrões da montadora alemã.

Tem muita gente que sonha com suprimentos vitalícios de várias coisas. Uísque, cerveja, jogos de computadores, videogames, chocolate, DVDs de filmes de Hollywood. Eu, se pudesse escolher algum produto para receber de graça para o resto da minha vida, sem dúvida alguma a minha pedida seria de fones de ouvido.

É, fones de ouvido. Daqueles intra-auriculares e bem normais. Basta apenas serem pequenos o bastante para se adaptarem às minhas orelhas, terem um volume relativamente alto e não contarem com fios muito curtos. Isso me evitaria temporadas de questionamentos sobre o universo e, talvez, me faria uma das pessoas mais felizes do mundo.

Pode parecer besteira, mas não é. Não me lembro de nenhum par de fones de ouvido que tenha durado mais do que um ano nas minhas mãos – e nos meus ouvidos, lógico. Sempre suspeitei de que os pequenos reprodutores de sons não iam com a minha cara, mas a confirmação veio apenas há quase quatro anos, quando ganhei meu primeiro (e único) discman.

Foi minha mãe que me deu o tocador portátil de CDs no meu aniversário de 16 anos. O aparelho, Panasonic, veio com um par dos melhores fones que eu já tive na vida. Mas que não tiveram vida muito longa: funcionaram perfeitamente de abril de 2004 até abril de 2005. Depois um dos fones passou a ter mau contato. Consegui consertá-lo com algumas tiras de fita isolante, mas semanas depois ele pifou de vez. E dos dois lados.

Tentei comprar fones quaisquer no camelô da esquina ou um Cougar ruinzinho em uma loja de bairro, mas ambos duraram apenas cinco dias. Um outro que eu tinha em casa, também vagabundo, parou de funcionar depois de duas semanas.

Até comprei um terceiro par em outro camelô, mas não cheguei a usá-lo. Uma amiga minha, que tinha acabado de voltar dos Estados Unidos, disse que preferia muito mais o modelo que eu tinha comprado por R$ 5 a um Sony que ela tinha comprado por algumas muitas dezenas dólares na Terra do Tio Sam e decidiu trocar. Foi o melhor negócio que fiz na vida. E consegui os melhores fones também.

Só que mesmo importado, Sony e tudo mais, o par gringo não durou mais de um ano e apagou em maio de 2006. Com preguiça de ir atrás de um par novo, optei por comprar um MP3 e ter os tais fones 'de graça'. Embora vagabundos, os pequenos reprodutores que vieram com o meu MP3 duraram seis meses. E, então, passaram mais uma vez a falhar.

Até que, após sair da redação em meu primeiro dia de estágio na Gazeta, resolvi me dar um presente: um par de fones decente. Fui à Fnac e paguei 60 pratas em um Phillips, com garantia de um ano. Ele durou uma semana, mas fiz valer meu direito de consumidor e os troquei por um par novo. E eu parecia ter encontrado o sentido da vida.

Em março, comprei meu ipod e ganhei os fones branquelos da Apple, mais do que na moda. Muito melhores que os meus da Fnac e mais confortáveis. Mas seis meses depois o grave do ouvido esquerdo passou a dar problemas e voltei a usar os que eu tinha comprado em 1º de dezembro de 2006. Até porque aqueles sim eram bons, e tinham garantia de um ano!

A segunda semana de dezembro de 2007 chegou e a garantia dos fones Phillips da Fnac expirou. Coincidentemente ou não, o aparelhinho perdeu 70% de sua potência e não consigo mais ouvir som alto. E, agora, tenho me contentado com os fones da Apple, já descascados, desconfortáveis e incapazes de reproduzir sons graves.

Tentei até amenizar isso ouvindo o Acústico MTV da Legião Urbana, mas não deu muito certo. Qualquer batida no bumbo ou qualquer toque de baixo faz o barulho desagradável soar no meu ouvido esquerdo.

Está na hora de comprar um novo par de fones de ouvido, eu sei. E, enquanto sonho com um suprimento vitalício de fones, tento entender o mistério dos tais aparelhinhos. Mas não dá: é algo tão complexo como a origem do universo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Transportes coletivos

As partes mais divertidas dos meus passeios escolares sempre foram a ida e a volta. Embora tenha conhecido vários lugares interessantes, sempre gostei mais de passar o tempo dentro do ônibus do que fora dele. Era muito mais divertido andar pela cidade, olhar tudo pela janelinha e ainda sentir um vento gostoso no cabelo. Isso sem falar nas brincadeiras ou conversas que sempre rolavam entre todos os alunos da sala.

Mas nem por isso tomei gosto pelo transporte coletivo urbano. Por sempre morar e estudar, e agora trabalhar perto de uma estação metroviária, acabei sem querer adotando o metrô como meu preferido. E, mal-acostumado, passei a achar todos os lugares a mais de 1,5 km de uma estação extremamente longínquos.

Só que às vezes é preciso ir a alguns desses lugares onde só os ônibus chegam. Hoje, por exemplo. Antes de sair de casa, entrei no site da SPTrans, anotei direitinho o número e o nome da linha que eu deveria tomar e saí de casa. Após chegar ao ponto, passei a esperar pelo Largo São Francisco. Não imaginei que demoraria muito, até porque semana passada, quando precisei andar de ônibus, encontrei vários deles enquanto esperava por outro.

No entanto, as coisas nem sempre seguem a lógica no ponto de ônibus. Durante o tempo em que fiquei parado, de braços cruzados, esperando o Largo São Francisco, vi contados três Perdizes (sendo dois em seqüência), cinco Largos do Cambuci, uns oito que iam para o Hospital São Paulo e... pior: cinco ou seis Paraísos (na hora, lembrei que em 2006 fiquei 40 minutos em um ponto esperando por este trem que, enfim, não apareceu).

Como sempre acontece quando tenho que ir a algum lugar de ônibus, desisto daquele por que eu esperei por tanto tempo e troco-o pelo primeiro que passa por algum lugar próximo ao meu destino. Desta vez, peguei um Parque do Ibirapuera, que parou no mesmo lugar onde eu planejava parar com o Largo do São Francisco.

A volta de ônibus costuma ser pior ainda. Além de sempre esquecer o nome da linha que eu devo tomar na hora de retornar à minha casa (sempre decoro como faço pra chegar, e nunca pra voltar), não tenho muita paciência para esperar. Costumo, então, subir no primeiro que passará em alguma estação do metrô mais ou menos perto de casa. Muito mais fácil e, talvez, até mais rápido.

É andando de ônibus que eu percebo o quão sortudo eu sou por poder fazer todas as coisas necessárias de metrô – muito mais rápido, prático, confortável e ainda evita estresses desnecessários.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Primeira do ano

A primeira ligação que recebi em 2008 foi da Carol Zilli, uma grande amiga que não estava em São Paulo, pois viajara para passar os últimos dias do ano passado e os primeiros deste que se inicia. E a primeira coisa que ela me disse foi algo do tipo: “Espero que você tenha feito alguma coisa boa hoje à noite, porque tudo o que for feito hoje vai significar as suas atitudes ao longo do ano”.

Corei um pouco quando ela disse isso e respondi que não havia feito nada de mais, apenas tinha repetido as tradições dos últimos anos. Mas isso não tira o mérito do que acabou acontecendo.

Momentos depois de desligar o telefone, desci para encher a cara com alguns antigos amigos do condomínio onde moro. Pela primeira vez nas quase duas décadas de amizade conseguimos descolar de graça o salão de festas (sempre foi cobrada uma taxa ligeiramente salgada para usar o espaço que não tem nada a não ser uma geladeira, um banheiro e algumas tomadas).

Com uma quantidade agradável de bebidas diversas, alcoólicas ou não, conversamos muito. Demos muitas risadas, conversamos, falamos sobre os mesmos assuntos de sempre e alguns outros inéditos, apesar do longo conhecimento de todos os quase 20 presentes no local. Incrível como sempre há coisas inéditas em nossas conversas apesar de tanta convivência.

Enquanto todos conversavam entre todos, o tempo foi passando. E, quando todos perceberam, já estava claro de novo. Pela primeira vez em tantos anos morando no mesmo lugar, todos amanheciam na pracinha, sem sono e nem tão bêbados como era de se esperar. E ainda houve tempo para estourar champanhes. Até que subi para o meu apartamento às 9 horas, caí na cama e só acordei às 13h30. Tenho dormido pouco, eu sei.

Agora há noite, lembrei das palavras da Carol no telefone nos primeiros minutos do ano e me senti mais orgulhoso. Na madrugada deste 1º de janeiro, conversei com alguns dos meus melhores amigos, bebi e me aproximei de outros que não eram mais do que colegas, tive horas incríveis.

Ainda que o risco de queimar a língua seja enorme, passei a imaginar um 2008 bem melhor do que eu imaginava dias atrás. Não custa nada ser um pouquinho otimista de vez em quando.