sábado, 30 de agosto de 2008

Noite de sábado

Hoje é sábado. Está de noite. Já tem duas horas que passou da meia-noite e você continua aí, deitado no sofá de casa dividindo espaço com o cachorro. Está encolhido, para falar a verdade – o cachorro, folgado, dorme esparramado em uma das três almofadas, com a cabeça apoiada sobre suas canelas. Mesmo com cãibras você não pode se mexer, pois acordaria o coitado do bicho.

Mas o sono do mascote é o que menos te preocupa neste momento. Você está zapeando os canais em busca de algo interessante para assistir e tentar não se lembrar que ela está lá e você não. E não está porque... simplesmente não quis. Ela está lá fazendo sabe lá o que você está aí, fazendo simplesmente nada.

Hoje é a formatura dela. Ela te chamou para ir, disse que abriria mão de um dos convites da família para que você fosse. Mas você, anti-social, cuidadoso e até certo ponto medroso recusou. Era muita pressão, não saberia lidar com isso. Poderia pôr tudo a perder em uma noite. Poderia perder em uma noite aquilo que levou meses para conseguir.

Neste exato momento, considera-se um perfeito idiota por não ter ido. Poderia estar lá, bêbado, inventando passos de dança ao lado dela. Poderia estar sóbrio, vendo-a dançar já bêbada e se declarando e se insinuando para você a cada batida da música. Poderiam estar os dois sóbrios tentando conversar. Mas não. Você está aí, com cãibras nas pernas e passando frio no sofá (a janela da varanda ficou aberta, mas você não pode ir lá fechar porque acordaria o cachorro, lembra?).

Você está pensando nela, mas... será que ela está pensando em você? Será que enquanto se despede de todas as amigas com quem aprendeu a ser bacharel em direito (só vai ser advogada depois que passar na prova da OAB), ela sente sua falta? Será que vai beber um pouco mais e te ligar bêbada, dizendo que viu um cara igualzinho a você na formatura e achou que era você fazendo surpresa?

Você pensa um pouco nisso e começa a se preocupar: e se ela realmente encontrar um cara lá parecido com você, não resolver falar nada e já agarrar o cara achando que era você? Sua cabeça dói (não só pelas cervejas que tomou com os amigos durante o jogo de futebol no estádio naquela tarde, mas por medo). Seu coração dispara. Melhor não pensar.

Mas ao mesmo tempo algo lhe diz que fez bem em não ter ido. Era muito cedo para que você conhecesse a família dela. E se passasse uma impressão ruim? E se o padrinho dela bebesse além da conta e dissesse que não foi com a tua cara? E se a mãe dela perguntar o que você faz da vida e o pai dela não gostar da tua profissão? E se... e se a avó dela começasse a falar do ex-namorado dela e trocasse os nomes? E pior: e se o ex-namorado dela estiver lá?

Você vai ficar aí no sofá com um medo tremendo até conseguir, com muita sorte, pegar no sono. Então vai acordar no dia seguinte com ela te ligando já durante o Faustão dizendo que encheu a cara mesmo na festa e viu um cara lá parecido com você. Que foi até falar com ele, mas o cara jurou que não se chamava Leonardo, mas sim Guilherme. E que ela passou a noite inteira pensando em você.

E aí você vai perceber que acordou mesmo às 4 da manhã, ainda no sofá, e ver que sonhou com a ligação dela. E não vai conseguir dormir, com medo de o tal do Guilherme resolver se chamar Leonardo.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Mentiras e contradições

Não faz muito tempo, admito que tomei um fora. A garota com quem estava saindo algumas semanas atrás de uma hora para outra, ou quase isso, resolveu terminar comigo. Mas não foi nada traumático, pelo contrário. Tive uma certa vontade de rir quando ela chegou para mim e disse, mais ou menos assim:

“Fê, você é um cara fora do comum e eu queria me dar uma chance para ficar com um cara legal que nem você. Poxa, você é querido, inteligente (?), engraçado (??), bonito (???) e não me arrependo de nada que aconteceu entre a gente. Só que eu percebi que a tua amizade é mais importante para mim do que o que estava acontecendo entre nós. Eu te considero um grande amigo e jamais quero perder o contato com você, sabe?”.

Parei alguns segundos para refletir e deixei escapar: “Humm... olha, eu até te entendo, fulana, mas... você parou pra pensar que antes de a gente se reaproximar nas últimas semanas fazia três anos que a gente não se via? Desculpe, mas eu não te considero minha amiga”. Pareceu meio grosso, embora não tenha sido essa a minha intenção.

“Ah, é que eu não me apaixonei por você e estava me sentindo mal com isso, sabe?”. Foi então que eu entendi qual era a dela, e me antecipei: “Olha, eu não estou apaixonado por você, viu? E... ah, confesso que estava até me sentindo mal comigo mesmo por não conseguir gostar de você, por mais que eu tentasse”.

“Ah, você não estava apaixonado por mim?”, perguntou, meio incrédula. “Nah”, respondi sinceramente. “Fico mais tranqüila assim. É que na verdade eu conheci um cara na minha viagem no final de semana e me apaixonei perdidamente por ele”, confessou. “Mas não queria perder contato com você de jeito nenhum”, continuou.

É claro que eu tinha uma superstição meio pessimista de que algo assim tinha acontecido (traumas pessoais sobre Campos do Jordão, vale um post especial daqui uns anos), e para mim foi até... ahn, melhor. Pelo menos não fui eu quem teve que terminar o que nem tinha começado, e isso me deixou aliviado. Só que... bom, não nos falamos mais desde então.

Mas no fundo essa conversa me fez perceber o quão é engraçado receber um fora de uma garota. Quer dizer... não, não é nada divertido (e eu já me deprimi muito outrora por alguns tocos recebidos), mas... é interessante ver como as garotas se sentem extremamente culpadas por falarem um não sob alguma desculpa-clichê.

Há uns três meses, deparei-me no metrô uma das minhas seis grandes ex-paixões dos últimos 20 anos. O encontro casual aconteceu na baldeação da linha verde para a azul, e pude perceber a fisionomia constrangida que tomou conta do rosto da garota, que hoje deve ter lá seus 18 anos (na época de minha paixão platônica eu tinha 17 anos e ela, 15). Sim, ela havia me reconhecido mesmo com barba e um cabelo... ahn, diferente.

Descemos praticamente juntos à plataforma de embarque. Eu, com as mãos nos bolsos, assobiando a música que tocava nos meus ouvidos. Ela, tentando fingir que não me via. Mas eu tinha uma vontade enorme de conversar com ela, saber o que estava fazendo da vida e até se estava namorando.

Chegamos à plataforma, e cada um foi para um lado. Teoricamente deveríamos ficar de costas um para o outro esperando nossos respectivos trens, mas ela continuou me olhando. Quando eu me virava para olhá-la, ela disfarçava e virava o rosto. Ficamos nesse empate por 0 a 0 bem engraçado durante uns cinco minutos, até que o trem dela chegou e ela foi embora. Ainda me olhando.

Fiquei bem curioso para falar com ela e perguntar sobre a tia que ela matou para não sair comigo em uma sexta-feira e da avó cujo fêmur ela quebrou para evitar um encontro comigo em um sábado. Claro que deixaria essas ironias apenas para os momentos finais, mas... ela não parecia estar nada à vontade perto de mim. Constrangida, essa é a palavra certa.

E é engraçado o fato de ela estar assim enquanto eu estava numa boa. Uma mentira de uma mulher pode retumbar muito mal para um homem, quando este descobre a verdade. Mas que é bem engraçado ver uma mulher constrangida por cair em contradição, isso é.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Auto-(des)conhecimento

Não sei me definir muito bem, mas quem sabe?

Não sei exatamente se sou tímido exagerado ou moderado. Se sou extrovertido nos momentos oportunos ou um cara que dá sorte quando tenta uma tirada de humor. Pra falar a verdade, também não sei se sou divertido ou um mala que banca o engraçadinho.

Outra coisa que eu não sei é se sou um cara meio sozinho ou que apenas gosta de passar grande parte do tempo consigo mesmo. E nem sei se sou um bom observador ou se dou sorte com alguma idéia que atormenta a minha cabeça.

Tsc. O que eu estou falando? Não sei nem dizer se sou ligeiramente depressivo ou se não sei aproveitar muito bem os momentos mais alegres. Às vezes fico em dúvida se sou um sonhador ou um inocente. Ou se sou pessimista ou azarado. Bah, não sei nem se me sinto melhor com ou sem barba.

Acho que tenho todas essas incertezas porque... sei lá, tenho uma facilidade enorme de mudar de humor em pouquíssimo tempo. Consigo ficar extremamente chateado e de péssimo humor por algum motivo idiota, me animar instantaneamente a ponto de quase explodir a troco de algo não lá muito significativo... e depois ver qualquer coisa que me deprime de novo. E deixar o ciclo se reiniciar. Todos os dias por mais 20 anos.

Esses ciclos são engraçados, até (seriam mais se não tivessem acontecido comigo, claro). Já houve uma vez em que consegui sair de uma das minhas fases mais obscuras e, em pouquíssimo tempo, viver talvez o momento mais empolgante até hoje. Também já consegui viver o feriado mais insano e intenso, que também se tornou o mais deprimente. Histórias.

Nos últimos momentos, também não soube se queria mesmo continuar escrevendo toda essa baboseira ou se isso estava realmente interessante. Sei lá, continuo até o próximo lapso.

Não sei por que diabos tenho uma intuição que às vezes me diz “não faça isso, idiota, vai ser melhor”. Mas eu não a ouço, banco o teimoso e... e acabo percebendo que tenho uma ótima intuição.

E então...

... e então eu me pergunto se sou mesmo um fracasso com o sexo feminino ou se apenas escolho as mulheres erradas.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Platônico

Vira-a mais detalhadamente pela primeira vez já tinha um certo tempo, alguns meses atrás. Era quase meia-noite quando ele deixava o trabalho e ia para um bar para ver o final do jogo e ela estava na porta do prédio esperando a carona. Só que no mesmo instante em que passava por trás dela o tal carro chegou, e ela entrou e cumprimentou o motorista com um beijo nos lábios.

Ele, que antes tinha visto a tal garota de relance algumas vezes pelos corredores do trabalho, passou a observá-la com mais atenção. Aquele negócio de que homem só dá valor a uma mulher quando a vê com um outro, sabe? Pois então.

Passaram-se alguns meses até que ele foi promovido no trabalho. Deixou de ser o estagiário que escrevia o horóscopo e assinou seu primeiro contrato profissional. Também deixaria os 12 símbolos do zodíaco para escrever reportagens sobre música (agora sim seria gente, ele pensava).

Com o novo cargo, abandonou o antigo computador branco com Windows 1998 e um mouse que não funcionava e assumiu um daqueles pretos de última geração, com monitor fino de tela plana e mouse ótico.

Mas a agilidade da nova máquina não foi o ponto máximo de sua promoção. E nem a conta no banco, que melhoraria um pouco a partir do próximo dia 5. O que ele mais gostou nessa história toda foi o fato de a sua nova baia ficar virada para o corredor. Não porque via o movimento e escapava da cegueira de final de tarde com o pôr do sol, e sim porque percebeu que trabalhava no mesmo andar que ela.

Inicialmente pensou que ela estava apenas visitando o andar. Vendo-a por uma semana inteira todos os dias, constatou que ela trabalhava na redação ao lado, na parte de crítica cinematográfica. Isso não era um bom sinal – ele entendia tanto de filmes como um homem solteiro sabe trocar uma fralda. E as semanas e os meses rolaram...

Ele começou a perceber algumas peculiaridades naquela garota, que não estamparia uma capa de revista de beleza (não era loira, não tinha olhos claros, não tinha um peitão siliconado ou algo do gênero). Achava-se um cara sortudo por causa disso – talvez a concorrência não fosse desleal. E a cada dia gostava mais e mais dos cabelos pretos e ensaiadamente desajeitados da menina. De sua pele clara, que deixava transparecer vez ou outra uma olheira sob os olhos castanhos. Além disso, ela se vestia de uma forma extremamente... estilosa? Era o que ele dizia.

Passou a imaginar qual seria o nome de sua admirada (não tão secretamente, pois ele gostava de dar uma olhada nos olhos dela quando ela passava à sua frente no corredor). Carla? Não, muito sério. Alessandra? Não, muito menininha. E se ela tivesse um nome exótico, do tipo... Jelena? Hum, ela tinha cara de ter um nome exótico, mesmo. Tentou arranjar um jeito de descobrir.

Não pensou em um plano mirabolante para descobrir o nome dela. Sabia que poderia tentar uma abordagem quando desse sorte e cruzasse com ela no elevador. Poderia tentar alguma palavra bem-humorada, arrancar um sorriso dela e iniciar uma conversa. Não se preocupou, sabia que tinha apenas de esperar.

Até que um dia, não demorou muito tempo, eles se encontraram. Ele tinha acabado de sair do elevador e ela, deixando a redação, saía para fazer a hora do almoço. Pensou em segurar o elevador, mas seria cavalheirismo demais visto que ela ainda passava pela porta. Começaram a andar um na direção do outro e ele pensou em falar um “boa tarde”, mas seria formal e velho demais.

De tanto pensar, percebeu que era melhor não falar nada. Orgulhoso, fingiu que não viu aquela linda garota que passava de óculos escuros e fone nos ouvidos ao seu lado. Tentou se fazer de difícil. E ela nem percebeu nada.

Ela, para falar a verdade, nem sabia da existência daquele colega de redação.

domingo, 24 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (Festa de encerramento)

Foram exatos 20 dias seguidos de expediente olímpico, com uma carga horária média de 7h30 por dia (50% a mais do que meu expediente normal, de 5 horas diárias). Foram em média 15 notícias por dia, cada uma com média de 1.500 caracteres cada. Vamos às contas.

No total, pode-se dizer que foram 150 horas de trabalho, 300 notícias e 450 mil caracteres (para se ter uma idéia, a minha faculdade exige que um livro-reportagem de Trabalho de Conclusão de Curso tenha, no mínimo, 150 mil caracteres). Esse número realmente me assustou – eu poderia ter escrito um livro, ou até dois.

Mas os números não são a melhor maneira de exemplificar o quão paranóico foi a cobertura dos Jogos Olímpicos de Pequim para a minha pessoa. Não fiz as contas, mas sinto que passei mais tempo trabalhando do que dormindo. Além disso, acaba ficando mais ou menos obrigado a escolher: sono ou almoço. Optava pelo sono, eram 30 minutos sagrados.

Tive pouquíssimas aparições sociais nesse meio-tempo. Em 20 dias, o máximo que consegui foram três horas totais de bar, um almoço com uma amiga, um jantar de aniversário de outra amiga e um ou outro compromisso de última hora. Deixei de responder muitos e-mails ou outras mensagens pessoais. Poderia me considerar em um mosteiro, se não trabalhasse em uma redação.

Em quase três semanas, aumentei consideravelmente a quantidade de café consumida. Necessário para ficar acordado. Minha alimentação foi sem dúvida para o beleléu com coisas rápidas compradas pela Paulista para não chegar (ainda mais) atrasado. Nos raros momentos de almoço ao pé da letra, vibrava comendo espinafre, brócolis ou alface.

Vida saudável não foi mesmo a minha máxima durante as Olimpíadas, mas consegui até bater umas raquetadas nesse período. Muito pouco, é claro. Acordar cedo? Bom, na maioria dos dias eu dormia com o sol raiando. Ok, vamos mudar de assunto – não quero comentar sobre as minhas olheiras.

Mas o pior mesmo nesse período foi o aspecto psicológico. Tive alterações homéricas de humor. Andei estressado. Cerca de 90% dos meus assuntos era esporte. Atendia o telefone pensando em falar o nome da empresa (e algumas vezes falando), trocava o nome de pessoas, confundia os dias da semana e de alguns eventos (quase todos eram Olimpíadas).

Só que nem tudo é motivo para reclamação. Pude curtir as madrugadas muito mais do que o normal (sempre tinha alguma coisa interessante para ver na televisão), aproveitei para entender um pouco mais de uma ou outra modalidade, vi alguns dos atletas que eu já havia entrevistado por aqui competindo com a nata do esporte mundial, fui entrevistado por um jornal chileno... e, em se tratando de blog, pude reeditar a fórmula das rapidinhas. Que cativou até novos leitores e leitoras para este espaço.

Mas acabou. Os Jogos Olímpicos de Pequim acabaram e só voltam dentro de quatro anos. Respirei aliviado quando vi a tocha olímpica se apagar, mas... mas como sempre acontece ao término de um grande evento, bateu até uma tristeza. Aquela coisa de fim de festa.

Bom... a tocha apagou lá em Pequim, mas apenas com este post encerro a série das rapidinhas olímpicas. Fórmula que deu certo e voltará dentro de algum tempo, com algum outro evento que valha a pena. Por ora, este blog retoma sua programação normal. Ufa!

(Últimas!!) Rapidinhas olímpicas:

Paranóia:
Percebi que tinha atingido o meu limite profissional quando passei uma tarde inteira tentando ligar para uma jogadora da seleção de vôlei que não foi convocada para Pequim. Ela não atendeu e eu, na tentativa de conseguir falar com ela, até mandei uma mensagem de celular tentando marcar a entrevista. Claro que não deu certo, né?

Amarelada?: Eu poderia falar que foi mais uma amarelada. Que foi azar. Que foi um fracasso, uma decepção, um vexame, uma pataquada. Que me fez perder preciosíssimas horas de sono. Mas... ah, por mais que eu queira, não tem como criticar a seleção brasileira masculina de vôlei, né? Os caras simplesmente ganharam tudo nos últimos oito anos, seria uma puta injustiça falar em fracasso.

Comparação: Posso não criticar, mas nada me impede de fazer um comentário. Bom, com certeza as pessoas aí conhecem o Murilo Endres, irmão do Gustavo. Uma vez fui a um jogo da seleção de vôlei aqui em São Paulo com uma amiga e ela não parava de falar que o cara era lindo, que o cara era sei lá o quê e blábláblá. Vendo o cara todos os dias na tevê recentemente, notei que o Murilo é quase o irmão gêmeo loiro do Boça. E percebi que entender o gosto feminino é uma missão quase que impossível.

Bônus: É incrível o que a Globo conseguiu. Após as competições, mais de 95% dos atletas que eu vi dando entrevista para os repórteres da Vênus Platinada bem que tentavam contornar, mas acabavam chorando em frente às câmeras após as várias investidas dos repórteres. A lista é grande, passando por Jade Barbosa (claro!), meninas do futebol, César Cielo, Maurren Maggi, judocas em geral, pessoal do vôlei praia, etc., etc., etc. Não há dúvidas de que eles devem ganhar pelo menos umas 500 pratas por cada lágrima derramada em rede nacional.

O último choro: Essa insistência dos repórteres da Globo atingiu seu ápice de inconveniência com o Marcelinho, levantador da seleção de vôlei. O cara já tinha perdido o jogo, já estava se matando para não abrir o berreiro na televisão... até ensaiou algumas palavras de explicação para todo o Brasil e depois pediu para o repórter falar com o Gustavo, que também estava lá. “Marcelinho, a sua família está ao vivo assistindo a você”. O cara, que virou pai e ainda não viu o filho, não conseguiu mais segurar. Agora me diz: pra que fazer isso?

Direitos autorais: Imagino que a maioria dos vídeos que foram linkados aqui durante esse período rapidinhas olímpicas já foi retirada do ar no YouTube. Por causa dos direitos de transmissão dos Jogos, os trechos eram bloqueados pelo site cerca de dois dias após irem ao ar. Não precisava, hunf.

Escola eslava: Quando o Brasil perdeu o Pré-olímpico das Américas de basquete masculino e ficou fora de Pequim, o Oscar Schmidt falou aos quatro ventos que a nossa seleção tinha que seguir a escola eslava de basquete. Na hora não questionei – era a opinião de um monstro sagrado na bola-na-cesta, não? Mas os dois países eslavos nas Olimpíadas não tiveram muito sucesso: a Rússia ficou pela primeira fase e a Croácia caiu nas quartas-de-final. Será que a gente ainda tem que seguir um padrão perdedor? Já que não temos o modelo brasileiro de basquete (ufa!), não seria mais fácil seguir o modelo vencedor de Estados Unidos, Espanha ou Argentina?

Raios, duas vezes, mesmos lugares...: No ano passado, quando o Brasil ficou por umas duas horas à frente de Cuba no quadro de medalhas do Pan-americano do Rio de Janeiro, até dei um print screen do quadro de medalhas (imagem que jaz no arquivo-morto do meu computador falecido) achando que jamais veria algo semelhante. Um ano depois, não é que o esporte verde-amarelo (mais amarelo do que verde) conseguiu, e com cinco postos de vantagem (ficamos no 23º lugar, enquanto os atletas ex-Fidel terminaram na 28ª colocação)? Claro que não é lá tão mérito nosso, mas sim demérito cos caribenhos. Ainda assim, um quadro de medalhas histórico.

Futuro: Não é preciso ser gênio para saber. Modalidades como vela (sobretudo classes como RS:X e 470), taekwondo, salto em distância, salto com vara, judô, taekwondo e até mesmo a ginástica artística e o futebol feminino só serão lembradas dentro de três anos, com os Jogos Pan-americanos. Alguém duvida?

sábado, 23 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (Quase)

O estresse aumenta à medida que o fim das Olimpíadas se aproxima.

Resta saber o que termina antes: a minha paciência ou os Jogos de Pequim.

Não sei, ainda não sei. Amanhã eu respondo.

Rapidinhas olímpicas, apenas por obrigação:

Corujinha: Começou no bar, depois da aula. Estava pagando a conta quando a Natália Falavigna disputou sua primeira luta. Comecei a discorrer com uns amigos da sala sobre o quanto a Natália era educada, simpática, tinha um sorriso legal, era linda e... tinha o mesmo tamanho que eu. O cara que bebia sozinho no balcão, olhou para mim e deu um sorrisinho, do tipo “putz, ela é baixinha”. Fingi que não vi.

Coruja: Continuou em casa, na madrugada. A Natália pisou no tatame lá pelas 4 da manhã e eu fiquei acordado para ver a minha ídolo olímpico ganhar mais uma vez e entrar na disputa de uma medalha. Acho que não tenho lá uma personalidade muito forte: basta eu entrevistar um atleta simpático para que eu comece a torcer por ele.

Corujão: O dia estava clareando lá fora quando a Natália foi lutar nas semifinais contra uma nipo-nórdica (na verdade, sul-coreana que defendia a Noruega). Empate nos três rounds normais, na prorrogação... e aí os árbitros decidiram pela vitória da adversária, que foi mais ofensiva durante o combate. Todo mundo já esperava isso, uma vez que a brasileira apenas lutava no contra-ataque... menos o comentarista da Globo, que dizia que a Natália tinha sido superior o combate inteiro. Fui dormir. Chateado, mas fui dormir. E nem vi a luta em que a Natália ganhou o bronze.

Desamarelada Virada: E não é que a seleção feminina de vôlei cravou a medalha de ouro? Depois de protagonizarem a maior amarelada brasileira da história em Atenas-2004 (perdeu oito match points na semifinal contra a Rússia), as meninas do Zé Roberto fizeram bonito e ganharam bem dos Estados Unidos. Um time que aprendeu a desamarelar. E que provou a importância de um trabalho psicológico com atletas brasileiros (com jornalistas esportivos também seria interessante esse trabalho em um momento como este).

Comentários: Levantadora da equipe de 2004, a Fernanda Venturini saiu de Atenas dizendo “Se quem estava virando as bolas no jogo não conseguiu definir, que culpa eu tenho?” e “Talvez se eu tivesse seguido minha intuição e virado uma bola de segunda, a história tivesse sido outra”. Hoje, depois do ouro, a Fernanda recebeu em seu blog uma série de comentários, ahn, nada amistosos. Dentre eles, o mais engraçado é o “Vai lavar roupa, sua cara de trouxa”. Haha.

Espírito olímpico: Você treina a sua vida inteira. Passa quatro anos enclausurado com apenas uma idéia fixa em mente: conseguir uma medalha olímpica. Vence as duas primeiras lutas, acaba perdendo uma e vai lá disputar o bronze. Leva vantagem e fica a 7s da vitória, quando resolve dar uma catimbada para esfriar o clima. Aí vacila, não vê o tempo do atendimento médico terminar e é declarado perdedor. Perde a luta. Perde a medalha. Perde a viagem para o outro lado do mundo. Perde tudo, inclusive a cabeça. Foi o que aconteceu com o taekwondista cubano Angel Matos. Não que isso justifique a cagada que ele fez hoje, mas... sei lá, vai entender...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (29/12, 20 meses depois)

Era 29 de dezembro de 2006 quando eu fiz a minha primeira pauta externa, para cobrir a São Silvestrinha – evento da casa, sabe como é. Mas estava em êxtase, um pouco nervoso e vislumbrado com a possibilidade de ganhar copinhos d’água à vontade.

No meio do evento, apareceu por lá no Ginásio do Ibirapuera uma mulher magrela, meio feiosa, com canelas de sabiá. Apertei os olhos por trás do óculos e reconheci: era a Maurren Maggi, campeã dos Jogos de Winnipeg-1999, mas que ficou de fora dos Jogos de Atenas-2004 por causa de doping.

Tinha ouvido falar que a Maurren estava voltando a competir depois da suspensão de dois anos, poderia entrevistá-la e tal. Tremi, confesso. Minhas pernas bambearam levemente, meu coração teve um sobressalto... um misto de ansiedade, timidez e muitas outras coisas. Sensação semelhante àquela de tomar a iniciativa fatal para dar o primeiro beijo em uma garota.

Depois de muito ensaiar algumas perguntas, fui falar com a Maurren. Não lembro exatamente as perguntas que fiz, mas aposto que tive um desempenho péssimo na entrevista. Mas, durante a conversa, ela disse uma coisa legal: “Vou brigar por medalha”, respondendo à minha pergunta mal-formulada sobre as suas expectativas no Pan do Rio, que aconteceriam dali a oito meses. É claro que duvidei, mas nem por isso deixei de cravar a frase na manchete.

(Nota da redação: fui vasculhar a tal notícia de quase dois anos atrás do site. Incrível como eu consigo ter vergonha de quase tudo o que eu escrevi dois anos atrás – o que me faz perguntar como diabos eu consegui o emprego)

Seja lá como for, a Maurren calou a minha boca quando faturou o ouro no Pan do Rio. Depois, conseguiu a vaga para os Jogos Olímpicos de Pequim e eu não apostava em nada além do que... sei lá, uma participação de sexto lugar da brasileira.

E minha boca foi calada mais uma vez. Depois de um dia decepcionante, não é que ela conseguiu colocar um pouco de brilho no amarelo e faturou um inédito ouro para o atletismo brasileiro feminino? Estava meio acordado e meio dormindo quando ouvi a Maurren pular 7,04m. Só acordei de vez quando a jamaicana foi fazer seu salto – três antes de a brasileira ratificar o título olímpico.

Por mais que eu não acreditasse (e quase ninguém, para falar a verdade), a Maurren Maggi ganhou a segunda medalha de ouro do Brasil em Pequim. Ela, a primeira atleta que eu entrevistei pessoalmente na minha curta carreira. Ela, que não respondeu atravessado para o estagiário que tinha três semanas de trabalho. Ela, que me prometeu ganhar medalha no Pan e conseguiu ainda mais. Um feito notável, mas que não escapará das famigeradas, maldosas, repetitivas e nada rápidas rapidinhas olímpicas, que vêm a seguir.

Rapidinhas olímpicas:

Decepção infantil: Tem coisa mais triste do que decepcionar seus filhos? Não sou a pessoa mais cotada para responder a essa pergunta porque nunca tive filhos (creio eu), mas tentei me colocar no lugar da Maurren. Confirmada a medalha de ouro do Brasil, lá estava a onipresente Globo para entrevistar a campeã, com link ao vivo de casa. E lá estava a Sofia, filhinha da Maurren, que pegou o microfone para conversar com a mamãe e... reclamou: “Mamãe, eu queria a de prata. E agora?”, reclamou a menininha. Tadinha... tão novinha e já incorporando o espírito olímpico loser realista brasileiro.

Lengalenga ao vivo: Na mesma conversa entre Maurren Higa Maggi e Sofia, uma cena impagável. Mãe e filha quase começaram uma ferrenha discussão por causa de um assunto curioso: quem amava mais quem. “Te amo, mamãe”, disse a Sofia. “Filha, a mamãe te ama muito”, respondeu a mãe de ouro. “Eu te amo bastante, mamãe”. “Não, filha, a mamãe te ama mais”, treplicou a Maurren, subindo o tom da voz em meio tom. Isso ao vivo, para todo o Brasil. Parecia aquele papo de namoradinhos terminando uma conversa no telefone: “Desliga você”. “Não, desliga você”. “Desliga você, vai”. “Eu não vou desligar”. “Então os dois desligam juntos”. “Tá”. “No três”. “Um, dois... três”. “Ah, você não desligou?”. “Não consegui”. “Tá, agora eu desligo”. “Tá”. “Não consigo, desliga você”. Até que chega uma boa alma, puxa o fio do telefone da tomada e deixa os dois pombinhos falando sozinhos: “Alô? Alô?”

Galvão, o mestre: A Maurren Maggi conseguiu algo que eu deveria ter feito quando ganhei minha medalha de ouro no xadrez por equipes na Oliarqui-1999: um discurso. E o ponto máximo de sua oratória foi quando agradeceu ao apoio recebido por ele: o mestre, o gênio, o inquestionável, o único, o incólume, o onipresente, o onipontente e o nada onisciente Galvão “é ouro, é ouro, é ouro, é ouro, é ouro, é ouro” Bueno. Quando eu ganhar mais uma medalha de ouro por aí (tipo nunca), prometo incluir no meu discurso o Galvão e, claro, o Silvio Luiz.

Espírito brasileiro: Se eu escolhesse uma modalidade para representar o maior fracasso brasileiro nas Olimpíadas, por certo que minha opção seriam os saltos ornamentais. Depois de César Castro (oitavo do Mundial) pipocar e terminar em 23º, Juliana Veloso cair que nem um saco de batata na água e admitir que tem medo de altura, desta vez foi o Cassius Duran, ficar em 24º da plataforma e dizer que saiu feliz com o resultado. Ele, o atleta que no ano passado brigou e fez birra com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) para competir em todas as provas do Pan e não conseguir nada além de um sétimo lugar em todas, mostrou que não é apenas a Juliana Veloso que tem o perfil fracassado otimista da equipe.

Surreal: Deixando as palhaçadas de lado, vi ontem uma cena que me deixaria emocionado se não estivesse com a cabeça tão atordoada por causa de Pequim-2008. Eram os instantes finais da prova de 50 km da marcha atlética, com o italiano Alex Schwarzer entrando no Estádio Olímpico após rebolar sob um sol de mais de 30º durante nada menos do que 50 mil metros. Fiquei imaginando a sensação de passar por um sacrifício desses, entrar na pista de atletismo, ser aplaudido por mais de 70 mil pessoas e ser visto pelo mundo inteiro. Claro que o italiano não resistiu e caiu no choro assim que entrou no estádio. O mais bonito foi ver que ele dedicou a medalha para o avô, que tinha morrido um mês antes.

Tititi-lelelê: Estava já além do horário na redação quando o telefone toca na mesa do chefe. Depois de uns sete toques e ninguém atender (o chefe já tinha ido embora), levantei correndo para atender o telefone: “Gazeta”. “Caceta?”. “Humm.. sí, Gazeta”. “Hola, yo soy _____, de periódico ____, de Chile (leia: Tilê). Con quien yo puedo hablar sobre Juegos Olimpicos?”, “Yo puedo hablar, señor”, “Oh, perfecto. Yo estoy haciendo un reportaje especial con periodistas de los mejores vehículos deportivos del mundo sobre quien fue lo mejor deportista de Pekín: Usain Bolt o Michel Phelps?”. “Uh, pregunta difícil, no? Yo tengo que pensar, un minutito…”. Pensei rapidamente, fiz um balanço rápido e iniciei ali um discurso em cima do muro, mas acabei escolhendo o Phelps, óbvio. O cara do outro lado da linha e do outro lado das fronteiras argentinas, bem simpático, perguntou meu nome para colocar na matéria. “Felipe Held – ache, e, ele, de”, soletrei. “Por sinal, señor, hay un tenista de Chile con lo mismo nombre que yo, haha”. O cara, no entanto, não se importou com meu xará chileno. Tudo bem, vai. Mas amanhã o nome do ex-tenista chileno Felipe Held vai ganhar lá seu espaço na mídia chilena.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (Amarelo-Brasil)

Se eu estivesse em meus primeiros anos de infância ainda tentando construir alguma estrutura de pensamento, certamente duvidaria de qualquer professora da escolinha que tentasse me ensinar que o pau-brasil produzia uma tinta avermelhada. De tanta gente dizendo e outras comprovando, teria na minha cabeça para o resto da vida que a árvore símbolo do nosso país era extremamente amarela.

Tudo porque acho que nunca vi uma quinta-feira tão brochante e amarela como a de hoje, dia em que três ouros praticamente esperados se tornaram acabaram perdendo o brilho para os atletas brasileiros, que se contentariam apenas com um prêmio amarelado.

Ok, o dia começou bem com a prata do Robert Scheidt e do Bruno Prada na classe Star do vela, sendo que o mais provável era que a dupla conseguisse o tão sonhado bronze do Brasil. Foi a primeira medalha prateada da nossa delegação, mas nem por isso o dia se tornou desanimador.

Impossível não falar da seleção de futebol feminino. Acreditava em um ouro fácil, apesar de algo na minha cabeça ter me deixado preparado para uma derrota. Foi o que aconteceu: empate sem gols no tempo normal de um jogo bem chatinho e 1 a 0 para as gringas na prorrogação. Mais uma derrota para as meninas, mas esta deu até dó (o Galvão Bueno até chorou ao vivo).

Mas o dia foi tenebroso, a começar pelo mala do Jadel Gregório. O cara se classificou para a final dizendo que iria melhorar os 17,90m que ele conseguiu uma vez na vida. “O Jadel está confiante”, dizia o esquisitão, todo mala e referindo-se a si mesmo na terceira pessoa. Ficou em sexto com um desempenho pífio e saiu chorando. No vôlei de praia, Renata e Talita perderam o bronze para a dupla chinesa e Márcio e Fàbio Luiz perderam o ouro para os norte-americanos. Isso sem falar no hipismo, que vem rendendo excelentes curtinhas por aqui. E por falar em rapidinhas, ei-las:

Rapidinhas olímpicas

Contraponto: Tá certo, a seleção feminina de futebol perdeu mais uma final, ficando com a terceira prata em quatro anos (perdeu as finais das Olimpíadas de Atenas-2004 e da Copa do Mundo do ano passado). Poderia muito bem cornetar a equipe e chamar as meninas de amarelonas, mas... elas não têm apoio algum no país (e muito menos na imprensa, confesso), ganham salários pífios, mal podem competir por aqui. E foram três vezes vice-campeãs. Antes de criticar, poderíamos lembrar do time masculino, que ficou nas quartas-de-final da Copa, não se classificou para as Olimpíadas de 2004 e caiu feio nas semifinais deste ano. E os caras ganham milhões, milhões e milhões...

Só a Natália salva: O Márcio Wenceslau perdeu a luta das quartas-de-final na quarta-feira em sua luta no taekwondo apenas no ponto de ouro da prorrogação. Em vez de aprender com o colega, a gaúcha Débora Nunes conseguiu fazer ainda mais feio em sua luta: estava ganhando por 2 a 1 nos segundos finais de luta, mas bobeou, levou um golpe e a definição foi para o golden score. E perdeu, num contragolpe da adversária. Virou moda.

No quase: Se tem uma equipe brasileira famosa por amarelar nos momentos decisivos, é a seleção de vôlei feminino. Mas as meninas do Zé surpreenderam, continuaram arrasadoras e passaram nas semifinais pela China, atual campeã olímpica. Mas nem por isso a Mari escondeu que a equipe quase, mas quase amarelou ao falar da partida dos Estados Unidos (venceram Cuba na preliminar): “Impressionou. Algumas jogadoras não conseguiram ver até o fim porque estavam começando a ficar com um frio na barriga por causa da nossa semifinal. A Sassá e a Fabi saíram no meio, a Sheilla ficava indo e voltando. Eu fiquei sentada o tempo todo de boca aberta com o que estava acontecendo”.

Salva pelo gongo?: Uma das coisas que mais condeno no Sportv é a entrevista que eles fazem entre os repórteres. Faltou pauta? Tasca um repórter entrevistando o outro. A ESPN Brasil, que eu tanto admiro e tal, acabou quase me decepcionando quando o Eduardo Elias foi entrevistar o Flávio Gomes sobre a derrota brasileira no futebol feminino, direto do Estádio dos Trabalhadores. Quando ia começar o bate-papo, as luzes do estádio se apagaram, deixaram os dois no escuro. A entrevista não rolou, ufa.

Medalhista: Pode não representar muita coisa, mas acabei me lembrando hoje que já ganhei uma medalha de ouro – embora não tenha honrado o esporte brasileiro ao não amarelar. Foi em 1999, nos jogos intercolegiais que meu colégio promovia (a Oliarqui, que hoje em dia é disputada por 4 mil moleques). Foi na disputa por equipes do xadrez. Deu até vontade de procurar o prêmio por aí e ver se consigo desfilar em um carro de bombeiros.

Bronze Brasil: Já tinha visto o endereço do blog Bronze Brasil 2008 duas vezes antes de hoje, mas fiquei com preguiça de clicar. Hoje, no entanto, arrisquei entrar para ver o que se passava por lá e achei algo genial, com sacadas como “Cielo deixa escapar o bronze”, “Cielo (com o ouro no peito, chorando) é consolado por francês que ganhou o bronze” e “quatro semifinais e nenhum bronze”. De fato, o blog da delegação brasileira. E sensacional.

Cavalo louco: O Bernardo Alves tinha dado a dica na quarta-feira, mas eu não notei maldade na declaração do ginete brasileiro, que competiria a final individual dos saltos com o Chupa Chup, o cavalo com medo de água: “Não tenho um cavalo turbo, mas quem sabe o motor a diesel não funciona? Acho que posso conseguir uma medalha”. Acordei pela manhã e a primeira notícia que eu vi foi: “Chupa Chup é pego no antidoping e é eliminado”. Doparam o cavalo pro bicho não ficar com medo da agüinha, lamentável...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (Juliana Veloso)

O dia não teve muitas novidades. Juliana Veloso foi eliminada na primeira etapa dos saltos ornamentais, a seleção brasileira masculina de vôlei ganhou da inexpressiva China e foi para as quartas-de-final, vários brasileiros ficaram pelo caminho nas provas de atletismo, Estados Unidos e Argentina passaram às semifinais do basquete masculino. Ou seja... nada de mais.

Para falar a verdaden não agüento mais as tais das Olimpíadas, não agüento mais as declarações fracassadas dos nossos atletas, não agüento mais ver gente se contentando com a medalha de bronze, não agüento mais um monte de coisa que não valem a pena ser explicitadas por aqui. Não, meu humor não melhorou.

Mas nem tudo está perdido. Pelo menos o dia foi agitado nos bastidores bizarros de Pequim, o que deve render uma boa leva das tais rapidinhas olímpicas. Vamos a elas, antes que eu acabe mudando de idéia.

Rapidinhas olímpicas:

Juliana Veloso: Não tinha como começar de outra forma. Minha antiga chefe costumava dizer que a Juliana Veloso era o melhor exemplo de loser do esporte brasileiro, e em Pequim não foi diferente. A tal da saltadora terminou na 23ª posição das eliminatórias da plataforma (10m), errando feio seu último salto (não conseguiu plantar bananeira e caiu como um saco de batata giratório na piscina). Fui para a redação imaginando qual lesão ela culparia desta vez. E não foi diferente: agora, foi o pulso. Ah, desculpas...

Juliana Veloso, ela merece: A notícia que virou capa no Terra mereceu mais um tópico para a Juliana Veloso neste humilde blog. A saltadora chinelinho, que deve treinar há pelo menos uns 15 anos pulando das plataformas de 10m de altura, simplesmente declarou que... que tem medo de altura, veja só! Já pensou se o Marcos, goleiro do Palmeiras, dissesse que tem medo de levar bolada forte? Ou se o César Cielo falasse por aí que tem medo de água?

Viagem interplanetária à Jamaica: Campeão dos 100m rasos no final de semana com recorde mundial e vantagem inquestionável sobre os rivais, o jamaicano Usain Bolt voltou a estraçalhar nos 200m, sua especialidade. Faturou ouro, recorde mundial e tudo mais a que tinha direito. Só não colocou a Jamaica no mapa porque... bom, a narração do João Palomino, da ESPN Brasil (para não dizerem que eu só fico cornetando o Sportv), justifica: “Usain Bolt é de outro mundo. Usain Bolt, da Jamaica”. Galvão, você não tá sozinho!

Segredo de campeã: Saiu no Lance! hoje um dos segredos das norte-americanas Kerri Walsh e Misty May (bicampeãs olímpicas e carrascas de duplas brasileira na história do vôlei de praia): elas jogam um punhadinho das cinzas da mãe da May na quadra antes das partidas. Tinha acabado de “almoçar” quando vi essa notícia, confesso que bateu um certo nojo.

Bronze histórico: Uma medalha de bronze que deve ser comemorada não é aquela do Tiago Camilo no judô, mas sim a da Ketleyn Quadros ou da Fernanda/Isabel na classe 470 da vela. Mas se tem uma que realmente vale mais do que ouro foi aquela conquistada pelo Rohullah Nikpai, na categoria até 57 kg do taekwondo. Foi a primeira medalha olímpica da história do Afeganistão. O cara, que deve fazer seus treinos contra um saco areia e mais nada, ganhou até do espanhol campeão mundial Juan Antonio Ramos. Esse sim, sensacional.

Várzea: Não é segredo de ninguém que a Confederação Brasileira de Taekwondo é uma zona, mas não achava que os técnicos seguiam o mesmo padrão. Mas o Carlos Negrão foi mestre na entrevista depois da derrota do Márcio Wenceslau nas quartas-de-final (perdeu justamente para o espanhol Juan Antonio Ramos): “O Márcio errou ao atacar o espanhol e deveria ser mais agressivo. O taekwondo é como um jogo de xadrez”. Não sei quanto ao Carlos Negrão, mas eu nunca levei uma voadora na orelha jogando xadrez.

RJ? É logo ali: Passou na Band um comercial que a seleção dos Estados Unidos de futebol feminino fez antes das Olimpíadas convocando o Brasil para uma revanche (elas levaram um sapeca-iaiá de 4 a 0 nas semifinais da Copa do Mundo do ano passado). A propaganda é engraçada: as loirinhas pegam um carro, começam a ouvir aquelas fitas de “aprenda português em um comercial”, atravessam o México, jogam futebol com um cachorro, passam por uma floresta tropical onde há jumentos pastando e chegam ao Rio de Janeiro por uma estradinha de terra e voilá, chegam ao Rio de Janeiro. Aí entram em um estádio e uma das jogadoras, a Wambach, diz para uma guria treinando no campo: “Hey, nos queremos un otro djogo”, com um baita sotaque. E o mais ‘legal’ é quando a suposta brasileira responde “Bamos lá”, quase que em espanhol.

Brasil x Argentina: Perdemos feio no futebol masculino nas semifinais para a Argentina, que levou a melhor no quesito pataquadas com vara. Inicialmente, o brasileiro Fábio da Silva simplesmente se esqueceu de que deveria pular uns 6m, passou correndo pela pista e nem chegou a usar a alavanca da vara: se atirou direto no colchão. "Se fosse pra fazer isso em Olimpíadas até eu faria", como diria o Mané. Depois foi a vez do Germán Chiaraviglio, atleta argentino, que repetiu a apresentação do Fábio e, para mostrar que os alvicelestes estão bem à nossa frente, foi ainda melhor na sua segunda apresentação: fincou a vara no lugar apropriado, mas não botou força e conseguiu a incrível marca de 40cm no salto.

Hidrofobia: Atendendo a milhares (?) de pedidos, mais uma rapidinha do famigerado Chupa Chup, o cavalo que tem medo de água. Um dia antes da prova, o Bernardo Alves até fez piadinha com a bizarrice de seu pocotó que deve valer mais do que a soma de todos os meus salários na vida. E pior: disse acreditar na chance de medalha, mesmo correndo o risco de seu cavalo se afogar no laguinho de 10 cm de altura: “Costumo brincar que o Chupa Chup não tem um motor turbo por causa da dificuldade de saltar obstáculos com água. Mas se eu só fizer uma falta no rio, posso entrar na briga por uma medalha”.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (15º dia)

Completei hoje a minha terceira semana de expediente olímpico. Hoje, portanto, foi meu 15º dia com jornada de trabalho de (no mínimo) sete horas diárias, de (no mínimo) 15 notícias por dia.

Chego ao 15º dia sem saber exatamente em que dia da semana estou, trocando os nomes de algumas pessoas, atendendo meu celular falando o nome da empresa em vez de alô, conversando apenas sobre esporte, invertendo eventos como eleições por Olimpíadas, falando palavras que remetem a alguma modalidade olímpica.

Estou iniciando minha terceira semana olímpica com um humor tão estável como a ponte do rio que cai. Com uma paciência tão grande, com uma disposição tamanha... e fazendo dos copos de café (geralmente os maiores, aqueles de 400 ml) meus melhores amigos. Ah!

Para coroar tudo isso, meu 15º dia começou já atrasado para ir ao trabalho. Tinha levantado às 8 horas, sentei na cama para desligar o despertador e acabei dormindo meio sentado, meio deitado. Só abri os olhos, por sorte, às 9h20. Fui correndo para a Paulista e consegui ver a tempo a vergonhosa derrota por 3 a 0 da seleção de futebol para a Argentina.

E, agora, a inédita medalha olímpica do futebol vai ficar para daqui quatro anos, em Londres. Ou para quinta-feira, no feminino – e, se as meninas ganharem, vai chover reclamação da falta de incentivo, o governo vai prometer melhores condições e as coisas vão continuar exatamente como estão: uma porcaria.

E por falar em porcarias, vamos às rapidinhas olímpicas que me fazem pensar nos Jogos de Pequim mesmo nos meus momentos de folga. Uh.

Rapidinhas olímpicas:

Galvão, Galvão!:
Não canso de exaltar o Galvão Bueno, que consegue fabricar uma pérola sensacional a cada transmissão olímpica. Desta vez, o cara lançou uma no duelo brasileiro nas semifinais do vôlei de praia masculino. “Olha, para o Ricardo e Emanuel derrubarem uma bola na quadra do Márcio e do Fàbio Luiz, antes vão ter que abrir um buraco no chão”. Não entendeu? Reflitam. E, se não chegarem a conclusão alguma, não se culpem: nem o Galvão mesmo sabe o que está falando.

Cuspido e escarrado: O Lucas, volante da seleção brasileira, disse antes das Olimpíadas: “Esta equipe é a cara do Dunga”. Por mais que eu não ache que o Dunga é a maior catástrofe da história, não tem como negar que o time verde e amarelo estava completamente descontrolado, desarrumado e sem poder algum de reação. Bom... talvez o Lucas estava mesmo certo.

Mariaaaaana Ohata!: Prova feminina do triatlo. Um blocão de atletas correndo pedalando na frente no ciclismo, formando um pelotão Torre de Babel. Tirei os olhos da tevê por um instante para responder a uma mensagem no MSN e Álvaro José, da Band, anunciou a presença da brasileira: “Mariaaaaana Ohata!”. Assustei, achei que estava vendo uma reação histórica e tal, mas... o pelotão passou e nada de uma atleta de azul. Só no fundo, a uns 1.300m de distância do grupo, aparecia sozinha a brasileira. Ufanismo? Onde?

Brasileirada canadense: De fato, não é só brasileiro que faz feio em Olimpíadas, e um canadense conseguiu um feito incrível no tênis de mesa. Peter-Paul Pradeeban vencia o brasileiro Gustavo Tsuboi por 10/3 no sétimo e decisivo set da partida preliminar. Teve nada menos do que seis match points, mas conseguiu perder todos e ver o nipo-brasileiro conseguir a virada com 12/10. Incrível.

Amarelada em menor proporção: O futebol masculino fez tão feio que ninguém vai notar os maus desempenhos de Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto nas maratonas aquáticas. Apesar dos 16 anos, Ana Marcela era a líder do ranking mundial da prova, e Poliana era uma das mais experientes e favoritas para o pódio. As duas brasileiras estavam muito perto do pódio no final da prova, brigando pelos terceiro e quarto lugares e pertíssimas das britânicas que lideravam. Mas Ana Marcela ficou em quinto lugar, duas posições à frente da Poliana. Tudo bem, o futebol masculino fez pior.

Pereira, quem?: Entrevista coletiva do César Cielo, e de quebra apareceu o Thiago Pereira. Foi até engraçado ver na coletiva todos (todos mesmo) os microfones em cima da mesa voltados para o Cielo, e o Thiago parecia apenas um atleta esquálido ali querendo aparecer. Uma hora, ele foi responder a uma pergunta e, longe dos microfones, não foi ouvido na transmissão do Sportv. Por mais que eu tenha cornetado o filho da mala da Dona Rose... foi estranho. E tá, vai, o cara até que merecia um pouquinho mais de atenção. Mas é a vida...

Intrusa?: As roupas dos atletas velocistas são todas aerodinâmicas, cheias de frescuras aqui ou acolá para render preciosíssimos centésimos de segundo para o competidor. Balela. A Rogaya Al-Gassra, do Bahrein, competiu de burka e tudo (parecia uma louca que tinha invadido a pista) e venceu a sua bateria eliminatória nos 200m rasos.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (A saga da vara)

Errou quem achou que a Chana seria a personagem principal das piadas infames dos Jogos de Pequim. Nem mesmo o impagável encontro entre Chana e Piroska rendeu, está rendendo ou renderá tantos comentários batidos como o que aconteceu nesta segunda-feira.

Por conta de uma pataquada digna de Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, sumiram com uma das varas da simpática, educada e potencial medalhista (de prata ou bronze) Fabiana Murer. Uma das principais atletas da nossa delegação, a coitada viu um e seus equipamentos de trabalho simplesmente ser extraviados pelos chineses durante a prova do salto com vara.

E... bom, não precisa ser muito gênio para entender a estranha expressão matemática: salto com vara + sem vara = não salto. Coisa que só se aprende no terceiro ano dos cursos de exatas, com aplicação de cálculo diferencial integral.

O resultado? Depois de perder toda a concentração da prova, a Fabiana não conseguiu saltar (muito embora tivesse mais nove varas) os 4,60m e terminou muito abaixo do seu potencial. Se tivesse repetido sua melhor marca na carreira (4,80m), iria brigar pela prata. O que já seria uma vitória e tanto, visto que a etezinho da Isinbayeva (nem ela mesma sabe se escreve o nome com ou sem o Y) mais uma vez bateu o recorde mundial, com 5,05m.

Mas esta não é a primeira vez que um atleta brasileiro é prejudicado pelo sumiço de sua vara: a própria Fabiana teve problemas para conseguir levar seus equipamentos de Hong Kong para Macau, no começo do mês, e por pouco não perdeu suas varas. Fábio Gomes, da prova masculina, passou por algo pior: suas varas foram extraviadas na conexão na Europa. E sabe-se lá onde estarão agora.

Daria até para dizer que há uma fixação dos xinguelingues nas varas dos brasileiros, mas... não sei. Conheci uma vez uma garotinha bem bonitinha que era chinesa, e... bom, deixa para lá, vai. Melhor ir direto para as rapidinhas olímpicas.

Rapidinhas olímpicas:

Mais uma do Galvão: Depois da narração inenarrável do ouro do Cielo nos 50m livre, o Galvão deu novo show – agora, no sapeca-iaiá de 4 a 1 da seleção brasileira na Alemanha, pelas semifinais do futebol feminino. Depois de marcar um puta golaço e anotar o quarto tento do Brasil, a Cristiane (ah, Cristiane!) arriscou uma dancinha em campo. O Galvão, claro, não deixou passar em branco: “Daaaaança, balaaaaaança, faz a feeesta!”, narrou o mito.

Parafernália inútil: A Globo decidiu inventar um jeito de chamar algumas matérias, com um efeito que permite ao apresentador dar uns cliques no croma-key e tal. Tudo muito bonito, mas estava vendo quando isso iria dar merda. E foi no intervalo do jogo da seleção feminina: a Milena Ceribelli ia mostrar o perfil da Isabel Swan, bronze na classe 470 da vela, e o computador simplesmente travou ao vivo. Completamente sem jeito, a apresentadora tentou compensar: “Ah, eh... ahhh... ahn, ah, a Isabel é carioca e estuda cinema. Voltamos com Galvão Bueno”.

Marmelada: Pensei que a maior filha-da-putice que poderiam fazer com um fã do esporte já havia sido protagonizada – aqui no Brasil, no Grand Champions Brasil (o mala do Dácio Campos ficou o dia todo anunciando a histórica partida entre Bjorn Borg e Guillermo Vilas no Ginásio do Ibirapuera, para a dois minutos do início do jogo o sueco doidão dizer que não ia competir. Mas a China se superou, desmentindo qualquer boato de lesão do Liu Xiang, ídolo nacional e favorito nos 110m com barreira. Forçaram até o chinesinho a ir para a pista, se preparar no bloco... para alguém queimar a largada e o Xiang sair da prova. Tudo muito, mas muito mal ensaiado.

Esse manja: Alguém conhece o Matthew Emmons? Bom, eu também não conhecia até essa manhã. Vasculhando o que de bom tinha acontecido na madrugada olímpica, vi que o cara tinha perdido o ouro da carabina de três posições porque simplesmente atirou como uma mocinha na sua última apresentação. Líder da prova até o último tiro, acabou dando uma de Bimba e ficou fora do pódio. Acontece que, em Atenas-2004, o cara tinha conseguido algo ainda mais tosco: novamente perto do ouro, acertou certinho no alvo. Mas no alvo errado. Sabe quando você brinca no boliche do happy hour de fazer strike na pista ao lado? O Emmons fez isso, mas na competição mais importante da vida dele.

Surrealismo hípico: Hoje foi em rede nacional. A Globo parou a transmissão do jogo do futebol feminino para mostrar a apresentação do Bernardo Alves no salto. Agora, o Brasil inteiro pôde comprovar que o tal do cavalo Chupa Chup tem medo de água, errando justamente no obstáculo de saltar a poça. Alguém me diz por que diabos levam um cavalo hidrofóbico pra competir em uma prova que sempre tem um obstáculo com água? Outro ponto alto foi o Rodrigo Pessoa, dizendo que ‘errou de propósito’ pro cavalo, o Rufus, ficar mais confiante. Aham, e eu sou o Bozo.

Belezura: Não escondo de ninguém que gosto um tanto da Cristiane, e até acho a camisa 11 do Brasil bem bonitinha. O mesmo não se pode dizer da Eriko Arakawa, atacante da seleção japonesa também do futebol feminino. E aí, vai encarar?

domingo, 17 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (A força da gravidade)

O César Cielo ganhou a medalha de ouro dos 50m livres e o Phelps confirmou o título de melhor atleta de todos os tempos. Mas quem chamou mesmo a atenção no domingo foi a gravidade. Pouco lembrada, a força g deu as caras e só não ganhou a medalha de ouro porque mais uma vez foi injustiçada.

O primeiro feito dos 9,8 m/s² foi no domingo pela manhãzinha aqui no Brasil. Todo mundo foi dormir cedo para ver o Diego Hypólito ganhar o ouro no solo, apesar dos meus conselhos de ficarem na cama e verem a reprise depois. Não adiantou, e muitos teimosos acordaram para ver o nosso ginasta cabra-macho (?) cair de bunda na sua última pirueta e ficar de fora do pódio.

Ainda na arena da ginástica, poucos minutos depois, a gravidade deu as caras na apresentação da Jade Barbosa. Repetindo o desempenho da final do individual geral, a carioquinha de 17 anos também foi afetada pela maldosa gravidade, quase caiu nas duas performances e ficou de fora do pódio

Com a Daiane dos Santos a gravidade foi menos maldosa, e só empurrou de leve a gauchinha para fora do tablado no solo em duas ocasiões – fatais para deixarem a brasileira fora do pódio do solo.

Para fechar o dia em grande estilo, a gravidade conseguiu um double-hit-combo na prova de saltos do hipismo. Bem no último obstáculo, o cavalo Un Blanc de Blancs pulou errado e se esborrachou no chão. Assim como o ginete brasileiro Pedro Vennis, eliminado; e o Brasil ficou de fora da final por equipes. Baloubet du Rouet gostou.

Antes que a gravidade me afete também, desovo as curtas olímpicas do final de semana.

Rapidinhas olímpicas:

Galvão doidão: Depois de faze com que o mundo chamasse o piloto polonês Robert Kubica de Kubizza, o Galvão Bueno tentou emplacar a alcunha ‘Cesão Doidão’ para o Cielo. Não conseguiu, mas fez uma narração épica – lembrando aquela que imortalizou Ronaldinho ‘olha o que ele fez, olha o que ele fez, olha o que ele fez, olha o que ele fez' Gaúcho. Ensaiado, o Galvão repetiu nos últimos 25m da prova: quatro vezes o “Cielo-brigando-com Bernard” e “Vamo, Cielo”. No final da prova, no entanto, perdeu a conta no “É ouro”, seis vezes entoado pelo nosso ídolo.

Borjão doidão: Outro ponto de destaque da narração da Globo que coroou o primeiro ouro do Brasil em Pequim foi o Gustavo Borges. Gênio dentro das piscinas, o Gustavo deixou escapar um gritinho meio Frank Aguiar quando o Galvão deu uma trégua e mostrou que... ah, ele foi um excelente nadador.

Muito ajuda...: Estava rodando os quatro canais do Sportv durante a madrugada e em um deles vi que estava começando a coletiva do Michael Phelps. Deixei ali para assistir, dei o último gole na cerveja e me ajeitei no sofá. Mas demorou muito para eu quase pegar no sono. O motivo? O tradutor do Sportv, que não traduz nada com nada. O mais legal foi quando perguntaram pro Phelps quais os próximos planos após Pequim; o tradutor perdeu a pergunta e já começou: “Agora eu quero voltar para casa, descansar e iniciar os treinos... (pausa) ... porque minha mãe gosta de Roma, e espero que ela conheça no ano que vem”. O cara só esqueceu de falar da parte “os treinos para o Mundial de Esportes Aquáticos de 2009, em Roma”. Para alguém um pouco mais sonolento que eu, o Phelps seria um fenômeno da dislexia.

Praticidade: De que adianta competir com um cavalo que tem medo da água se um dos obstáculos da prova de salto do hipismo é justamente o pulinho sobre uma espécie de riozinho? A pessoa mais indicada para responder a essa dúvida poderia ser Bernardo Alves, mas o cavaleiro brasileiro admitiu que seu animal, o Chupa Chups (!?) tem medo da água. O tal do Chupa Chups deve valer algumas centenas de milhares de dólares. Melhor o tal do Bonito Z, que vale só R$ 5 mil e é todo destemido.

Roginho x 2: Eu disse que o Federer era gay, e o indivíduo da Basiléia (eu costumava chamar de ‘homem da Basiléia’ nas minhas notícias antes das Olimpíadas) soltou a franga mais uma vez, agora quando ganhou o ouro nas duplas com o Wawrinka. Toma jeito, rapá! Uma pena que a gente só não viu o Hypólito soltando a franga quando ganhasse o ouro. Mas vou parar de cornetá-lo: hoje ele deixa de ser o melhor do mundo, e minha torcida pelos fracos, oprimidos e deprimidos pode ter o Roginho de volta.

Trocadilho: Seguindo o padrão Schmidt de humor, Tadeu mostrou que está tão afiado quanto o irmão mais velho, o Oscar. Logo na abertura do Fantástico, o repórter da Globo, atrás do Templo do Céu, não perdeu a deixa e lançou uma fraquíssima: “E hoje o templo do Céu mudou de nome: virou o Templo do Cielo”. Pior que essa, só a saga “Beijing, Beijing, tchau, tchau” do nosso concorrente.

Saindo do ostracismo: Após sair na foto ao lado do Zidane na agência EFE e ver meu polegar direito ser o destaque do Globo Esporte, fui visto por quase 20 mil pessoas no UOL, com o João Derly. Te cuida, portuga chifrudo!

Tchau pra mamãe: Honrando minhas esperanças, Usain Bolt mostrou ser o homem mais rápido do mundo e ganhou a prova dos 100m rasos do atletismo. Não só venceu como arrasou, massacrou, destroçou a prova. E logo depois da metade do trajeto já virou pra câmera, fez careta, bateu no peito... só faltou levantar o maiô e mostrar uma camiseta com os dizeres "Chupa, Asafa". E eu, no sofá de casa atrasado para o trabalho, fiquei cerca de 1 minuto tentando entender o que tinha aconecido.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (21s30)

Quando eu era pequeno, queria ser igual ao Evair. Queria ser o camisa nove do Palmeiras, marcar o gol do título do campeonato, comemorar com a torcida e ser um ídolo. Acabou que o Evair foi o meu primeiro grande ídolo, ao lado do Senna. Depois vieram Guga e Marcos. E só.

Creio que muito mais do que 50% da molecada de hoje em dia quer ser um jogador de futebol. Alguns sim querem comemorar com a torcida e virar ídolo, mas muitos pensam em seguir os passos de outros ‘ídolos’, que marcam meia dúzia de gols no Brasil, recebem uma proposta da Arábia e vão para lá ganhar dinheiro.

Acontece que jogadores de futebol não deveriam servir de modelos para ninguém. Ou pelo menos a maioria dos atletas. São um baita dum contra-exemplo: mais da metade estuda até a terceira série, mal sabe conjugar um verbo e ganham mais do que um médico. É uma afronta um jogador de futebol ganhar mais do que um professor, sei lá.

Mas isso não é tudo. Os tais dos jogadores saem do país e tal. Alguns ainda são convocados para defender a seleção brasileira. Antes da partida, perfilados, balbuciam um a-do-le-tá nos versos iniciais e ainda arriscam um “Se o senhor dá essa igualdade, prometemos conseguir um braço forte”. Ah, alguns até sabem cantar direitinho um “terra dourada” e “pátria amada, Brazil”. Aposto que eles pensam no Z na hora de cantar.

Pode ser porque há quase um ano e meio me concentro sobretudo nas editorias de outros esportes, mas percebi que há atletas com um certo nível de cultura. Que sabem conjugar verbos e até falam algumas palavras bonitas. Tem um, em especial, que faz faculdade nos Estados Unidos.

Ninguém conhece direito esse atleta. Nasceu na pequena Santa Bárbara D’Oeste, fez um estágio em Piracicaba e se mandou para os States. Começou a competir, ganhava a bolsa de estudos por lá. Teve um Mundial em 2007 em que ele, todo esquisitão e com cabelos azuis, ficou em quarto lugar. Alguns meses depois, já mais comportado e loiro, ganhou duas medalhas de ouro em um Pan-americano. Dois, só? Ah, mas tem um atleta, o Thiago, que ganhou seis! Ah, e esse cara é esquisito, ele se soca inteiro antes das provas”.

Acontece que um ano se passou e o tal do cara dos States, pouquíssimo badalado, foi para a sua primeira Olimpíada. Foi na sombra do Thiago, que passou os 12 meses indo a vários programas de televisão, todo sorridente e tal. Ninguém apostava nesse cara que treinava nos Estados Unidos.

Na primeira prova, quase ficou de fora da final. Foi apenas o oitavo colocado das semifinais, foi nadar marginalizado na raia oito, pegando a marola de todo o resto. “Enganação, pipoqueiro. Só podia ser brasileiro”. Mas, na final, o cara terminou em terceiro. “Ah, mas já tá se achando, olha só: disse que vai ganhar o ouro nos 50m. Tá bom”.

Aí o cara foi lá, quebrou o recorde olímpico nas eliminatórias. “Ih, talvez ele seja bom mesmo”. Nas semifinais voltou a quebrar, e se classificou com o melhor tempo e com 0s2 de vantagem sobre os adversários. “É, o cara é bom. Mas ele vai amarelar, só pode. Certeza de que vai amarelar”.

Mas o cara quebrou o recorde olímpico pela terceira vez. Ficou a 0s02 do recorde mundial. Se tornou o primeiro atleta brasileiro da história a ganhar uma medalha olímpica de ouro na natação. Deixou para trás alguns caras que eu tinha como mito na natação, o Gustavo Borges e o Xuxa.

O cara vibrou, chorou, fez festa, chorou, gritou e chorou de novo. Mas não foi aquele choro chato da Jade Barbosa. Disse para ninguém desistir nunca dos seus sonhos. Mas o mais bonito mesmo foi no pódio, quando cantou o hino nacional. Sorrindo e chorando. Cantou certinho. Nada de adoletá-lepetipetipolá-conseguimos-conquistar-com-braço-forte.

Isso sim é que é um atleta de verdade, com um enorme potencial para ser ídolo. Muito embora, deve-se dizer, metade do ouro é dos Estados Unidos. No Brasil, o que o César Cielo conseguiria? Ser jogador de futebol?

Rapidinhas olímpicas:

Roginho:
Roger Federer é gay. O cara é um gênio do tênis, talvez o maior de toda a história, mas não deixa de ser gay. “Ele é suíço demais”, eu disse uma vez para um norte-americano em Buenos Aires, que concordou comigo. Ele já ganhou mais de 41 milhões de dólares na carreira, e continua com a namorada gorducha dele. É o único que ainda não deu uns pegas na Sharapova (o Nadal também não, mas anda se engraçado com a minha musa Caroline Wozniacki - linda, apesar das caretas que faz jogando tênis). A homossexualidade do Federer só ficou evidente depois da semifinal de duplas, quando só faltou ele dar um beijo no Wawrinka. Vale a pena ver.

Vencendo pelo cansaço: Tem pautas realmente complicadas para repórteres em época de Olimpíadas, mas o Pedro Bassan conseguiu uma realmente fácil: fazer a Jade Barbosa chorar depois da final do individual geral da ginástica. O problema é que a menininha, que tinha se estatelado no chão duas vezes nas duas últimas provas, estava irredutível: algo raro até então. O Bassan tentou aqui, tentou ali, repetiu perguntas e nada. Até que ele tocou na ferida da Jade (a família). E ela abriu o berreiro. Pô, assim até eu!

Jornalismo sério: Há uma lenda nas redações de esporte do país afora de que uma vez estava passando uma prova de tiro esportivo na televisão, coisa rara. Durante a transmissão, o comentarista falou dos alvos, pratos lançados para serem estraçalhados pelos atiradores. À deriva, um(a) jornalista acordou de seu transe, abismada: “Eles atiram em patos? E... vivos?”, perguntou, com os olhos arregalados. Comecei a me imaginar indo ao embarque da delegação brasileira olímpica de patos.

Sensacionalismo: O Paulo Bassul é um cara muito gente fina, mas a seleção brasileira feminina de basquete (que ele treina) só vem dando vexame em Pequim. Até nas declarações. Depois de perder a quarta partida seguida, com uma série de cagadas no final da partida que culminaram na eliminação da equipe, a pivô Kelly prometeu mudança de postura: “Vamos entrar do mesmo jeito contra a Bielorrússia”. Claro que ela não falava de fazer cagadas, mas entrar com a mesma disposição. Mas é claro que não tive dúvidas e cravei a aspa na manchete.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (Chupa, Thiago)

Passei um ano repetindo à exaustão quando o assunto era Olimpíada: o Thiago é a maior enganação, o nadador brasileiro que é bom mesmo é o César Cielo.

Por causa dessa defesa ferrenha ao tal do Cielo, acabei pegando um pouquinho de birra do Thiago. Sempre comparado ao Phelps, tratado como o grande rival do Tevez das piscinas, blablablá. Por essas e outras, passei a considerar o bronze do Cielo nos 100m livre a medalha mais importante do Brasil em Pequim até agora.

O feito do Cielo, que estava nadando na raia 8 (e pegando toda a marola da galera nas raias ao lado), foi tão importante que a Globosat teve que se render ao paulista de Santa Bárbara D'Oeste. Tanto que o Sportv fez até um programa especial para o Cielo, para compensar os últimos 12 meses de Thiago pra cá e Thiago pra lá.

O Thiago não conseguiu uma medalha sequer em Pequim-2008, e volta para casa com as mãos abanando. Tudo bem, ele competia com o Phelps e com o Laszlo Cseh e era difícil, quase impossível, trazer uma medalha. Ele é um nadador e tanto, mas não é um dos três melhores do mundo.

Mas não. Na última exibição do Thiago nas Olimpíadas, o Galvão até bateu palma. "Parabéns, Thiago. Você evoluiu do quinto lugar de Atenas-2004 para o quarto lugar em Pequim". Ok, ok... mas quem quebrou o recorde olímpico dos 50m duas vezes? Quem trouxe medalha? Quem é o grande nome da natação brasileira hoje em dia? Ah, tá...

E é nesse espírito bem ranzinza do meu décimo dia de trabalho pesado e sem folga que inicio mais uma sessão das curtas pequinesas.

Rapidinhas olímpicas

Chupa, Thiago: O fato de o Thiago Pereira ter abandonado o revezamento 4x200m livre para disputar os 200m peito (prova em que ficou no 19º lugar) me fez pegar birra do queridinho da Globo. O canal 5 apontava o filho da Dona Rose como o “grande rival do Phelps”, mas quem conseguiu a primeira medalha olímpica do século para a natação brasileira foi a minha aposta, o César Cielo. Agora, é só esperar pela amarelada do Thiago nos 200m medley também e voltar pra casa com o rabo entre patas. Ok, nem precisei esperar pela amarelada do Thiago nos 200m medley.

Pensando alto. E bonito: Último classificado para a final dos 100m livres, o Cielo tinha dito um dia antes da prova que “o bronze ainda estava em aberto”. Até comentei na redação que era pensar pequeno demais, mas relevei quando o cara de fato ganhou o bronze e fez a Globo esquecer o Thiago (temporariamente). Depois da prova dos 100m, o Cielo deu uma das melhores entrevistas até agora: “Vou para ganhar esse título dos 50m”. Sabia que apostar nesse cara não ia ser má idéia. E o técnico do Thiago disse que o xodó da canal 5 tinha ficado super feliz com o 19º lugar no peito. Notaram a diferença?

Edinanci: Se não fosse judoca, a Edinanci Silva certamente seria borracheiro, caminhoneiro ou segurança de balada. Pode parecer maldade falar, mas todo mundo sabe. E... poxa, um caminhoneiro derrubaria uma coreaninha numa boa! E um segurança de balada, então? Sem contar que ela teve três chances de derrubar alguma japinha e ganhar uma medalha, desde 2000 que ela tenta. Pô!

Pangaré: Os cavalos que competem em Jogos Olímpicos custam mais do que todo o dinheiro que eu vou ganhar em toda a minha vida – um bichinho daqueles custa entre 1 milhão e 3 milhões de dólares. O famoso Baloubet de Rouet, que refugou em Sydney-2000, era avaliado em quase isso. A AD São Caetano Picolien, égua que o Doda usaria, também. Mas a tal da Picolien foi vetada em cima da hora e o azarão Bonito Z conseguiu a vaga olímpica. O cavalo custa 3 mil dólares. Dá até pra eu comprar e sair por aí de cavalo olímpico pro trabalho no dia do meu rodízio.

Parou, né, Hugo?: Se tem um cara por quem eu peguei antipatia antes do Pan de 2007, esse alguém foi o Hugo Hoyama. Toda entrevista dele era importante porque era a última como atleta.Virou até piada: “O Hugo Hoyama está em todo lugar, vai para todas as competições e perde todas”. Depois, encheu o saco pra ser o brasileiro com mais medalhas de ouro da história em Pans. Conseguiu, parabéns, seria uma boa para encerrar a carreira por ali. Aí ele decidiu ir para Pequim. Quebrou até a perna, mas foi. Tá, vai... bacana se aposentar em uma Olimpíada, muito bonito. Mas não consegui conter meu descrédito ao ver o cara dizer que disputar Londres-2012 não era nada mal. Numa boa, já deu. Não tem mais espaço no mundo para nós dois, ou é o Hugo Hoyama ou eu. Perdi a paciência, e estou até disposto a iniciar um manifesto intitulado “Pára, Hugo Hoyama”. Aliás, o bom mesmo do Brasil é o Thiago Monteiro, o Hugo é só marketing.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (E as primeiras decepções)

Os bronzes de Ketleyn Quadros e Leandro Guilheiro foram surpreendentes, mas não tanto como o do Tiago Camilo. Nome mais badalado do judô brasileiro, o cara decepcionou todo mundo ao perder para um alemão desconhecido (que mais tarde faturou o ouro), mas se redimiu perante a nação, se deu bem na repescagem e levou a medalha.

Redimiu? Bom, não para mim. Como torcedor, posso dizer que foi a medalha mais amarga dos últimos oito anos (ok, não me lembro de medalhas amargas em Atenas-2004 e nem fiz um esforcinho para lembrar). Mesmo assim, o Tiago saiu como herói e blablablá. Ídolo de um país carente, de mania de grandeza e de bons resultados. Nada mais. Decepcionou e pronto.

A madrugada de terça para quarta-feira não teve medalhas, e praticamente nem teve o meu acompanhamento. Com sono atrasado e início de alguma síncope, achei melhor dormir cedo e me preparar para o desembarque do João Derly, em Guarulhos hoje de manhãzinha, para mais uma longa jornada trabalhista. Mas não é por isso que eu deixarei de escrever (pelo menos por enquanto) mais um capítulo das rapidinhas olímpicas. Ei-las:

Rapidinhas olímpicas

Discurso pronto: Disse o Tiago Camilo: “Para mim a medalha não tem cor. Tanto faz se é de ouro, prata ou bronze”. Pergunta agora pro alemão que ganhou dele e faturou o ouro se ele também acha isso? Eu tenho a leve impressão de que o germânico Olef alguma coisa não trocaria o ouro dele por nada, mas nem a pau.

Vale ouro: O Tiago decepcionou, mas o Eduardo dos Santos me agradou e muito. Desconhecido, venceu duas lutas por ippon, perdeu para um francês favorito na terceira luta... foi para a repescagem, meteu outro ippon e ficou perto do bronze. Foi eliminado na penúltima luta na decisão subjetiva dos árbitros e disse adeus à medalha, mas a entrevista dele pós-derrota me pegou de surpresa. “Não fui competente o suficiente para derrubar meu adversário, peço desculpa aos meus pais. Não adianta representar o Brasil e ser só o segundo colocado, tem é que ganhar o ouro”. Aprendeu, Tiago?

Mais uma da Andressa: Figurinha marcada nas últimas rapidinhas, a Andressa Fernandes já encheu o meu saco. Depois de dar piti para ir pra Pequim em cima da hora, ser eliminada com cinco minutos de luta e voltar para casa em menos de cinco dias, descobri que a judoca resolveu adiar seu retorno ao Brasil. Em sua conexão no Canadá, conseguiu trocar a passagem para o dia seguinte e passar 24 horas em Toronto. Um dia? Bom, dá pra ela pelo menos ganhar um carimbinho no passaporte.

Bola nas costas: Saiu no blog do Celinho e do Ferrelli, enviados da GE para Shenyang. O Anderson Nêga-Maluca, ex-Grêmio e hoje no Manchester, foi curto e grosso ao falar sobre o caso do conterrâneo João Derly: “Parceiro, isso não é comigo. Quem toma bola nas costas, toma bola nas costas. É a consciência do amigo. Foi levar o amigo para casa, se fodeu", resumiu (e bem) o Anderson.

Mau gosto: Desembarque do João Derly. Tinha conseguido falar com a simpaticíssima Gabriela, a gauchinha esposa do judoca, que respondeu muito bem a todas as minhas perguntas, até mesmo a mais chata sobre o caso do brasileiro com a ex do portuga corno. Só ficou chato uma hora, uns câmeras de uma emissora de televisão fazendo piada sobre o caso bem do lado dela. Poooxa...

Destaque da foto: Depois de aparecer para o mundo inteiro em uma foto ao lado do Zidane na favela de Heliópolis, no inesquecível 16 de março, voltei a figurar em uma foto durante um evento de imprensa. Desta vez foi no nosso concorrente GloboEsporte.com, do lado do João Derly. O problema é que eles trataram a foto e clarearam um pouco. Foi difícil reconhecer o meu polegar segurando o gravador.

Brincadeira feia: A notícia que escrevi com mais raiva até agora foi a farsa da Cerimônia de Abertura envolvendo aquela cantora mirim toda cuti-cuti que cantou a Ode à pátria. Mas não é que aquela guriazinha serelepe que era vista pelo mundo inteiro só estava fazendo playback? A dona da voz era uma outra menininha, que foi cortada em cima da hora do cerimonial porque era feia, e seu rostinho feio passaria uma imagem má da China para todo o mundo. Pelo menos para mim, a imagem chinesa piorou e muito com essa farsa.

Novidades?: Ah, ontem teve a final por equipes da ginástica brasileira. A Jade foi bem, até. E chorou, chorou, chorou e chorou. E o basquete feminino pipocou mais uma vez. Mas isso já não é novidade para ninguém.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (Os primeiros pódios)

Demorou quatro dias, mas finalmente o Brasil conseguiu suas primeiras medalhas em Pequim. Depois de ter ficado mal-acostumado com a chuva de ouro dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro do ano passado, o torcedor nacional acabou achando que as Olimpíadas seriam barbada. Nada disso; agora é que o bicho pega.

Mesmo assim, os brasileiros conseguiram um resultado que eu mesmo não esperava (e quase ninguém, para falar a verdade). Veio no judô, com a desconhecida Ketleyn Quadros, a primeira mulher a conseguir uma medalha para o Brasil em um esporte individual. Pouco depois foi a vez do Leandro Guilheiro, apelidado de 'pipoqueiro' no ano passado depois dos fracassos no Pan (onde ele disse que iria apenas para treinar, todo arrogante) e no Mundial do Rio. O judoca da categoria leve repetiu a dose da Ket (bem melhor esse apelido), levou o bronze e calou a minha boca.

Méritos pra ele, claro. Agora, toda a mídia está em cima do Guilheiro e da Ket, eles não saem dos QGs da Globo e o judô está na moda no Sportv. Mas resta alguma dúvida de que o Brasil vai ganhar alguma medalha nos próximos dias e ninguém vai nem lembrar dos dois medalhistas de bronze? Aliás, alguém se lembra quem foi que ganhou o primeiro ouro brasileiro no Pan do Rio?

Seja lá como for, as duas primeiras medalhas do Brasil em 2008 foram de bronze. As menos valiosas e que, segundo muita gente, não serve para nada. Mas... sei lá. Não sei por que, mas acho que as medalhas de bronze têm um charme especial. Desde 96, quando vi a minha primeira Olimpíada na íntegra, não achava tão ruim assim o prêmio bronzeado.

Até comemorava, do alto dos meus oito anos, quando um brasileiro ganhava um bronze. Para mim, era muito mais legal do que a prata (que era tão... cinza). O bronze é legal, e serve para coroar atletas que ralam pra caramba, surpreendem e conseguem até subir no pódio. Mas, é claro, a medalha de bronze me lembra muito esta música do Ultraje a Rigor.

E, ao som de Terceiro (se você clicou no link acima e deixou o YouTube tocar), vamos às rapidinhas olímpicas do dia quatro dos Jogos de Pequim. Agora, só faltam mais 13 dias para a minha libertação.

Rapidinhas olímpicas:

Chana nelas: Que me desculpem aqueles que não gostam de trocadilhos, mas a melhor parte da seleção brasileira feminina de handebol é ela – a gloriosa, a simpática, a sensacional, a experiente e não tão bonita Chana. A goleira, claro. De longe, ela é a principal jogadora do time verde e amarelo. Se o time tivesse várias Chanas, com certeza não permitiria o empate por 28 a 28 no segundo final contra a Hungria. Ok, essa piada já é mais do que batida, mas não poderia faltar por aqui.

Dona Rose, o retorno: Uma das figurinhas carimbadas do esporte brasileiro é a Dona Rose, mãe do Thiago Pereira. Na falta de matéria para pôr no ar, tasca uma reportagem da tiazona mala se esgoelando na beira da piscina como louca para o filho bater perna na piscina (como se ele ouvisse, né?). Não sei se a Dona Rose foi para Pequim, mas vendo a primeira luta da Ketleyn Quadros, percebi que o espírito da mãe do nadador atingiu a xará Rosicléia Campos, técnica da equipe feminina brasileira de judô. Nos segundos finais da luta, e com a Ketleyn vencendo a sul-coreana por um yukô, só se ouviam os gritos de “Chão! Chão! Chão!!” da treinadora, quase emendando um funk na China. À 1 da matina de domingo para segunda, enche um pouco o saco.

Indústria cultural: Intervalo de um jogo de vôlei de praia. Eu, acompanhando do Brasil a um ou outro jogo, tive a honra de ouvir tocar na arena artificial chinesa os versos “O Terrassamba é assim/Swing, swing, pra você e pra mim”. Tudo bem que ouvi Gera-samba em várias lojas durante minha passagem por Buenos Aires, mas... ok, a Argentina é aqui do lado e tal. Mas isso chegou na China? Puuuutz! Saiu até na Folha hoje uma reportagem sobre a trilha sonora dos Jogos: vai de Beatles a Latino, passando por AC/DC, Blur, Guns n’ Roses e ‘Mamãe eu quero’. Uma zona, né?

Ah, o Sportv...: Não tenho mais Sportv aqui em casa já tem uns três aninhos, desde que deu a louca no meu pai e ele resolveu tirar a Net. Admito que sinto falta do Canal Campeão nas madrugadas insones, mas isso não tira o mérito de que, assim como o no Pan de 2007, eles estão optando pela mesma medida no mínimo questionável: eles têm quatro canais para a transmissão de Pequim-2008, uma coisa bem legal... Mas por que diabos interrompem a transmissão dos outros três canais para mostrar uma luta de judô ou uma prova de natação que já está passando em um dos canais? Poxa, se o cara tá em um canal vendo badminton, ele quer ver badminton. Se ele quisesse ver a prova de natação, teria deixado no canal da natação. Mas... vai entender, né?

Português: Pode ser o atleta que for, desde Kobe Bryant ou Ronaldinho Gaúcho ao levantador de peso do Arzebaijão, que a visibilidade é mundial em uma Olimpíada. O mundo inteiro vai acompanhar uma notícia diferente, coisa assim. E não foi diferente com o judoca português Pedro Dias, que eliminou o bicampeão mundial dos meio-leves João Derly. Ele já tinha a visibilidade necessária para voltar como herói para a terrinha, mas não: aproveitou o estrelato para 'humilhar' o brasileiro: "Uma vez, em São Paulo, fui às compras com a mãe dele e, mais tarde, soube que, enquanto isso, ele estava com a minha namorada. Fui traído. Mas não apenas o venci. O Derly foi humilhado por mim no tatame", vangloriou-se. Boa! E agora o mundo todo sabe que você é corno, ó portuga.

domingo, 10 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (dias 1, 2 e 3)

A Cerimônia de Abertura das Olimpíadas começou às 8h08 da noite do dia 08/08/08 em Pequim (ou às 9h08 do mesmo dia aqui no país onde o Frank Aguiar é deputado federal) e eu, claro, não acordei para ver. Até tentei, mas mandei o despertador para o inferno e aproveitei para dormir um pouquinho mais.

Por causa da história sem fim que é uma abertura olímpica, no entanto, acordei a tempo de ver alguns discursos e as entradas de algumas delegações no Ninho de Pássaro. Mesmo depois de pegar um trânsito enorme no caminho do trabalho, cheguei à redação e ainda vi mais boa parte do cerimonial.

Também vi a tocha ser acesa e notar que acertei parcialmente meu palpite sobre a modalidade que praticava quem acenderia a pira olímpica: foi um ginasta. Mas ele não deu um duplo twist carpado e se escafedeu na mega-tocha. O Liminha (Li Ning, em chinês) decolou (com a ajuda de cabos de aço), deu um rolê pelo estádio, acendeu o pavio e pimba, estavam abertos os Jogos Olímpicos de Pequim-2008 (e... tá, vai; confesso que foi tão bonito como Atlanta-1996).

Mas não foi só a Olimpíada chinesa que começou. Com ela, a cacetada de competições, de assuntos e todo o resto também tiveram início. E meu sono e a minha criatividade tomaram caminho inverso. Ainda assim, as rapidinhas olímpicas ganham novo capítulo, com um apanhado dos dias 1, 2 e 3 dos Jogos. Vamos a elas:

Rapidinhas olímpicas

Queridinho da Globosat: Qualquer pessoa que acompanha o esporte um pouco mais de perto sabe que o Thiago Pereira é um nadador e tanto, mas... só isso. Não, ele nunca vai ganhar do Michael Phelps e nem vai abocanhar vários ouros em Pequim. E o César Cielo tem muito mais chances de pódio. Mas enfim... nada disso impediu o Milton Leite de anunciar o ‘duelo do século’ entre Phelps e Thiago na prova dos 400m medley. O resultado? Ah, o norte-americano tipo quebrou o recorde mundial dele mesmo em quase 2s, e o Thiago... bom, ele foi o oitavo dos oito competidores na final, a 2s do sétimo colocado (e a quase 12 do Phelps).

Miss Simpatia: Fui ao embarque para Pequim da Natália Falavigna, campeã mundial de taekwondo, no sábado. Estava esperando por uma mulher de sei lá, uns 1,80m que se abaixaria para conversar comigo e dar respostas atravessadas, mas me enganei. Fui recebido com beijinho no rosto e abracinho por uma linda atleta da minha altura, com um sorriso bem bonito e extremamente simpática. Ah, a Natália...

Flavia!?: A falta do que fazer me proporciona algumas idéias idiotas – como a de entrevistar pessoas na fila do check-in do vôo AC91 para Toronto (o mesmo da Natália). Bati um papo bem engraçado com uns palmeirenses que diziam conhecer sim a tal da taekwondista. “Sim, conheço a Flavia Falavigna sim”, me disse um deles..

Falta de jeito: Lá em Guarulhos também tinha uma outra mulher vestindo o uniforme de atleta brasileira – alguém que eu nunca tinha visto antes . Como já estava por lá, achei melhor não perder viagem e fui falar com a possível atleta. Mas... putz, como ia me identificar? Ia dar um belo dum migué e entrevistá-la sem saber nem quem ela era? Humm... achei melhor não, e fui sincero. “Oi, eh... qual o seu nome? Ah, Tânia Spindler? E... você compete em quê? Marcha atlética, ah, legal. Bom... desculpa, eu sou da Gazeta e deveria te conhecer, desculpa”. Mas a Tânia foi bem legal, e nem se importou com a minha falta de jeito. “Tem que perguntar mesmo, poxa. Agora você sabe que eu sou, não é mesmo? Agora já pode acompanhar a prova e torcer por mim”. Pode deixar.

Amarelada: A primeira grande brasileirada, digo, amarelada dos Jogos de Pequim foi de uma das minhas grandes apostas de ouro: o judoca gaúcho João Derly, bicampeão mundial dos meio-leves e que perdeu para um português esquisito logo na segunda luta. Créditos para a Carol, que apostou na cagada do Derly antes mesmo das semifinais. “Deveria estar mais esperto”, disse o judoca. Mas eu também deveria ser mais esperto, guri.

Quinze Cinco minutos de fama: Lembram-se da Andressa, a judoca que daria a volta ao mundo mais rápida dos últimos tempos? Então, ela estreou no sábado, no mesmo dia do Derly. Começou perdendo a luta, mas empatou antes do final e tudo levava a crer que a disputa seria decidida no golden score. Seria, porque a brasileira desencanou de lutar, levou uma punição nos instantes finais e foi eliminada de Pequim depois de cinco minutos. Legal foi a declaração dela após a derrota: "Culpa do clima aqui de Pequim, é muita poluição". Ah, vá!

Berreiro: Acordei no domingo e a primeira coisa que vi ao ligar a tevê foi a Jade Barbosa chorando. Chorou porque tinha errado o exercício e caído da trave. Depois ela se recuperou, conseguiu a classificação para a final do individual geral... e chorou de novo. Será que batem nela no intervalo das provas?

Baixo calão: Narrações do Silvio Luiz são impagáveis, e eu sei disso desde os meus quatro anos. Os bordões “jogou no pagode da área”, “olho no lan-ceeeee”, “ééééééééé (em vez de Goooooool)”, “foi foi foi foi foi foi eeeeleee”, “o craque da camisa número nove”, “eram jogados redondos...”, “confira comigo no replay”, “fungada no cangote” e “no paaaaaaaaau” são apenas alguns detalhes de uma transmissão engraçada. O que dirá, então, de um jogo de handebol feminino? Eu bem que achava que viriam várias piadas envolvendo a goleira brasileira, a Chana, mas não. O mito do jornalismo esportivo conseguiu passar um bom tempo da transmissão falando de uma atleta húngara, a Szamoransky (cujo primeiro nome é Piroska). E depois ficou imitando um francês falando o nome da Jade Barbosa: “Jadêi, jadêi, jadêi”.

Já deu, né?: Sou a favor de algumas piadinhas ou sacadas de humor em algumas notícias que permitem tais gracinhas, mas... é bom dosar, né? Um de nossos concorrentes não acha. Vi uma notícia do João Derly com o título 'Beijing, Beijing, tchau, tchau'. Engraçadinho até, boa tirada. Mas pouco depois vi que o site pegou pesado: outras notícias tinham a mesma piada, e até à capa a sátira se estendeu. Sabe ouvir a mesma piada várias vezes? Então...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (Antes da Abertura)

O mundo se prepara para a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos, aquela coisa extremamente bonita, ensaiada, com efeitos luminoso aqui e ali, show pirotécnico, show de cantoras internacionais, discursos, discursos e discursos de um monte de gente chata...

Até que começam os desfiles das delegações e todo mundo fica na expectativa da entrada da delegação brasileira. Assim que entra a bandeira verde-amarela-azul-e-branca e a gente fica tentando detectar alguns dos nossos ídolos, todo mundo começa a dormir e só acorda na hora de acender a tocha.

Só que ninguém sabe que, para que tudo isso funcione, um monte de gente ficou se matando que nem louco antes da cerimônia. Algo semelhante acontece no mundo do jornalismo esportivo, que vive seu quase-apogeu (nem vem, Olimpíadas não ganham de Copa do Mundo nem aqui muito menos na China): para você ver aquela cobertura maoumenos em tempo real e cheia de dados relevantes, teve gente que se matou, se matou e se matou. Prazer, Felipe Held.

Mas mesmo depois do meu dia mais estafante por causa dos Jogos de Pequim, arrisco umas rapidinhas pré-abertura das Olimpíadas. Vamos a elas:

Rapidinhas olímpicas:

Auto-entrega: Por causa da especial olímpica, acabei ficando na redação até mais tarde. E, conseqüentemente, não consegui ir ao Parque Antártica ver o Palmeiras aplicar um sapeca-iaiá de 3 a 0 no Vitória. Tá certo que a chuva e o trânsito caótico na Paulista às 18h30 me desanimaram, mas ainda assim os Jogos de Pequim começaram a atrapalhar a minha vida social. Hunf.

Formando opiniões. E revoltas: A Carol deu seus pitacos sobre pódios e amareladas no Nossa, Canossa. Mas hoje à tarde sentamos para discutir as modalidades em que o Brasil tem mais chances de medalhas em Pequim-2008. Promovemos o futebol, as maratonas aquáticas e os saltos ornamentais; rebaixamos o basquete e o tênis. Fiquei imaginando, depois, alguém do tênis de mesa ou da esgrima ganhando alguma medalha e declarando na entrevista pós-bronze: “E essa medalha vai para aquele site de esportes, que colocou que eu só ganharia uma medalha por milagre. Chupa, trouxa!”.

Vencendo na birra: A Andressa Fernandes chiou, reclamou, se estressou e chorou, mas conseguiu o direito de viajar para a China para substituir a Érika Miranda, cortada da categoria meio-leve do judô com uma lesão de última hora. Como dito aqui anteriormente, será a volta ao mundo mais rápida já registrada na história.

Maldição da tocha: Não suporto quase nenhum símbolo olímpico. Tirando um ou outro mascote engraçadinho, me enche o saco o slogan de uma competição, o logotipo... mas, é claro, nenhum deles ganha da tocha. A tocha é a coisa mais chata da cobertura olímpica. Ter que ficar noticiando que um foguinho passou por aqui, por ali... que um monte de rebelde desocupado tentou impedir que o foguinho passasse pela cidade...é um porre. Ainda bem que amanhã a maldita tocha vira pira olímpica e só volta dentro de quatro anos.

Acendendo a pira, lembranças: A mega-tocha é sempre acesa de um modo legal, se possível homenageando um grande tleta do país sede da competição. Em 92, o atirador com arco para-olímpico espanhol Antonio Rebollo disparou uma flecha incandescente em direção à pira, mas errou feio o alvo e o fogo surgiu por meio de um acendedor elétrico (tipo um de fogão em larga escala). Em Sydney-2000, a velocista australiana Cathy Freeman viu o mecanismo que levaria o fogaréu para o alto travar. Nos Jogos de 2004, menos show para evitar gafes, e o velejador grego Nikolaos Kaklamanakis botou fogo no aparato que mais parecia do Star Wars. Nada fantástico. Das cerimônias que eu já vi, a mais legal mesmo foi a de 96, quando o Muhhamed Ali, tremendo de Parkinson, incendiou alguma coisa que subiu para a pira por meio de um teleférico. Simples, bonito, tocante.

Acendendo a pira, previsões: O acender da pira olímpica é um show e tanto, e em Pequim-2008 o mundo vive a expectativa de como a pira vai ser acesa no feioso Ninho de Pássaro. Dada a tradição chinesa em alguns esportes, tenho alguns palpites: a). Badminton ou tênis de mesa: algum xinguelingue botará fogo em uma peteca ou em uma bolinha de pingue-pongue e a lançará do outro lado do estádio, até a pira, estilo Barcelona-92; b) Saltos ornamentais ou ginástica artística: algum chinezinho colocará fogo em si mesmo e, com uma acrobacia digna de nota 10, mergulhará dentro da pira: bonito, inédito, único, chocante... só que meio mortal, né? Melhor esperar, em vez de fazer prognósticos idiotas...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Rapidinhas olímpicas (Primeiros jogos)

Demorou, mas depois de quatro anos começaram (embora não de forma oficial) os Jogos Olímpicos de Pequim. Mesmo a dois dias da Cerimônia de Abertura, cujos detalhes são segredos de Estado na China para ‘surpreender’ o mundo, rolou a primeira rodada do futebol feminino.

É claro que eu não acordei às 6 da manhã para ver Marta, Cristiane, Formiga & companhia limitada darem os primeiros toques de bola em Shenynang (cidade a 700 km da capital chinesa) contra a Alemanha. Mas acordei a tempo de ver um lance que abre as rapidinhas olímpicas do ‘dia -2’ de Pequim.

Rapidinhas olímpicas:

Comemoração com estilo (e quase sem roupa): Responsável por sofrer uma goleada humilhante na Copa do Mundo feminina no ano passado, a Argentina conseguiu fazer bonito contra o Canadá na estréia de Pequim-2008: perdeu por apenas 2 a 1. A autora do tento das alvicelestes, no finalzinho do segundo tempo, foi Manicler. Assim que marcou o golaço, a argentinazinha ameaçou comemorar no estilo futebol masculino e quase tirou a camisa. Ficamos no quase.

Volúvel: Acordei a tempo de ver algumas jogadas da Cristiane, atacante brasileira eleita terceira melhor jogadora do mundo de 2007. Não sei por que, mas realmente gosto dela. Quer dizer, sei o porquê: no ano passado, quando a entrevistei, fui chamado algumas vezes de “meu querido” e “lindinho”. Como homem é fácil...

Mea-culpa 1: Fazendo uma reportagem de apresentação sobre a equipe de remo, fui pesquisar a data de nascimento do Anderson Nocetti, que competirá no skiff simples. Fui pego de surpresa com a data: 5 de março. Curiosamente, foi no mesmo dia em que eu o havia entrevistado. Legal que eu tinha pesquisado antes, né? Mas naquela época eu tinha outras preocupações, tentando agradar minha ex-namorada a qualquer custo. Deixei de conseguir alguma notícia mais engraçadinha, droga.

Mea-culpa 2: Ainda na notícia do remo. Senti uma necessidade enorme de preencher algumas coisas no texto com alguma aspa do Nocetti. Agora eu me pergunto onde diabos eu deixei o bloquinho de anotações quando eu mais preciso dele.

Jornalismo-exemplo: Saiu no Correio da Bahia uma notícia sobre o doping o Jaqson Kojoroski, cortado da seleção brasileira de handebol por doping (há quem diga por aí que a substância encontrada no exame foi maconha, mas a mãe do Jaqson, a Dona Mira, jurou que o filho dela é um menino de ouro), sob o título de “Fumaça proibida tira Jaqson”. Destaque para o lide: “Jaqson apertou e acendeu antes de estrear nos Jogos Olímpicos”. Tenho a impressão de que, se eu escrevesse uma matéria semelhante, assinaria “Felipe Held, direto do RH da Fundação”, prestes a ser demitido...

Defesa: Em seu blog especial para os Jogos Olímpicos o Renato Tupan, ponta direita da seleção brasileira de handebol, saiu em defesa do Jaqson: “Quero so deixar minha opiniao aqui, que foi e esta sendo uma sacanagem o tratamento que o jaqson esta recebendo em todo noticiario. Boato acaba tendo mais peso que verdade, que merda, que desagradavel, alguem se colocou no lugar dele e de sua familia?

Notícia do dia: Tirando o Correio da Bahia, ninguém mais se lembrava do Jaqson na quarta-feira. O grande destaque de hoje foi a desistência da Juliana, do vôlei de praia. Novidade? Nem tanto. Ela sofreu uma puta contusão grave no joelho direito no ano passado (daquelas que deixam um jogador de futebol seis meses fora dos gramados). Mesmo assim ela teimou de que poderia competir em Pequim. Não deu, e agora a Ana Paula, chamada às pressas, teve que abrir mão das férias em Los Angeles e embarcou às pressas para Pequim. Por causa da teimosia da Juliana, a Ana Paula vai pisar na China na sexta-feira treinar rapidão com a Larissa e competir já no sábado. Eh, várzea.

Legenda: Busca de foto da Ana Paula. Depois de acessar o site da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), meu editor chegou a esta imagem, da atleta ao lado de um coala. É claro que surgiram algumas piadas para que a foto fosse emplacada: “Ana Paula, que costuma pousar para fotos ao lado de coalas”, disse eu. “Ana Paula, fã de marsupiais”, emendou o Mané. Mas a melhor piada mesmo estava na legenda do site da FIVB: "Ana Paula Conelly (right) with a koala (...)”. Fico imaginando a dificuldade de um ser humano em plena sanidade mental em distinguir uma jogadora de vôlei de praia de um coala em uma foto...