domingo, 24 de dezembro de 2006
Na casa dele, compreensão
Se os primeiros 20 dias de dezembro são os melhores do ano, os 10 últimos conseguem ser os piores. É tudo parado, é toda aquela expectativa de chegar o Natal, trocar abraços e felicidades, embuchar todas as comidas exóticas que são feitas, encher a cara... essas coisas.
É estranho pensar isso agora, sendo que, sei lá, 10 anos atrás o Natal era o dia mais esperado do ano inteiro pra mim. Era o mais feliz e tal. Eu gostava mais do Natal do que do meu próprio aniversário. Talvez porque a cidade não ficava enfeitada no dia 22 de abril e tal. Ou porque a minha mãe não fazia tender ou porque meu tio não se vestia de Papai Noel.
Por outro lado, é bom. Ter essa sensação de que o Natal é o dia mais chato do ano, que dia 25 de dezembro em si é uma droga, é um dia de pura ressaca, tipo... não sei, talvez prove muita coisa. Faz uns três ou quatro anos que eu venho pensando sobre o sentido do Natal [é um tema bem besta, eu sei], e essa filosofia toda só se manifesta nessa época do ano. Em geral, só se manifesta a partir das 22 horas do dia 24. Há tempos que eu quero pensar assim e não consigo m expressar. Bom, acho que já fiz muitas cagadas ao longo dos 98 posts até agora, mais uma não será nada especial.
Não entendo o sentimento do Natal. Tá certo que Ele nasceu e tudo mais, e todo o mundo católico-cristão-ocidental deve comemorar. É até uma boa época de se comemorar isso, afinal, o mundo está de férias e tal. Mas por que cargas d’água a gente tem que trocar presentes? Vai aparecer alguém mais engajado, vai falar que os três reis magos deram presentes pra Ele. E como somos irmãos deles, todos devemos relembrar essa tradição milenar e o escambau. Certo, eu não vejo nada de errado (até porque eu não sou imbecil de falar que não gosto de receber presentes), mas...
Não que eu queira partir pro outro lado do engajamento, o do anti-capitalista malucão. Sinceramente, não me importo se isso tudo é uma farsa do comércio, do capitalismo ou da Coca-Cola. Juro, não tô nem aí. Quero que se foda tudo isso, não ligo pra Economia, pra cotação do Dólar (só na hora de fazer as conversões monetárias das contratações astronômicas no mercado europeu) e muito menos pro Socialismo. Anarquismo, então, pro inferno. Quatro anos atrás, até cheguei a pensar que algo assim seria o mais justo, mas... quem pensa assim, quem veste uma camisa vermelha com uma foice e com uma marretinha é um inocentezinho (pra não dizer babaca).
Enfim, não é esse o foco do meu pensamento. O foco é por que diabos a gente deseja um Natal repleto de luz, alegria, harmonia, paz, tranqüilidade, riqueza e, claro, amor? Porra, é um dia só! É um dia em que ninguém sai de casa, todo mundo fica em volta da mesa enchendo a pança de carnes malucas, frutas que não são frutas e bebendo champagne [falam que champanha é o certo, mas é esquisito demais – pra não falar ridículo pra cacete]. Por esse motivo que eu sempre achei as felicitações do Ano Novo mais reais do que as do Natal. Sério! Afinal, são pra um ano inteiro. As do Natal são pra menos de um dia!!!
E é estranho uma porrada de pessoas me desejando o melhor dia de todos da história do universo sendo que elas muito provavelmente não se lembram de mim nem uma vez por mês [bem como eu não lembro delas, fato]. No entanto, se você passa a noite feliz com a sua família, releve este parágrafo. Eu falo isso porque minha família deixou de existir depois que a minha avó morreu.
Uau, que piração. Um monte de besteiras, pra falar a verdade (isso porque eu não falei no clichê-mor natalino, aquela coisa de que as pessoas ficam dando presentes umas pras outras, desejando o bem pras pessoas que já são muito bem abastadas e os pobres que se fodam. Não me convém falar isso, mas acho que qualquer blog de algum punkzinho que se acha mais engajado socialmente vai ter todo esse discurso. E, claro, o bordão “papai noel filho da puta rejeita os miseráveis. Eu quero matá-lo, aquele porco capitalista! Presenteia os ricos, cospe nos pobreeees!”). Mas não importa. Quer dizer, o Natal tá logo aí e... e...
E é isso aí.
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
Três, dois, um; yeah!
Minha disposição em escrever sobre todos os meus dias tá tomando esse caminho. A minha folga em levar uma vida completamente desregrada, acordar ao meio dia e tudo mais também.
Muitas, muitas amizades terminam. Fui ao show do Los Hermanos semana passada e eu sabia que uma amiga minha ia estar lá. Quer dizer, como éramos amigos, tinha certeza de que ela estaria lá. Por um momento, até pensei que seria legal a gente se encontrar, e trocar um abraço. Depois não. É melhor deixar acabar. E voltar àquela história de que, se a gente se encontrar, o certo é só falar oi e perguntar se está tudo bem. Não se deve nem dizer, na despedida, "a gente se vê". Pela consideração que a pessoa tem, não seria certo mentir.
Meio mundo termina para mim antes de sequer começar de verdade. E pra eles eu falo que a gente se vê; não preciso ser muito verdadeiro com eles.
quinta-feira, 30 de novembro de 2006
Faz sete anos
Era o jogo mais importante da minha vida, como eu disse. E meu coração bateu pesado quando o imbecil do Giggs cruzou na área, o Marcos deu tchau e a bola sobrou pro idiota do Roy Keane. Meu coração bateu mais pesado ainda quando o Oséas perdeu um gol feito na cara do Bosnich - que, porra, nunca pegou nada na vida. Só naquele jogo, nunca mais. Quando o juiz terminou o jogo, eu não consegui fazer muita coisa. Com um olhar meio perdido, fui para o meu quarto, deitei na minha cama e fiquei pensando, e pensando, e pensando. Não chorei, como quase todo mundo o fez.
Chorei mais tarde, quando minha mãe ligou. A primeira coisa que ela perguntou foi "E o Palmeiras, hein?". Não tinha muito o que falar, então só falei "Eh...". Depois ela disse que a minha avó tinha piorado no hospital. Tinha ido pra UTI e tava respirando com a ajuda de aparelhos. "Mas vai ficar tudo bem, eu prometo. É só pra não forçar nada". Disse "aham" e desliguei o telefone. Chorei, chorei bastante. Sempre que aparecia na tevê alguma notícia de pessoas respirando por aparelhos, minha mãe falava "Quando é assim, não tem mais nada pra fazer. A pessoa já morreu". Minha mãe é médica e nunca se enganou quanto a isso. Então eu não me enganei sobre a minha avó.
Alguns dias depois - no dia 4 de dezembro, outro dia em que sempre acontece alguma coisa -, ela morreu. Chorei menos do que tinha chorado no dia 30. Sei lá, acho que eu já tava esperando isso acontecer. Não tinha muitas esperanças.
Minha avó sempre dizia que não ia ver eu me formar. Ela tinha só 69 anos e tinha a melhor saúde que uma velhinha de 69 anos podia ter [Pra falar a verdade, quando ela fez 69 anos, eu senti algo esquisito. Meu avô também morreu com 69 anos. Sei lá, depois disso eu comecei a achar que as pessoas não tinham o direito de viver até 70 anos. Pelo menos na minha família]. Ela sempre dizia que não ia ver eu me formar no colegial. Não viu.
Ela também não viu eu entrar na faculdade. Não viu eu conseguir um emprego. E não vai ver eu começar no meu emprego amanhã.
Como meus pais tinham acabado de se separar, a minha avó era a única pessoa que fazia parte da transição da minha vida dos 10 para os 11 anos. Sem ela, sei lá, talvez eu não teria feito muitas coisas.
E a gente nem pôde se despedir.
sábado, 25 de novembro de 2006
Apague as luzes e seja feliz
quarta-feira, 22 de novembro de 2006
Não, não morreu
terça-feira, 21 de novembro de 2006
Mais completamente ainda
sábado, 18 de novembro de 2006
Os patos
terça-feira, 14 de novembro de 2006
Papo, pinga e petisco
sábado, 11 de novembro de 2006
Um, dois, três... ok, próxima.
quinta-feira, 9 de novembro de 2006
Na frente de todos
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
Alegria, enfim
terça-feira, 7 de novembro de 2006
Os novos sons do Weezer
sábado, 4 de novembro de 2006
Feriado
quarta-feira, 1 de novembro de 2006
Réquiem
Quarenta e cinco para sair ver o túnel de luz.
Três horas e quarenta e cinco minutos para, se tudo der certo, voltar para casa.
Três dias para tudo passar.
O problema é que três dias não passam tão rapidamente assim. Mas, como da primeira vez, vou tentar ser o herói de sempre.
Sem calmantes, sem drogas, sem psicólogos. Sem Diazepan, Mandiopã, Éter, Cocaína, alegria...
Se eu ficar quatro dias sem postar, desejo que doem meus órgãos. Desejo que minha guitarra seja doada para o fundo de caridade de rockeiros doidões órfãos. E que meu baixo vá para o retiro dos rockstars. Meu violão - que eu nem sei onde está - pode ser leiloado. Ele deve valer alguns trocados, a acústica dele é boa.
Meus livros podem ser todos trancados em uma urna protegida contra bombas. Daqui dois milhões de anos, os marcianos vão querer ler Harry Potter.
Minhas camisas e meus pôsteres do Palmeiras também vão nessa urna, mas não sei muito bem por quê.
E se alguma boa alma souber que esse blog existe, que faça um apanhado e publique um livro de auto-ajuda. Vai ser bem útil.
E se esse livro for publicado, toda a sua renda deve ir a alguma instituição do tipo Sem-Siso Anônimos. Ou para os Medrosos por Cirurgia Anônimos. Ou para os Pseudônimos Anônimos...
E se essas instituições não existirem ainda, que sejam fundadas em minha memória.
Até logo. Eu espero.
terça-feira, 31 de outubro de 2006
Pra ninguém me acordar
segunda-feira, 30 de outubro de 2006
O Homem Sono
Às sete da manhã, eu e o Ivonaldo acordamos com um ruído estranho, semelhante a um PT alheio. Olhamos para o lado e vimos o Bixo de JO em posição de gorfo, com sons de gorfo... mas não era nada além de um sonho de gorfo. Exatamente: o jovem sonhava que estava a vomitar. Após umas vinte contrações, o sonho cessou e voltamos a dormir. Mas o Ivonaldo com muito mais medo, já que estava ao lado do sonhador: Ele vai gorfar em mim, eu tou a menos de 2 metros dele!
O sono de todos era profundo até Marcos Mion e sua trupe invadir todas as salas acompanhado da bateria e de um megafone que tocava Titanic. E isso não deixava ninguém dormindo. Todos, menos um: Ele.
A sala era a primeira à esquerda da escada pro primeiro andar. Com a invasão do monitor marfinense, os que lá estavam tiveram seu sono interrompido com a algazarra alheia. Terminada, todos os baderneiros saíram. Os três últimos, que ainda se divertiam balançando uma barraca, olharam para o canto e viram o nosso querido herói jogado sobre sua mala, com a cabeça apoiada na lousa e sem despertar de seus sonhos. Foi o suficiente: Dormiu na lousa, dormiu na lousa!
Estavam certo. E lá ele continuou imóvel, estático... E com sono.
Acordei não muito tempo depois, por volta das 8h30min. Ivonaldo, com medo, nem dormir conseguiu. Descemos, tomamos o café da manhã e voltamos para o quarto para ver como estava o nosso amigo. Ele não jazia mais sobre as malas, estava tentando levantar. Apoiou-se, sem muito equilíbrio, em uma cadeira. Estava ajoelhado. Segurou com os dois braços nos pés da cadeira, encostou a cabeça sobre o assento... E lá ficou. Dormindo.
Rindo – e muito – colocamo-lo sentado e fomos para o corredor conversar e ver as gostosas que acordavam. Esporadicamente, íamos ver o estado daquele que dormia profundamente. Ele estava bem, estava com a cabeça apoiada nas palmas das mãos e sonhava sabe-se lá com o quê. Foi assim que o deixamos e fomos ver na lanchonete o jogo de Portugal.
Assim que o juiz apitou o fim do primeiro tempo, voltamos. E lá estava ele, sentado e dormindo. O relógio já marcava quase 11h e ele se mantinha imóvel. Colocamos nossas camisetas coloradas e fomos ao estádio ver a final do futebol de campo. Lá na arquibancada, logo no começo de jogo, qual não foi a minha surpresa ao ver algo vermelho meio cambaleante chegando. Ah, ele não tinha morrido!
Tá certo que a final não foi o melhor jogo do mundo, ainda mais com a vitória do Mack... Mas pelo fato de estar perto da bateria, pelo menos em pé a gente ficava. A gente, não ele. O garoto dormia. E muito.
Depois fomos almoçar. Mé, ele e eu. O Itiban não tava lotado, mas o que estava interessante era o Gana x República Tcheca na TV. Jogão, jogão! Todos entretidos... menos o nosso companheiro que dormia. Isso, dormia.
Aí ele voltou pro alojas. Umas 14h, mais ou menos. E capotou. Só acordou às 21h, comeu um x-salada... e só então ficou bem, só então acordou. Depois de dormir 14 horas seguidas. Depois de dormir na lousa, dormir na mala, dormir ajoelhado, dormir sentado, dormir no estádio, dormir na lanchonete, dormir no chão, ele agora é lenda. O nome dele não interessa, mas ele se tornou o mito do Alojamento ao afirmar que não ouviu bateria nenhuma entrar na sala.
Sim, ele é o mito. Ele é o Homem Sono!
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Esse texto já é velho. Mas é bom eu acabar postando tudo aqui, já que a iminência de uma cirurgia não muito eminente pode pôr tudo a perder.
sábado, 28 de outubro de 2006
Ele não precisava vender canetas
quinta-feira, 26 de outubro de 2006
Uma carta
[e me chame de pato. Ou emo. Ou trouxa]
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Esta é a última carta que vou lhe escrever
E poderá chorar ao saber que ela foi feita pra você. Só você.
É triste quando ajo mal e dizem que não vai vir
Ou quando estamos juntos e você tem que ir
Então corro pra janela e de longe poderá me ouvir chamar
Tentei ser o melhor que consegui
Mas não era o bastante porque eu menti
Como poderei chorar se nunca sorri?
Passei o ano inteiro a te esperar,
Me deprimi com a certeza de que não virá
E de que não nos veremos mais porque cresci...
Não há mais porque viver sem acreditar em você
É injusto o fato de não podermos estar juntos,
Mas saiba que sempre estarei esperando você me visitar
Dói-me ao ver de longe você com outro
Entre pedidos, juras, beijos e abraços...
Prefiro nem imaginar se pudesse eu estar em seus braços
Percebo que talvez não sinta mais minha falta
E que encontrou outro que te divertirá
Pois te vejo em seu carro com sua risada sempre mais alta
Poderíamos ter nos dado bem
Mas fui obrigado a te deixar
Agora vou só chorar. Só chorar
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Agora releia. Pense apenas no Papai Noel, que é pra quem isso foi escrito.
[e me chame de idiota, imbecil ou coisa que o valha]
Pois é...
Eufemismos para uma vida saudável
No entanto, eu prefiro ser sincero. E aí é que entra em jogo o eufemismo. Eu sou sincero, tal, mas a sinceridade pode ser suavizada. Segundo a Wikipedia [que vai ser, em breve, - ou que já está sendo, não sei – o maior terror de todos os professores em trabalhos escolares], essa droga toda significa uma figura de estilo que consiste em suavizar a expressão de uma ideia modesta, substituindo o termo contundente por palavras ou circunlocuções menos desagradáveis ou mais polidas.
Seja lá o que for, é o que vem fazendo parte do meu cotidiano. Eu explico. Empiricamente, com alguns exemplos do meu dia de hoje:
-x-
Situação I
Uso: Seus amigos perguntam em quem você vai votar.
Eufemismo: Ah, não sei. Tô em dúvida. Mas de uma coisa eu tenho certeza: anular eu não vou.
Tecla SAP: Então, eu vou votar no Lula. No PT, sabe? Vou acordar no domingo e vou falar 'É Lula de novo, com a força do povo!'.
Explicação Lógica: Sinceramente, não dá pra ter alguma dúvida entre Alckmin e Lula. Eles são completamente – e teoricamente – opostos!
É a mesma coisa que você dizer, por exemplo, que não sabe se vai torcer pra Palmeiras ou Corinthians, e não quer que o jogo empate. No fundo, ela tem uma preferência.
Mas tudo bem, é aceitável esse eufemismo. Já pensou se a outra pessoa é daquelas pessoas que, quando o assunto é política, se transformam em um Edir Macedo e sentam o pau em tudo do mundo? E também que, em tempos de hoje, votar no Lula não é uma decisão lá muito acertada.
Mas o eufemismo é bom. Eu faço uso dele todos os dias. Porque, sim, eu vou votar no Lulalá.
-x-
Situação II
Uso: Salas de aula, em geral.
Eufemismo: [x] (a pessoa simplesmente não fala nada)
Tecla SAP: "Tem alguma coisa errada entre a gente, tá faltando comunicação. É, eu sei. E a falha vem daí pra cá. Eu não vou falar nada pra depois ser acusado de chato, chiclé ou coisa que o valha. Mas acho que a gente tem que conversar. O mais rápido possível."
Explicação Lógica: O cara é um perfeito panaca e não pode fazer muita coisa. Além de tudo, é orgulhoso para chegar nas suas melhores amizades [que duram 15 dias, se muito] e falar que precisa de alguém para conversar. Ou que a amizade não tá tão amizade assim [seja lá os motivos relacionados], e é preciso conversar.
Mas ele é um panaca. E faz do silêncio um eufemismo. É o melhor que ele faz. Depois vão e falam que ele é um fresco e tudo mais. Coitado.
-x-
Situação III
Uso: Seu time está brigando para fugir do rebaixamento e enfrenta o seu maior rival, na mesma situação. Você tem porque tem que ver esse jogo. Para isso, tem que deixar a faculdade mais cedo, mas a presença na aula perdida é fundamental.
Eufemismo: Professor, eu tenho um compromisso inadiável. Não vai dar pra ficar na aula hoje, e eu tô meio assim nas faltas da aula do senhor. Eu queria muito, muito ver a sua aula, mas é que não vai dar mesmo. Desculpa.
Tecla SAP: O Verdão vai jogar, cara, e eu tenho que ver esse jogo. Descola a presença aí, vai, não te custa nada! Quebra essa, professor!
Explicação Lógica: Você tem que ver o jogo, porra!
-x-
Situação IV
Uso: Situação III. O seu time perde por 1 a 0, é ultrapassado pelo rival e, agora, beira a zona do rebaixamento. Além de tudo por que você passou para ver o jogo, a partida foi uma bosta. Seu tima não fez porra nenhuma e você perdeu duas horas de sono.
Eufemismo: Eh...
Tecla SAP: Bando de filhos da puta! Vai tomar no cu, caralho, que bando de filhos da puta! Enfia a bola no cu, arrombados de merda! Até minha avó perneta jogaria melhor do que vocês, cacete, vai tomar no cu! No cu, filho da puta! Filho da puta, filho da puta,...
Explicação Lógica: Você é um cidadão, não fica falando palavras feias assim, ao vento. Se você pelo menos estivesse frente a frente com os jogadores do time, vá lá...
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Situação V
Uso: Situação IV. Ao voltar para casa, moleques de rua - e com cara de trombadinhas - te abordam no metrô e pedem algum trocado.
Eufemismo: Tô voltando pra casa, brother, valeu.
Tecla SAP: Porra, vai tomar no cu! Eu passei o dia todo fora de casa, trabalhando, e depois fui ver a merda do jogo da bosta do meu time. Tô nervoso e você ainda vem me pedir dinheiro? Vai trabalhar, vagabundo!
Explicação Lógica: Você está cansado e com dor de cabeça, não quer discutir. É melhor chegar em casa logo e dormir...
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Situação VI
Uso: Situações II, III, IV e V
Eufemismo: este post
Tecla SAP: Puta que pariu, que dia de merda!
Explicação Lógica: Falta de criatividade e tudo mais.
-x-
Enfim, você percebeu a necessidade dos eufemismos na vida de um cidadão de bem. De um herói. Ele é sincero, não mente pros pedintes e muito menos para suas amizades intensas e com prazo de validade curto.
Sim, um herói. Imagine quantos conflitos não foram evitados assim! E quantos não seriam evitados se todo mundo pensasse assim?
Ah...
domingo, 22 de outubro de 2006
Tema da vitória
Assim que se lembrou de que se olhava no espelho, Felipe viu o que se passava. Embora o olhar sonhador fosse o mesmo de 13 anos atrás, a principal diferença era que, hoje, tudo era real. E a euforia se mantinha. Fato.
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
Imaginar, sonhar.
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
Uma vida [mais ou menos] regrada
Às 8h30, Álecs abriu seus glazis e, em seguida, empurrou para o lado a janela de seu quarto e pôde ver um sol meio tímido, que preferia se esconder atrás das nuvens. Ligou a tevê, procurou por um programa interessante. Deu graças a Bog por a chuva começar e o dia ficar mais animado. Então deixou a janela aberta, ficou vendo a água cair solta e colocou algumas músicas para tocar. As músicas da velha banda a rigor que serve de trilha sonora no fim de ano.
Álecs fez a barba, tomou banho, reacertou a barba, deitou em sua cama e voltou a ler o livro. Foi para a faculdade mais cedo - decidiu enfim chegar no horário. Pegou o metrô mais lotado e leu o livro. Chegou na sala vazia e leu o livro. Começou a aula maçante e leu mais o livro.
Quando finalmente voltou para casa, viu que estava na página 174 e o livro já estava no final. Depois de um dia sem muito o que fazer - as mesmas decepções de sempre, ó, druguis -, sentou-se e se pôs a escrever.
Pensou, observou, analisou, concluiu. Quando foi escrever; ar ar ar.
Repensou, reobservou, reanalisou, reconcluiu. Ar ar ar.
Ar ar ar.
Ar, ar, ar.
Nada.
domingo, 15 de outubro de 2006
Pita, o eremita
"Jaz aqui Pedro Veroveraar, o Eremita. Alguém que tentou se isolar e, para isso, se interiorizou. Encontrou coisas muito importantes sobre si mesmo e reconheceu quem era. Viveu sozinho, entendeu e descobriu o mundo. Mas nunca se descobriu e muito menos se entendeu. Nunca soube seus dons e nem o que lhe era valioso. Nunca soube quem era. Morreu sozinho, recluso em seu paraíso niilista. Era dono de sua imaginação, que fazia com que tivesse um nome diferente a cada dia e a cada relato."
quinta-feira, 12 de outubro de 2006
Era você!
Guilherme sabia que o livro com a capa cor-de-rosa, por mais desagradável (a história de machismo no mudo das cores. Ele não está errado sozinho, a sociedade inteira está) que pudesse parecer, seria interessante. Mais interessante do que o livro que Guilherme comprara no mesmo dia e que tratava sobre a adolescência. As queer as a clockwork orange, anunciava o prefácio. No entanto, o jovem de 18 anos optou pelas crônicas, sabia que seriam mais interessantes. Em menos de 12 horas, leu todas os 34 contos que recheavam as 132 páginas do livro.
À noite, Guilherme saiu. Recebera um convite interessante, rever a amizade que norteara seu final de 2005 em meio a tantos transtornos e que o ajudara para o mundo universitário que o ocupa suas noites todos os dias. Saiu, e sabia que o jantar seria engraçado. Sabia que faria de sua vida um livro aberto, sabia que daria risadas e também sabia que não queria que o jantar tivesse fim.
Guilherme, quando saiu de casa e passou pelo metrô, lembrou-se de que há mais ou menos um ano, encontrara, naquela curva que faz entrada para a estação, encontrara seu amigo jogado, bêbado e sozinho. Quando virou, procurou e não achou ninguém. Embarcou, foi até muito longe, jantou, contou histórias, divertiu-se e viu o jantar terminar.
Na volta, nada de muito especial. Ih, será? É, nada muito especial que valha caracteres por aqui. Quando saiu da estação, pela mesma porta por onde entrara, lembrou-se melhor: "foi mais ou menos a essa hora que eu tinha encontrado o César", pensou com os botões. Assim que saiu das escadas rolantes, viu o espaço onde as pessoas se encontram completamente vazio. "É, acho que eu me enganei. Tudo bem. Se eu acertasse de novo, teria que ir correndo jogar na Sena", brincou o garoto.
[brincar não é bem a palavra exata. Vivendo a nostalgia que o açoita nos últimos meses, ele sente vontade de brincar. Foi sozinho ao zoológico recentemente a fim de reviver os oito anos de idade e não conseguiu. Isso foi só um adendo, voltemos]
"Hoje é feriado, né? Ele não estaria jogado por aqui de novo. Hoje é dia de levar vodca pra casa e encher a cara lá, depois assistir a um filme, dar assas à imaginação e tudo mais. É, não é muito essa vida que eu quero levar", finalizou. Andou pela rua escura, perdido em alguns pensamentos que sempre recheiam sua cabeça enquanto anda pela civilização.
[Ah, agora eu lembrei de um detalhe da volta pra casa, enquanto estava no metrô. Achou ter visto um garoto de boné - com o mesmo boné de César - alguns bancos adiante. Olhou melhor, não era. Voltemos. De novo]
Andou pela rua escura, perdido em alguns pensamentos que sempre recheiam sua cabeça enquanto anda pela civilização. Foi quando viu, andando pelo meio da rua, o garoto de boné preto e branco, bermuda longa e moletom azul. E que foi para a calçada quando viu o amigo indo na direção oposta. Guilherme fingiu não ver, fingiu estar absorto em pensamentos - como sempre faz quando vê algum conhecido de longe - e só levantou a cabeça quando César lhe estendeu a mão.
- E aê, arrombado! - disse o amigo.
- Opa! - cumprimentou Guilehrme.
- Tô indo pra casa.
- É, eu também.
- Tá morando por aqui, agora?
- Não. Tô na casa da minha mãe... - pausa - ... é o final de semana que eu passo com ela.
- E onde você tava? - perguntou César
- Ah, tipo... eh... ah, eu tinha saído. Tinha ido jantar. Eh... ah, é, eu tinha ido jantar, tava num rodízio de sushi. Eh... - Guilherme tinha tanta coisa para falar ao amigo que não via há quase um ano. Ao melhor amigo de dois anos atrás, ao amigo que, com mais dois meses de convivência, seria chamado de irmão. Não contou porque supôs que suas palavras não teriam importância para o ouvinte. E também porque aprendeu a ter um orgulho idiota. Só contaria algo se fosse indagado.
- Você gosta de sushi? - supreendeu-se César
- Eh... gosto. - afirmou Guilherme. Na hora, lembrou-se de um convite que o amigo lhe fizera, dois anos atrás, para ir a um rodízio de sushi. E também se decepcionou pela desmemória de César.
- É... bom, tô indo pra casa. Amanhã eu trabalho. - finalizou o amigo
- Então... falou.
Guilherme até pensou em balbuciar um "a gente se vê", mas preferiu ser sincero com o conhecido. Ia voltar para casa, enfim, até que se lembrou de um combinado.
- Êi, você não respondeu meu e-mail!
- No hot?
- Quê?
- Você me mandou no hotmail?
- Isso.
- Não, não chegou. Manda de novo.
- Recebeu sim, tanto é que eu te mandei três.
- Quê?
- Eu te mandei, você respondeu. Depois mandei mais um, e você também respondeu. Aí eu mandei mais um e você não respondeu. - e virou as costas.
- Aaaaaaaaaaaaahhh! Era você?
Guilherme estava certo. Certo de que encontraria o amigo, certo de que ele não saberia quem era o ser estranho que lhe mandava e-mails, certo de que suas dicas não foram entendidas. Guilherme sabia que isso era um pouco excêntrico de sua parte, mas queria brincar com César. Brincar de adivinhações. "Ele não fala holandês, como saberia como é 'herói' nessa língua? Quer dizer, ele podia usar o Altavista, mas... é, eu sabia que ele não iria atrás. Mas eu queria ter me enganado", lamentou.
Guilherme voltou pra casa, sabendo que daria risada do que acontecera. Pelo caminho escuro - de 600 metros - que separava sua casa do lugar do encontro inusitado, voltou rindo. Riu mais ainda quando viu uma mulher passando, com um decote enorme, e um homem atrás carregava o filho no colo. E sussurrou no ouvido da criança de quatro anos: "Olha, que mulher gostoooosa!". Sua risada foi um pouco mais intensa quando passou na frente do antro - do puteiro, porra! - da rua e viu um homem descendo de um caminhão e entrando na casa luminousa. Isso não era engraçado, mas foi engraçado quando o jovem de 18 anos passou na frente do caminhão e viu que havia um garoto de uns 10 anos de idade dentro do veículo. E o moleque tava com uma cara de entediado!
Guilherme sabia também que o porteiro estaria dormindo e demoraria para abrir a porta do prédio. Sabia que o elevador estaria em um dos últimos andares, sabia que a família estaria dormindo e também sabia que seria recebido com festa pelo cachorro.
Guilherme parou na frente do prédio e teve que tocar o interfone para acordar o porteiro. Quando passou pelo hall, viu que o elevador estava no oitavo andar e subiu de escadas [Guilherme, não o elevador]. Teve dificuldades para abrir a porta de casa (a fechadura tem emperrado muito), então fez barulho com a chave, acordando o cachorro. Assim que o gartoo abriu a porta, o cachorro latiu, balançou o cotoco de rabo, pediu carinho e lambeu sua mão. Foi para o seu quarto, e percebeu que sua mãe e seu irmão já dormiam.
Guilherme, então, decidiu registrar seu dom. Guilherme sabe que tem um dom de saber as coisas, embora também saiba que a sua cabeça não se dá muito bem com o coração. A relação dos dois não é das melhores, então Guilherme não sabe o que se passa em sua vida afetiva.
Ligou o computador e a televisão e abriu um livro. Começou a escrever sobre seu dia e suas aventuras, enquanto procurava por um poema que ilustrasse algum dos acontecimentos recentes e ligou a tevê para fazer barulho no quarto.
Achou uma poesia, Estrada, e gostou dos últimos versos:
"E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E a mocidade vai acabar."
Enquanto isso, o telejornal noticiava: "O dia das crianças animou os lojistas". Guilherme se lembrou de que o dia que terminava era o dia das crianças. E lembrou-se de quando recebia presentes e da expectativa que vivia nos dias antes e o prazer que tinha quando desembrulhava os embrulhos...
Guilherme passou o dia sem lembrar da importância da data, embora tenha discutido com um outro amigo sobre o dia de Nossa Senhora. Não se lembrou de que hoje era o Dia das Crianças, ninguém o havia congratulado por isso. Guilherme, então, entendeu que a mocidade acabou.
E Guilherme se chateou enquanto escrevia, porque se lembrou de outra coisa: "É, o César também esqueceu quando o pai dele me chamou para almoçar num restaurante japonês e eu disse que adorava sushis. Hmmm, eh... "
Guilherme se aborreceu. Mas foi porque não sabe que é feliz. E não sabe que aquela sensação boa que ele sente quando olha para os seus pulsos e vê que suas mãos estão sempre lá é felicidade. A única coisa que Guilherme sabe é que seu nome não é Guilherme.